Economia

Gastos do governo e das famílias salvam PIB

Economia brasileira contraria previsões, surpreende e registra retração de apenas 0,8%

postado em 10/06/2009 08:27
As medidas adotadas pelo governo federal para ampliar gastos públicos e estimular o consumo das famílias foram vitais para amenizar os efeitos da crise econômica mundial sobre o crescimento do país. Contrariando as previsões, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou queda de 0,8% no primeiro trimestre deste ano ante os três meses anteriores ; ficando abaixo das estimativas de mercado que chegavam à perda de até 3%. Na comparação com o primeiro trimestre de 2008, o tombo foi de 1,8%, posicionando o PIB brasileiro no 13º lugar entre 41 países, segundo ranking da Austin Rating. Mesmo surpreendendo positivamente, o número divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou que o país se encontra em recessão técnica ; dois trimestres consecutivos de PIB negativo ;, o que não ocorria desde 2003. Porém, mostra que há esperança de crescimento neste ano. Assim que a crise mundial eclodiu, em setembro do ano passado, a equipe do presidente Lula anunciou uma série de medidas para estimular a economia como redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na venda de automóveis, criação de novas alíquotas para a cobrança do Imposto de Renda e atualização da tabela. Além disso, liberou parte dos depósitos compulsórios para irrigar a economia com crédito. Com essas iniciativas, e mesmo em um cenário de aumento do desemprego, as pessoas se sentiram incentivadas a consumir. No primeiro trimestre, os gastos das famílias avançaram 0,7% na comparação com os três meses anteriores. De acordo com a técnica em Contas Nacionais do IBGE, Cláudia Dionísio, o consumo das famílias vem desacelerando, mas ainda ficou positivo porque o crédito está sendo retomado e a massa salarial ainda é positiva. Os dispêndios do governo com a administração pública também ajudaram. Devido em parte ao aumento dos servidores, os gastos públicos subiram 0,6%. Na comparação entre o primeiro trimestre de 2008 e 2009, os dispêndios das famílias foram ampliados em 1,3% e os da administração pública, 2,7%. ;Mas novas ações de estímulo pelo governo não terão como sustentar a atividade econômica no longo prazo. Há um limite;, afirmou o economista do grupo Santander, Cristiano Souza. Do lado da demanda interna, essas foram as únicas contribuições positivas para o PIB. O investimento despencou 12,6% no trimestre, a maior redução desde 1996 quando o IBGE iniciou a série. Em percentuais do PIB, a taxa de investimento recuou de 18,4% nos três primeiros meses de 2008 para 16,6% neste ano (leia mais na página 13). ;Isso é natural por conta da crise. Muitas filiais acabam remetendo recursos para fora ao invés de investir;, afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. ;A taxa de investimento teve forte queda por conta da mudança de cenário e aumento das incertezas por conta da crise;, comentou a economista da consultoria Tendências, Marcela Prada. Retomada lenta Dois setores foram responsáveis pela forte discrepâncias entre o número do IBGE e as estimativas de mercado. Um deles foi a indústria. Os sinais de retomada ainda são tímidos e os analistas esperavam números mais negativos que os apresentados pelo IBGE. Somente no primeiro trimestre, a queda foi de 9,3% ante igual período de 2008. A maior baixa foi registrada na indústria de transformação, que despencou 12,6% ; maior queda desde 1996. Outra forte retração foi verificada no setor de construção civil, que encolheu 9,8%. O desempenho do setor de serviços também desmentiu as projeções dos economias, sendo o único a ter resultado positivo (1,7%) no trimestre. Os negócios foram puxados pela intermediação financeira e seguros e serviços de informação. No período, o setor da agropecuária recuou 1,6%. Mantega estuda novos incentivos A equipe econômica está estudando medidas para incentivar os setores de bens de capital e de eletroeletrônicos. Na avaliação de técnicos do governo, se a indústria de bens de capital sofrer um forte desaquecimento por causa da redução dos investimentos dos demais setores, a recuperação da atividade produtiva ficará prejudicada e passará a depender de importações. Os cálculos do governo mostram que os investimentos caíram em 2009. Sem a crise, a taxa seria de 21% do PIB neste ano. Mas com as turbulências, ela ficará próxima de 18%, contra 19% de 2008. Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou o resultado do PIB e afirmou que o país tem condições de fechar o ano com um número positivo. No primeiro trimestre, o crescimento econômico teve um tombo de 0,8% na comparação com três meses anteriores. ;O governo vai ter que continuar fazendo política monetária e fiscal anticiclíca para podermos alcançar um resultado positivo no fim do ano. Terá que adotar iniciativas no sentido de estimular o consumo e estimular os investimentos para podermos alavancar o crescimento de 1% ao longo deste ano. Não será uma tarefa fácil porém é um desafio possível de ser alcançado;, afirmou o ministro. Para técnicos do governo, o resultado do PIB no trimestre já garante uma expansão econômica entre 0% e 0,5% em 2009. O governo deve publicar hoje uma medida provisória autorizando a União a fazer um aporte de R$ 4 bilhões para garantir financiamentos de micro e pequenas empresas. O dinheiro será dividido entre dois fundos (do BNDES e Banco do Brasil) e vai dar garantia a R$ 48 bilhões em financiamentos. (Da redação) RANKING Entre 41 países que já divulgaram o PIB do primeiro trimestre, o Brasil ocupa o 13º lugar com queda anualizada de 1,8%. Veja uma relação selecionada. 1º China 6,1% 2º Índia 5,8% 10º Venezuela 0,3% 12º África do Sul -1,3% 13º Brasil -1,8% 14º Reino Unido -1,9% 15º Canadá -2,1% 16º Chile -2,1% 18º Estados Unidos -2,5% 21º Espanha -3,0% 22º França -3,2% 23º Portugal -3,7% 27º Itália -5,9% 31º Alemanha -6,9% 34º México -8,2% 36º Japão -9,7% 37º Cingapura -10,1% 38º Taiwan -10,2% 41º Latvia -18,0% Fonte: Austin Rating

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