Economia

Analistas reduzem estimativa de queda do PIB para este ano, mas questionam otimismo excessivo do governo

postado em 14/07/2009 08:20

Apesar de não endossar o excesso de otimismo do governo, que já prevê crescimento econômico de 4,5% em 2010 e expansão de 5% em 2011 (veja matéria ao lado), boa parte do mercado financeiro está convencida de que o Brasil já saiu da recessão e está retomando gradualmente o fôlego da atividade. ;Temos visto um crescimento mais abrangente da produção industrial. E a retomada não se restringe aos setores beneficiados com o corte de impostos feito pelo governo;, disse o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

Segundo ele, é esse comportamento que está levando vários analistas a preverem resultado ligeiramente positivo para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, o que deverá se explicitar na pesquisa Focus, do Banco Central, nas próximas semanas. No levantamento divulgado ontem, os especialistas reduziram a estimativa de queda do PIB para este ano, de 0,50% para 0,34%. ;O quadro melhorou bastante nos últimos meses. Mas nada que nos habilite, pelo menos por enquanto, a falar em crescimento superior a 4% no ano que vem e no próximo. Se isso acontecer, será puramente um efeito estatístico, que não cria empregos. Eu prefiro ficar com a média do mercado, de avanço de 3,5% em 2010;, frisou.

Na reunião ministerial de ontem, na Granja do Torto, a equipe econômica apresentou números positivos da economia brasileiraNa avaliação do economista-chefe do Banco Schahim, Sílvio Campos Neto, o reaquecimento da economia brasileira ficará mais evidente a partir deste semestre. ;Além dos incentivos fiscais dados pelo governo para sustentar o consumo, veremos o impacto da redução da taxa básica de juros (de 13,75% para 9,25% ao ano) e a recomposição dos estoques;, afirmou. ;É isso que nos leva a prever que o PIB encerrará 2009 com crescimento de 0,2%;, emendou. Mas para que a atividade realmente deslanche, a ponto de o PIB retomar um ritmo de crescimento superior a 4%, será preciso que a economia mundial recupere a força rapidamente, o que não deve acontecer tão cedo. ;Ainda veremos os países mais ricos do mundo caminhando muito devagar por um bom tempo. Por isso, acho impossível crescer os 4,5% ou 5% estimados pelo governo para 2010 e 2011;, frisou.

Fortalecimento
Para George Bezerra, economista-chefe da Máxima Asset Management, independentemente de o PIB brasileiro crescer ou encolher 0,5% neste ano, o importante é que o país está dando sinais de fortalecimento, que podem fazer com que a retomada da economia seja mais rápida. ;Estar em uma posição bem diferente das crises anteriores, com a inflação sob controle e sem problemas nas contas externas, permite ao país deixar o pior das turbulências para trás;, assinalou. A seu ver, a retomada da atividade exige o mundo crescendo mais, pois, só assim, a indústria conseguirá voltar a exportar.

O crescimento mais forte da economia brasileira não depende só de uma ;melhora significativa; da atividade global. ;Não podemos esquecer que os mesmos incentivos que o governo está dando para estimular a produção e o consumo causarão constrangimentos mais à frente;, alertou. O governo tem cortado impostos e aberto mão de arrecadação graças à redução dos gastos com juros. Mas, está criando despesas, como o aumento do funcionalismo, que não poderão ser revertidas. ;Se houver necessidade de aumento dos juros mais à frente, como ficarão as contas com os gastos contratados? Assim, o crescimento terá de ser contido para não gerar inflação;, ressaltou Bezerra.

; Recorde nas reservas

Depois de enfrentar uma forte escassez de dólares, logo depois do estouro da crise mundial em setembro do ano passado, o Brasil está prestes a registrar novo patamar recorde em suas reservas internacionais. A expectativa dos analistas é de que, ainda nesta semana, o ;seguro anticrise; construído pelo governo supere o pico registrado em 6 de outubro de 2008, de US$ 209,386 bilhões. Na última sexta-feira, as reservas bateram em US$ 209,258 bilhões.

Esse número foi apresentado ontem, durante reunião ministerial, como um dos exemplos mais contundentes de que o pior da crise no Brasil ficou para trás. ;A economia brasileira foi submetida a um forte teste de estresse, mas passou muito bem;, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ele tanto acredita nisso que retomou o otimismo abandonado no auge da crise e voltou a prever que o Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, crescerá 4,5% em 2010 ; o governo conta com isso para incrementar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sucessão do presidente Lula ; e 5% em 2011.

Sem modéstia, Mantega disse que esse patamar de crescimento, semelhante ao registrado antes da quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro de 2008, será possível porque o Brasil adotou medidas ;mais eficientes; do que a maioria dos países. Ele citou como exemplo a redução de impostos incidentes sobre os carros, eletrodomésticos e materiais de construção e a decisão do BC de cortar a taxa básica de juros (Selic) em 4,5 pontos percentuais, de 13,75% para 9,25% ao ano.

O otimismo foi endossado pelo presidente do BC, Henrique Meirelles. Ele apresentou sete projeções de crescimento para o país no próximo ano, que vão de 2,5%, do Fundo Monetário Nacional (FMI), a 5%, do economista-chefe do banco americano Goldman Sachs, Jim O;Neill, criador do termo BRIC, Brasil, Rússia, Índia e China, que estarão entre as cinco maiores economias do mundo nos próximos 20 anos. Na opinião de Meirelles, ainda que as incertezas quanto à recuperação do mundo sejam grandes, o país está dando sinais consistentes de retomada, puxada pela manutenção da renda e da volta do crédito.

Mantega aproveitou a reunião para rebater as críticas dos especialistas de que as medidas adotadas pelo governo para reativar a economia podem levar às contas públicas ao desequilíbrio. Ele assegurou que os cortes de impostos e os aumentos do salários dos servidores e dos programas sociais estão sendo feitos ;com responsabilidade;. E garantiu que a relação entre a dívida pública e o PIB, que deve fechar este ano em 41,6%, por causa da retirada do Petrobras do cálculo do superávit primário, cairá para 40% em 2010 e, 38% em 2011. (VN, Deco Bancillon e Flávia Foreque)

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