postado em 28/06/2009 11:13
Superada a fase aguda da maior crise internacional das últimas sete décadas, os olhos dos observadores passaram a mirar a etapa seguinte: a retomada do crescimento global. As duas únicas potências capazes de fazer a roda voltar a girar são Estados Unidos e China. A primeira etapa da reaceleração, puxada pelo consumo chinês, já está em curso, mas terá alcance limitado. O mundo só sairá do atoleiro quando o segundo pelotão, impulsionado pelo retorno pleno dos norte-americanos às compras, marchar a partir de 2010.
Em ambas as situações, o mecanismo de transmissão de desenvolvimento será o comércio exterior. Mostrando impressionante capacidade produtiva, a China deve crescer ao menos 8% este ano, um ritmo superior aos 6% estimados inicialmente. Isso será possível porque o governo apostou no sucesso dentro de casa, torrando US$ 687 bilhões em dinheiro público para incentivar a entrada de milhões de pessoas no mercado consumidor. Com isso, as importações de produtos agrícolas e minerais subiram, beneficiando as demais nações emergentes.
No caso dos Estados Unidos, existe a presunção de que as medidas do governo Barack Obama para diminuir o nível de endividamento das famílias e resolver a escassez de crédito surtirão efeito a partir de 2010. Dessa forma, os consumidores voltarão a mostrar seu apetite voraz pelas compras, o que aquecerá o comércio, a indústria e o nível de emprego. Mais renda no bolso do trabalhador significará mais consumo, num círculo virtuoso que tirará o país da recessão. De novo, ele passará a importar em grandes quantidades, estimulando a indústria e o setor básico tanto dos demais países desenvolvidos como dos emergentes.
%u201CO mundo continua refém dos Estados Unidos. Só eles têm a capacidade de bancar recuperação global firme. Achar que a China vai puxar a retomada do mundo é ilusão. O crescimento chinês só melhora o balanço de pagamento dos países que exportam produtos básicos para lá%u201D, afirma o economista Julio Sérgio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica. Os EUA respondem por 25% do produto mundial, enquanto os chineses ficam com 8,1%.
De acordo com as estimativas do Fundo Monetário Internacional, a economia global vai sofrer contração de 1,3% este ano, mas crescerá 1,9% no que vem. Os EUA passariam de resultado negativo de 2,8% para a estabilidade, embora analistas independentes acreditem que eles podem crescer até 1% em 2010. O panorama das demais nações avançadas não é animador. Segunda maior economia global, o Japão teria retração de 6,2% em 2009 e retomada de 0,5% no ano seguinte. Na Zona do Euro, seriam dois resultados ruins: -4,2% e -0,4%.
Nesse ambiente de baixa nas exportações, o Brasil se sai melhor por causa do bom mercado interno e por ser razoavelmente fechado às importações. %u201COs países emergentes com mercado doméstico grande, como China e Brasil, vão se destacar. Vamos crescer de 3,5% a 4% no ano que vem, mesmo se os desenvolvidos continuarem patinando. Os setores voltados para a demanda interna, como os de bens de consumo duráveis, vão sair na frente%u201D, prevê o economista-chefe da Tendências Consultoria, Juan Jensen.
Nos Estados Unidos, a política de gastar US$ 787 bilhões em obras públicas para aquecer o nível de atividade pode dar um resultado no médio prazo, mas elevará o déficit fiscal a 13% do Produto Interno Bruto (PIB), batendo o recorde de 1942, quando o país entrou na Segunda Guerra Mundial. %u201CO aumento das despesas públicas será importante para evitar que os EUA entrem numa depressão, mas sair da recessão, só com o aumento do consumo%u201D, insiste Gomes de Almeida. Para Jensen, as famílias norte-americanas só vão se endividar novamente se tiverem confiança de que não perderão seus empregos.
A Tendências projeta queda de 2,5% no PIB dos EUA este ano e crescimento de 1% em 2010. Na avaliação do diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, Carlos Langoni, a diminuição na alavancagem nos empréstimos depois da crise vai reduzir o potencial de expansão da mundial. O volume de financiamentos concedidos pelos bancos (até 30 vezes superior aos seus ativos) foi uma das razões da crise, encolhendo a oferta de crédito e desanimando os consumidores a se endidarem, lembra Langoni.
Capital seletivo
Ex-presidente do Banco Central, Langoni afirma que %u201Cnesse ambiente em que os capitais disponíveis para aplicação ficarão mais seletivos, vai sair ganhando quem tiver uma política econômica consistente e um mercado doméstico robusto. Os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) serão privilegiados na atração de investimentos%u201D, diz. Para ele, a recuperação será assimétrica, com vantagem para os emergentes. Os Estados Unidos, por exemplo, devem crescer metade das taxas vistas nos últimos 10 anos.
%u201CA grande estrela da economia mundial continuará sendo a China. Ela está fazendo melhor do que todos a migração do mercado externo para o doméstico%u201D, assegura Langoni.
O economista Armando Castelar Pinheiro, da Gávea Investimentos, não acredita que a recuperação global será sustentada por um ou outro país em particular. %u201CEstá havendo um alívio no mundo inteiro. O aumento das despesas públicas dá um alento, mas a solução virá do equilíbrio entre os países no comércio exterior%u201D, afirma.
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