postado em 14/06/2009 21:02
Sob duros protestos de ativistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá defender nesta segunda-feira, na ONU, uma postura de não entrar em choque com regimes que violam os direitos humanos, sugerindo que soluções para crises sejam "negociadas e dialogadas". Lula falará pela primeira vez no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, enquanto organizações não-governamentais de todo o mundo acusam o País de ter abandonado as vítimas de violações.
Na semana passada, o jornal O Estado de S.Paulo revelou a mobilização de 35 ONGs antes da chegada de Lula à Genebra. Cartas foram enviadas à ONU e ao próprio governo cobrando uma mudança na postura do Brasil. O motivo é o padrão adotado pelo Brasil em votações de resoluções na ONU, saindo em apoio ao governo do Sri Lanka, bloqueando investigações internacionais, evitando condenar a Coreia do Norte e não tomando posições mais duras contra o Congo. Um comportamento considerado como ambíguo ainda foi tomado em resoluções sobre a situação no Sudão, onde já morreram 300 mil pessoas.
O ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, rejeita a crítica das ONGs e garante que o Brasil não apoia "nenhum país do mundo hoje onde haja violações de direitos humanos". "Não é verdade que não condenamos as violações no Sudão", afirmou. Mas o governo também se recusa a partir para um enfrentamento. "Não vamos distribuir certificados de mau comportamento para países", disse o assessor de Assuntos Internacionais da presidência, Marco Aurélio Garcia. "O Brasil não compactua com violadores de direitos humanos. Mas o melhor procedimento é o da negociação", afirmou Vannuchi.
A avaliação do governo é a de que um isolamento de países onde existem problemas acabaria agravando ainda mais a situação.
Já os ativistas alegam que o Brasil abandonou os princípios de direitos humanos para usar o fórum da ONU para atender interesses políticos. "O Brasil optou por fazer do Conselho uma ponte de negociações políticas. O Conselho de Direitos Humanos não é o Conselho de Segurança da ONU. O Brasil está politizando o fórum e negligenciando as vítimas de violações de direitos humanos", disse o diretor jurídico da Conectas, Oscar Vilhena. A Anistia Internacional também defende essa tese e pede uma mudança por parte do Brasil.
O governo brasileiro rejeita a crítica. "O Iraque e Afeganistão mostraram que o unilateralismo e invasões não funcionam. Por isso, o presidente Lula defenderá o multilateralismo, o diálogo e terminará seu discurso apontando a importância de sentar e negociar. Temos de aprender a conviver com diferenças de posições sobre formas de resolver problemas", disse Vannuchi.