postado em 14/06/2009 09:09
A grande diversão do brasiliense é sair para comer fora de casa. Não é à toa que esse programa pesa no bolso das famílias na capital da República. De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), na cidade, 5,91% do orçamento doméstico é comprometido com refeições em bares, restaurantes e lanchonetes. No país, o percentual é menor: 3,21%. Com gente disposta a gastar dinheiro com a gastronomia, empresários veem na cidade uma mina de ouro. Investir em Brasília passa a ser uma opção importante para quem sonha em ter a casa cheia e quer garantir um retorno rápido para o dinheiro desembolsado. Nem a crise atrapalhou os negócios no ramo gastronômico.
Se considerado apenas o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), a arrecadação do Governo do Distrito Federal foi de R$ 20 milhões no acumulado de 12 meses encerrados em abril, segundo a Secretaria de Fazenda. O número representou 0,5% do total das receitas com impostos da capital do país. Com o aumento do número de restaurantes e o crescimento da população, a expectativa é de expansão dessa soma.
Há um ano, o grupo paraibano Mangai resolveu desembarcar em Brasília. Em terreno próximo do Lago Paranoá, construiu um restaurante. No andar de cima, há espaço para mil clientes. No subsolo e em parte do salão principal, há inúmeras cozinhas divididas por vidros e 14 câmaras frigoríficas. O prédio tem ainda área para escritórios, salas de treinamento e lazer dos funcionários. O empreendimento é tão grande que, para funcionar no almoço e no jantar, emprega 150 pessoas. ;O que nos atraiu em Brasília foi o número de nordestinos na cidade e a capacidade financeira dos moradores;, afirma Lorena Maia Tavares, diretora comercial do grupo Mangai, dono de restaurantes na Paraíba, Rio Grande do Norte e de fazendas fornecedoras de frutas e laticínios para os restaurantes.
Com fila de espera quase todos os dias, o investimento em Brasília se transformou em sucesso. Mesmo assim, o grupo preferiu não se esbaldar nos períodos de bonança. ;Tivemos cautela por causa da crise, tínhamos outras pretensões de investimento, mas paramos para ver o que ia acontecer;, revela Lorena. A pausa, no entanto, foi temporária. ;A crise é a hora de mostrar quem você é. Se ficar muito temeroso, chega outro mais esperto e leva;, ensina a executiva.
Para Ricardo Pole, empresário do ramo de gastronomia, o mercado brasiliense tem tudo para crescer a taxas extraordinárias, mas perde oportunidades por causa da falta de espaços disponíveis para novos empreendimentos. ;Faltam lugares. As entrequadras não têm estacionamentos e o tamanho das lojas são um problema;, avalia ele, que abriu quatro casas desde o estouro da crise em setembro do ano passado. As casas lhe custaram caro. Foram R$ 2 milhões em reformas, cozinhas e mobiliário para inaugurar a Wrap Express, no Pier 21; o Bistrô Gourmet, no ParkShopping; o Laguna, no Casa Park; e o Gameleira, na Vila Planalto. ;O jeito é correr para os shoppings em busca de segurança e estacionamentos cobertos;, afirma.
;Mesmo com a crise, ninguém vai deixar de comer fora;, diz Genaro Macedo, proprietário do Genaro Jazz Café, casa aberta há dois meses na 114 Norte. Com um cardápio recheado de hambúrgueres diferentes do convencional, a casa não é apenas um restaurante especializado em sanduíches. É um espaço para amantes do jazz e, no futuro, será um local de shows. ;Brasília tem um grande público com renda;, avalia o empresário.
A crise econômica levou David Lechtig, do El Paso, a agir com cautela. Ele pretendia abrir uma nova versão de seu restaurante mexicano para servir comida peruana, mas preferiu ampliar o espaço do El Paso na 405 Sul e criar o El Paso Latino. Com isso, ficou com duas casas em uma. São dois ambientes, dois cardápios com pratos distintos, feitos em uma mesma cozinha por equipes diferentes. A vantagem de manter os dois locais interligados é, segundo David, a economia na contratação de funcionários e a administração mais concentrada. Se abrisse outro restaurante, precisaria empregar 42 pessoas nas duas casas.Com a ampliação do espaço, tem uma equipe de 36. Antes da ampliação, eram 23 funcionários. ;Com essa opção, reduzi o custo de pessoal e ainda acompanho de perto as duas casas;, comenta.
Novidade importada
A paixão de Gustavo e Ana Lacerda pela gastronomia trouxe o casal de volta ao Brasil. Com eles, veio uma ideia inovadora no país: a de uma franquia de cupcakes, bolinhos recheados e cobertos com creme ; guloseimas tradicionais na Inglaterra e nos Estados Unidos. Os dois abriram o primeiro quiosque da Vintage Cupcakes, fundada por eles nos EUA, no shopping Pátio Brasil e planejam inaugurar mais três pontos de venda ainda neste ano. Quando estiverem com os quatro espaços abertos na capital federal, Gustavo e Ana oferecerão a marca para franqueados. ;O Brasil nos pareceu uma opção economicamente viável e Brasília foi escolhida porque a economia da cidade não oscila tanto como no resto do país;, justifica ele. As receitas, preparadas por Ana, são produzidas em uma cozinha montada em Águas Claras por R$ 200 mil. Nesse espaço serão produzidos os cupcakes para distribuir às outras lojas da marca espalhadas pela cidade. (LN)
Reformas para se adaptar à lei
A crise não tem sido uma ameaça aos empresários do ramo de restaurantes em Brasília, mas as novas regras do trânsito viraram inimigas de muitos empresários. Para contornar o problema, alguns contrataram motoristas para levar os clientes que bebem em casa ou apostaram em atrativos diferentes das bebidas para agradar aos consumidores. Para outros, o jeito foi mudar o foco da casa. Foi isso que fez o empresário Gil Guimarães.
Reformar e mudar a cara do restaurante foi a solução dele para o Madrid e o antigo Barcelona. A ideia de renovar as casas surgiu com a lei seca. O primeiro, na 408 Sul, virou Parrilla Madrid e se especializou em cortes nobres de carne, deixando de ser prioritariamente um bar e passando a funcionar mais como um restaurante. O Barcelona fechou e deu lugar ao Baco Pizza Napolitana, uma forneria da rede Baco com sabores especiais na 206 Sul. ;Tive que transformar os dois em restaurantes para que as pessoas fossem comer e beber e não beber e comer;, conta.
A lei seca, segundo Gil, não atrapalhou muito o faturamento dos restaurantes, mas puniu bruscamente os bares. ;A crise não nos afetou porque hoje voltamos ao patamar de antes da lei seca;, conta o empresário, que considera o segundo semestre do ano passado como o pior de sua história no ramo de gastronomia em Brasília. ;Faz um ano que começou a lei seca, e temos 20 garrafas de uísque de clientes que compraram e não vieram beber;, revela. ;Para o ramo de restaurantes, essa (a lei) é a crise;, acrescenta. (LN)