postado em 14/06/2009 08:04
O mercado de trabalho brasiliense está conseguindo se blindar dos impactos da crise econômica que se alastrou pelo país. Apesar de a geração de emprego não seguir o mesmo ritmo do ano passado e de alguns setores só terem começado a reagir em abril, dos 48,4 mil postos de trabalho formais criados nos quatro primeiros meses do ano em todo o Brasil, 23,7% estão no Distrito Federal. O número é expressivo, considerando que a capital federal detém apenas 1,3% da população brasileira e contribui com 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
A diferença entre demissões e contratações feitas no DF resultou em um saldo de 11.491 trabalhadores com carteira assinada no primeiro quadrimestre de 2009, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho (veja quadro abaixo). Desses, apenas 1% foram contratados pelo setor público, o que mostra uma mudança no mercado de trabalho da cidade, que, por muito tempo, teve como base o governo como empregador. O volume de postos de trabalho gerados ainda é pequeno considerando um contingente de mais de 239 mil desempregados no DF. Mas é animador em momentos de desaceleração econômica.
As 48,4 mil vagas criadas no Brasil entre janeiro e abril representam apenas 5% do total registrado no mesmo período do ano passado. Já as 11,4 mil do DF equivalem a 77% do saldo do primeiro quadrimestre de 2008. ;Brasília sentiu os efeitos e reduziu o ritmo de contratação, mas em proporção muito menor do que no restante do país. O impacto aqui é menor até pelo perfil do mercado de trabalho. Como tem muito servidor público, que não sofreu com a crise, a renda continua firme;, afirma o economista do Conselho Regional de Economia do DF (Corecon-DF) Júlio Miragaia. ;O setor de serviços foi o que menos sofreu e a economia de Brasília é baseada em serviços. Por outro lado, a indústria, que é quem mais está sofrendo, não tem peso grande por aqui;, completa.
Das pessoas contratadas, 72% estão em empresas prestadoras de serviços. Só os bares, restaurantes e hotéis da cidade admitiram 5.705 profissionais. De acordo com o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes e Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Clayton Machado, o aumento se deve a um incremento no número de estabelecimentos. Na indústria o saldo foi positivo em 223, mas vale a comemoração, pois no restante do país, o setor está entre os que mais demitem. ;A expectativa é de bons resultados até o fim do ano;, afirma o presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Antônio Rocha.
O setor agrícola registra atualmente 487 empregados formais a mais do que no fim de 2008. ;Como não ampliamos muito a área plantada, acho que o que está aumentando é a formalização, por isso os números indicam esse incremento;, afirma superintendente da federação, Mansueto Lunardi. Por outro lado, o comércio varejista, importante empregador da cidade, está com um quadro de funcionários inferior desde o início do ano. O saldo está negativo em 210 pessoas. ;Os empresários estão cautelosos em contratar, mas, apesar do receio, estão começando a reagir. Depois de um período morno, o comércio está começando a vender mais e a tendência é melhorar;, afirma o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista-DF), Antônio Augusto de Moraes.
Mais exigentes
O enfraquecimento da economia não assustou a chef Lilian Pelliccione que, em maio, ampliou a empresa de comida congelada e abriu um restaurante especializado em comida italiana. Ela contratou quatro funcionários para auxiliar os três que já faziam parte do quadro. ;Foi um tiro no escuro, mas o resolvi atender a demanda dos clientes;, conta. Mas Lilian se tornou mais exigente na contratação e não está contando mais só com a indicação de conhecidos. Contratou uma empresa de seleção de pessoal para ajudar a fazer a triagem dos currículos que recebe.
Foi desta forma que Shisley Lopes, de 20 anos, foi selecionada pela chef. Há seis meses, a moradora da Ceilândia procurava um emprego. ;Estava muito difícil achar uma oportunidade e preciso do dinheiro para ajudar meus pais em casa;, afirma. O aumento das exigências já é sentido, segundo a consultora de recursos humanos Marillac de Castro. ;As empresas abriram o leque das exigências. Querem pessoas que possam dar contribuição para outras áreas além da que são especializadas;, completa.
Empresas otimistas
Se Brasília surpreendeu mantendo a expansão de empregos formais, o destaque foi para a construção civil. De cada quatro vagas geradas desde o início do ano na capital federal, uma ocorreu nesse setor. De janeiro a abril, foram empregados 2.779 profissionais. ;Em outubro de 2008, com a explosão da crise e o temor do que viria pela frente, os empresários demitiram. Mas, a partir de janeiro, quando a economia começou a se acomodar, o mercado reiniciou uma recomposição de trabalho;, afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Elson Ribeiro e Póvoa.
O encarregado de pedreiro Antônio Ludemar da Silva, de 42 anos, chegou a ser atingido pela crise mundial, mas a reação também foi rápida. Depois de sete anos trabalhando na mesma construtora, foi demitido em janeiro quando a empresa fechou parte das vagas. Com um bom currículo, ele conseguiu outro emprego em menos de um mês. O diretor-técnico da construtora Vilella e Carvalho, Lander Moreira Cabral, conta que a empresa deve criar 300 empregos até o fim do ano. Já a Paulo Octávio estima a contratação de até 1,7 mil pessoas e a JC Gontijo, de outras 3 mil.