Economia

Real foi a moeda que mais se valorizou nos últimos cinco anos ante o dólar

postado em 22/06/2009 08:26

Os regimes monetários brasileiros sempre foram sinônimo de bagunça. Corroídas pela inflação desenfreada, as moedas viravam pó, perdiam três zeros e recebiam um nome novo. Passado algum tempo, tudo se repetia. Essa história de fracassos foi interrompida com a edição do Plano Real, que completa 15 anos em 1; de julho. Depois de oscilar ao sabor do cenário financeiro internacional e da política interna, o real finalmente se tornou uma divisa forte. Mesmo num ambiente de câmbio flutuante, sem a fixação arbitrária da cotação pelo governo, foi a moeda que mais se valorizou nos últimos cinco anos. De janeiro de 2005 a junho de 2009, ganhou 28,5% em relação ao dólar.

Até julho de 2008, antes da bolha de Wall Street estourar, a valorização chegou a 60%. Parte desse fenômeno se deveu à conjuntura, que aliava um excesso de recursos passeando no mundo em busca de maior rentabilidade a uma taxa de juros bastante alta no Brasil. Com o enorme fluxo de capital para o país, o dólar perdeu valor. Também influiu nesse processo a melhora estrutural da economia nesses 15 anos de estabilidade, iniciada com a edição do Plano Real, em 1994. Com a inflação caindo bruscamente, empresas, consumidores e investidores puderam se organizar e confiar na economia.

O impulso definitivo veio com o tripé da política econômica que substituiu o câmbio fixo, usado como âncora para manter artificialmente a cotação do dólar. Em janeiro de 1999, as reservas internacionais do país foram insuficientes para proteger o real de um ataque especulativo. Numa espécie de Plano Real 2, a equipe do presidente Fernando Henrique Cardoso adotou como nova âncora o câmbio flutuante, ajuste fiscal e regime de metas de inflação. "Entre 1995 e 1998, a estabilidade era frágil. O mundo ficava resfriado e o Brasil pegava uma pneumonia. Só com a consolidação desse tripé se pôde falar em estabilização de fato", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.

[SAIBAMAIS] Desde então, o Brasil passou de laboratório de planos heterodoxos malsucedidos a exemplo de estabilidade entre os países emergentes. Não bastassem o aumento dos investimentos estrangeiros produtivos, a retomada do crescimento econômico, a ampliação do consumo e a saída de milhões de pessoas da pobreza, o Plano Real recebeu o reconhecimento final na forma do investment grade, a melhor nota dada pelas agências de classificação de risco, concedida no ano passado. "Dois fatores foram fundamentais nessa trajetória: a austeridade fiscal, embora o governo ainda gaste mal, e a acumulação de reservas", afirma o economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira.

Os números mostram a evolução do país. De 1994 para cá, a inflação caiu de 916,43% para 4,20%, projeção do mercado para este ano e as reservas internacionais passaram de US$ 38,8 bilhões para US$ 206,8 bilhões. Mas, na avaliação Pereira, o governo ainda precisa enfrentar algumas tarefas para consolidar o real como divisa relevante, melhorando a qualidade dos gastos públicos, diminuindo o custo da dívida e avançando na desindexação da economia. "Ter uma moeda forte neste momento é importante, pois o dólar está perdendo terreno rapidamente. Ele só não vai perder a hegemonia internacional por pura falta de concorrente habilitado. Mas várias divisas vão ganhar preponderância regional", diz. O real pode se tornar referência nas operações na América Latina, aposta o analista, assim como o iuan chinês será o padrão na Ásia.

Os industriais não fazem parte do coro que comemora o real forte. Ele incentiva importações, força as empresas a aumentar a produtividade, ajuda no controle da inflação e dá mais opções ao consumidor. Mas tira competitividade dos produtos nacionais. O economista Luiz Gonzaga Belluzzo acredita que a moeda brasileira está sobrevalorizada. Hoje, ela caminha abaixo de R$ 2. Para não ter reflexos negativos nas exportações, deveria voltar a um nível superior a R$ 2,30, calcula. Alguns competidores, como a China, mantêm o câmbio fraco para estimular as vendas.

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