Economia

Brasiliense se vira na crise

Dez mil pessoas passaram a trabalhar por conta própria e outras 2 mil viraram empresárias. Pesquisa revela que desemprego chegou a 17% em maio, o menor para o mês desde 1995

Mariana Flores
postado em 24/06/2009 07:00
Os brasilienses conseguiram driblar a crise e para fugir do desemprego que atinge 17 em cada 100 adultos do Distrito Federal. A taxa de desocupação diminuiu de 17,5% da População Economicamente Ativa em abril para 17% no mês passado, percentual mais baixo para maio desde 1995.

A queda foi puxada pelo aumento do volume de pessoas que trabalham por conta própria, têm negócios familiares, são empregadoras ou profissionais liberais. Apenas em maio o número de ocupados da capital federal teve um incremento de 11 mil pessoas, o maior volume desde julho do ano passado.

Osvaldo Batista Neto, 62 anos, passou a fazer bico de pedreiro por conta da criseO saldo é resultado de 10 mil pessoas a mais trabalhando como autônomas, mais 2 mil que montaram negócios ou se tornaram profissionais liberais e 1 mil que conseguiram emprego com carteira de trabalho assinada. Por outro lado, 1 mil profissionais perderam o salário informal e 1 mil deixaram o serviço público. Os números são da , divulgada ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A alta de 12 mil pessoas que trabalham como autônomas ou empregadoras representa um acréscimo de 3,3% no total de brasilienses que se encontram em uma das duas posições. Na opinião de especialistas em mercado de trabalho, a explosão no volume de trabalhadores que se viram por conta própria é um reflexo da dificuldade de conseguir uma vaga.

A capital federal tem a terceira taxa de desocupação mais elevada entre as seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo Dieese e fica atrás apenas das cidades nordestinas pesquisadas, Salvador e Recife. ;A diminuição da taxa de desemprego se deve a um aumento dos autônomos, o que não necessariamente mostra uma reação do mercado de trabalho e, sim, do trabalhador. As pessoas estão tentando se virar;, analisa o técnico do Dieese, Antônio Ibarra.

Por outro lado, a absorção desses profissionais no mercado de trabalho mostra que a economia está reagindo, ressalta o economista Julio Miragaia, do Conselho Regional de Economia (Corecon). ;O mercado absorveu, senão não estariam em atividade. O que é bom, apesar de eles estarem inseridos de forma precária;, afirma. O morador da Estrutural Osvaldo Batista Neto, de 62 anos, sentiu uma reação da economia. Há 19 anos sem um emprego fixo, ele se virou fazendo bicos de pedreiro, serralheiro ou de ajudante de eletricista até o fim do ano passado, mas, desde o início de 2009, as obras nas casas e empresas da Estrutural estavam escassas, segundo ele.

Na última segunda-feira, no entanto, apareceu uma nova oportunidade. Ele está construindo a calçada em frente a uma oficina mecânica que será inaugurada na região. ;Desde o início do ano estava mais difícil conseguir um bico, agora parece que melhorou um pouco. Não procuro mais emprego fixo, acho que na minha idade não conseguiria;, conta. Pela semana de trabalho, Osvaldo deve receber cerca de R$ 200. Se não conseguir nenhum outro bico, essa será sua remuneração para todo o mês, bem inferior à média recebida pelos autônomos do DF e pelos trabalhadores da cidade em geral.

Em relação ao mês passado, os autônomos foram os únicos que perderam renda, segundo o Dieese. O rendimento médio recebido por eles caiu de R$ 920 para R$ 906 em apenas um mês, uma redução de 1,5%. Na média dos trabalhadores, no entanto, a renda ficou praticamente estável ; passou de R$ 1.836 para R$ 1.837.


O QUE É
A Pesquisa de Emprego e Desemprego é realizada todos os meses em 19 regiões administrativas do Distrito Federal. O levantamento é feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em cerca de 2,9 mil domicílios e coleta informações sobre todos os moradores com 10 anos ou mais de idade.


E eu com isso?
Uma recuperação do mercado de trabalho afeta a vida da população como um todo. Se o desemprego se mantém elevado, diminui o ritmo da atividade econômica, já que menos pessoas têm dinheiro para consumir. Com menos dinheiro em circulação, mais empresas entram em dificuldade, podendo vir a demitir seus funcionários.

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