postado em 29/06/2009 09:17
O presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, propôs neste domingo (28/06) a seu colega da Índia iniciar estudos para a implementação do comércio nas moedas nacionais dos dois países, em vez do dólar.
É o quarto país com que autoridades brasileiras discutem a troca do dólar por suas próprias moedas: Argentina, China, Uruguai e agora Índia.
Com a Argentina, o processo já se iniciou mas atinge, por enquanto, apenas 1% do volume de trocas entre os dois países.
A Índia, antes de qualquer resposta, quer se familiarizar com o mecanismo, ao contrário do que aconteceu com a China, com quem Meirelles também conversou sobre o assuntos, mas no sábado.
Zhu Xiaochuan, o presidente do Banco Central chinês, concordou em iniciar os estudos concretos para o novo mecanismo cambial.
Meirelles diz que é prematuro falar em cronograma para o início das operações comerciais em reais e iuanes, a moeda chinesa, mas, com base na experiência de idêntica relação Brasil/Argentina, acredita que em menos de dois anos se poderá iniciar o processo de negociação bilateral.
Mercosul
Dois anos foi o tempo que levou para que Brasil e Argentina implementassem o comércio em suas próprias moedas. A experiência adquirida e o fato de a China também estar comercializando com a Argentina nas moedas nacionais torna razoável esperar um cronograma mais acelerado.
Comerciar em moedas locais tem a óbvia vantagem de, ao eliminar o dólar, cortar um fator de volatilidade externo a Brasil e China, no caso.
Hoje, um contrato de exportação tem que levar em conta a relação real/iuan, que obviamente flutua, mas também a flutuação do dólar entre cada uma dessas moedas, num momento de grande volatilidade da moeda norte-americana.
China
Meirelles distingue entre a substituição do dólar no comércio bilateral e a substituição da moeda norte-americana como referência global.
Xiaochuan é quem mais insiste em que é preciso encontrar um substituto para o dólar neste segundo papel.
Meirelles, no entanto, alerta: "Para que o dólar deixe de ser usado como moeda reserva, tem que haver outra moeda que desempenhe esse papel".
O euro, quando foi lançado em janeiro de 1999, parecia um candidato óbvio, pelas dimensões da economia do conglomerado europeu, mas não avançou o suficiente para se impor como alternativa.
A hipótese mais falada hoje é a de usar os Direitos Especiais de Saque (padrão contábil do Fundo Monetário Internacional, alicerçado em uma cesta de moedas internacionais). Mas há questões "nada triviais", diz Meirelles, para que se chegue a essa situação.