Economia

Aviação: nanicas disputam o terceiro lugar

Webjet cresce, mas é ultrapassada pela Azul. Pequenas mordem parte do mercado das grandes companhias

postado em 15/07/2009 08:00

Em apenas seis meses em operação, a Azul pulou do sexto para o terceiro lugar no ranking brasileiro, com 4,31% da preferência dos usuáriosO mercado de aviação brasileiro anda agitado. As pequenas empresas de atuação nacional ; particularmente Azul, Webjet e OceanAir e a regional Trip ; aos poucos andam roubando mercado das duas grandes, Gol e TAM. E não é pouco. Quando 2008 terminou, as duas grandes respondiam por 91,5% do mercado. As quatro juntas eram responsáveis pelo transporte de 7,9% dos passageiros. Seis meses depois, em junho, Gol e TAM têm 87% do mercado, enquanto as quatro pequenas já respondem por 12,3%, de acordo com os dados divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). E esse percentual pode aumentar. Para André Castellini, consultor de aviação da Bain & Company, há espaço para que elas detenham de 15% a 20% de participação. ;O mercado nunca esteve tão disputado como agora. Na época em que a Transbrasil e a Vasp estavam no mercado, os preços eram bem mais altos;, ressalta. Trata-se de uma situação interessante para os consumidores.

Além de roubar mercado, as pequenas estão abocanhando também as preferências dos passageiros. De acordo com o ranking popular criado pela Anac para que o passageiro avalie as companhias, elas são as preferidas do público. Na ordem, Oceanair e Azul lideram as preferências com notas acima de sete. TAM, com nota 6,1, e Gol, com 5,76, aparecem em seguida. Webjet e Trip ainda não entraram no ranking por não terem o número mínimo de quatro quesitos com 100 avaliações.

;As pequenas estão dando oportunidade aos passageiros para que desfrutem de um bom serviço;, avalia Renato Pascowitch, diretor executivo da Oceanair. ;Oferecemos o melhor produto em termos de atendimento, pontualidade, conforto e serviço de bordo.; Pascowitch ressalta que a política de preços da Oceanair sempre foi agressiva, acompanhando os concorrentes. ;Então, temos que nos diferenciar nos serviços que oferecemos.;

Esse é também o desafio da Azul Linhas Aéreas, a mais nova companhia de aviação a disputar a preferência dos brasileiros. ;Não entramos para roubar o mercado de ninguém;, explica Pedro Janot, presidente da Azul. ;O nosso desafio é ampliar as opções, oferecendo serviços de melhor qualidade, como, por exemplo, voos sem conexão;. Para confirmar o que diz, Janot lembra que, quando iniciaram o voo direto de Campinas, em São Paulo, a Salvador, na Bahia, em dezembro de 2008 era um voo diário com 32 passageiros. ;Hoje, voamos quatro vezes por dia transportando entre 450 e 500 pessoas;, conta ele.

Esse crescimento acelerado se reflete nas estatísticas. No fim de dezembro, com apenas 15 dias de operação, a Azul ocupava a sexta colocação no ranking brasileiro de tráfego aéreo, com 0,31% do mercado. Cinco meses depois, a empresa desbancou a Webjet e passou para o terceiro lugar, com 4,16%. Em junho, a participação da Azul subiu para 4,31%, se consolidando em terceiro lugar, mas a diferença para a Webjet caiu de 0,17% para apenas 0,08%. ;Nossa intenção é chegar ao fim do ano com 6% do mercado;, diz Janot.

Para isso, a empresa, que hoje tem 12 aeronaves, encerrará o ano com 14. No fim de 2010, esse número deve subir para 20 e até 2013 a frota deve somar 57 aviões.

A Webjet está reagindo. Desde março, incorporou três aeronaves a sua frota e outros dois aparelhos serão entregues até o fim deste mês. Com isso, houve a ampliação de suas rotas.

Guerra de preços
O avanço das aéreas de menor porte sobre as gigantes TAM e Gol é reflexo, sobretudo, do aumento de frota, que resultou na entrada dessas empresas em novas rotas, segundo André Castellini. ;O aumento de participação da Azul era esperado, por causa das promoções;, diz. Segundo ele, o crescimento de 9% do mercado doméstico em junho foi reflexo dos descontos da TAM e Gol. Mesmo assim, a taxa de ocupação das aeronaves foi de 65,44%, abaixo da registrada em junho de 2008 (66,9%).

Os preços cobrados pelo mercado estão 15% a 20% menores do que seria um nível mínimo de rentabilidade. Mas, com a retração do mercado corporativo e do lazer, as companhias não tiveram outra saída senão baixar os preços para aumentar a lotação das aeronaves. A saída, segundo o Castellini, seria a redução do número de assentos.

; Leia mais




; CONTRAPONTO
Situação insustentável

André Castellini, consultor de aviação, avalia que a guerra de preços para conquistar mercado não é duradoura. ;A questão é: como vai ser a participação (delas) quando precisarem ter remuneração, pois essas tarifas não são sustentáveis. Se olhássemos a participação delas em dinheiro, os percentuais seriam menores ;.

Quanto à oferta de serviços diferenciados, o especialista destaca que esse não é um quesito que o consumidor prioriza na hora de comprar o bilhete. ;O que o passageiro quer é uma empresa com uma malha convincente, que voa na hora que ele quer e com custo baixo. O grosso do mercado não está disposto a pagar mais por espaço entre as poltronas e serviço de bordo diferenciado. O consumidor gostaria de ter um serviço melhor, mas paga muito pouco por isso.; Castellini lembra que a TAM, que tinha um serviço sofisticado e poltronas mais espaçosas, só conseguiu recuperar o mercado que vinha perdendo para a Gol quando simplificou seu modelo de negócio. (KM)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação