Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 01/07/2009 08:14
O Plano Real, que chega hoje aos 15 anos, foi um sucesso para o objetivo proposto: derrubar a inflação, criar uma moeda forte e organizar o Estado brasileiro. A avaliação é do economista e professor Winston Fritsch, um dos pais do programa de estabilização lançado pelo governo Itamar Franco em 1994. Fritsch teve participação ativa na primeira fase do programa como secretário do Ministério da Fazenda.Com ele trabalhava Gustavo Franco. Os dois faziam parte do grupo de economistas responsável pela formulação do que ficou conhecido como Plano Real. Mais tarde ele se afastou do governo.
[SAIBAMAIS]"O plano foi fundamental para enfrentar a inflação inercial", garantiu. Sem o real, Fritsch disse que não saberia onde o país teria parado. "Estávamos caminhando para o caos", afirma, lembrando da inflação da época, que apontava para inimagináveis 7.000% ao ano.
O professor relembra uma cena que o deixou chocado. Pouco acostumado a fazer compras, precisou, naquela época, ir ao supermercado. Coincidentemente, era dia de pagamento e o que presenciou foi centenas de pessoas se apertando em corredores para comprar comida. Se deixassem para o dia seguinte não conseguiriam levar a mesma quantidade de mercadorias porque a inflação teria corroído parte dos salários. Ao analisar o plano, Frisch se diz convencido de que o Brasil pode se transformar em potência, desde que persista nas políticas certas e faça as reformas estruturais. "Nosso sistema tributário é retrógrado e o sistema previdenciário precisa de ajustes", aponta.
A avaliação de quem não participou da elaboração do plano, mas esteve no comando da economia brasileira é a mesma. Para o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira, o real foi um divisor de águas, "um salto que representou um avanço institucional importantíssimo". Segundo o ex-ministro, as décadas de inflação que antecederam esse momento criaram confusão na economia. "A inflação deprime os salários, cria incerteza diária nos preços de referência, não estimula a poupança, nem o investimento. E a moeda é um símbolo essencial para qualquer diálogo econômico", observa.
Bancos
Marcílio ressalta que este avanço institucional foi aprimorado ao longo do tempo com outros marcos macroeconômicos. "A meta de inflação, a adoção do câmbio flutuante e a preocupação com a austeridade fiscal são alguns marcos de grande relevância." Para ele, outro destaque foi o setor financeiro. "Com a implementação do real foi possível separar o joio do trigo em termos de instituição financeira. Muitas que viviam do float, da mera arbitragem diária, não aguentaram. E saímos deste processo com um sistema bancário resistente a crises. Tanto, que foi testado agora com sucesso."
O ex-ministro frisa que a estabilidade é algo que não se compra, mas se aluga. "O que quero dizer com isso é que este é um processo que devemos cuidar diariamente e não termina nunca." Para ele, no geral, o plano tem um resultado positivo, embora tivesse tido ao longo do tempo avanços e retrocessos.
Desafios
Ao analisar os 15 anos de estabilidade, Marcílio diz que o Plano Real não é para sempre. "Nos contentamos com o meio do caminho", lamenta. "E corremos o risco de resvalar para algo medíocre, como um crescimento de 3% ao ano." Ele cita as reformas tributária, da Previdência e trabalhista como exemplo dos avanços ainda necessários. Ele destaca, também, a necessidade de maior atenção com a educação. "Hoje, 97% das crianças estão no ensino básico, na escola. Mas em termos de qualidade, há um longo caminho a ser trilhado. Ficamos para trás", constata. De acordo com Marcílio, o governo olha para 2010, quando deveria focar em 2020, 2030.
O economista Gustavo Loyola, que foi presidente do Banco Central duas vezes, diz que o real não pretendeu resolver todos os problemas. Na defesa do plano, Loyola lembra que a estabilidade se mantém e o sistema bancário forte conseguiu resistir a mais uma crise. Os acertos, segundo o ex-presidente do BC, não significam que a política econômica tenha sido sempre correta. "Ainda tem muita coisa a ser feita. Temos que avançar nas reformas, reduzir a burocracia , atacar as graves deficiências de infraestrutura e dar condições ao Estado de investir mais, pois até hoje se gasta muito com custeio", afirma.