Jornal Correio Braziliense

Economia

Reajuste acima do necessário nas contas de luz

Uso das térmicas para evitar apagão custa R$ 2,3 bilhões. Despesa começa a ser rateada e brasilienses receberão a fatura em agosto

Os reajustes das contas de luz poderiam ser até 20% menores este ano se o governo não tivesse mudado as regras (1) para evitar o risco de apagão em 2008. Isso porque a decisão de acionar todas as usinas térmicas no ano passado gerou uma fatura de R$ 2,3 bilhões que está sendo rateada entre todos os consumidores do país. Nos aumentos autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), há casos em que o Encargo sobre Serviços de Sistemas (ESS) ; valor recolhido nas faturas de energia elétrica que funciona como um seguro contra o racionamento ; subiu 21.007%, como para a Cemat (MT), e 20.843% para a Cemig (MG). Para a CPFL Paulista (SP), o ESS teve peso de 4,2 pontos percentuais ou 19,8% do índice de 21,22% de alta fixado pela agência (veja quadro).





; Esperança contra racionamento

Zulmira Furbino
Enviada especial a Porto Velho

A primeira concretagem (foto) da hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira (Rondônia), permitirá a antecipação do cronograma de conclusão da obra para dezembro de 2011. A usina é uma das esperanças do governo para reduzir o risco de racionamento. A etapa da construção será feita na margem direita do rio, onde se localizará a casa de força da usina. Ali, oito turbinas bulbo serão responsáveis por gerar cerca de 600 Mw de energia. A usina terá 3.150 Mw de capacidade instalada e energia assegurada da ordem de 2.217 Mw, o suficiente para abastecer 11 milhões de residências ou 40 milhões de pessoas.

; Memória
Crise em 2001

Apagão refere-se ao período de racionamento de consumo de energia elétrica, que vigorou de 1; de junho de 2001 a 28 de fevereiro de 2002, para os consumidores das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, e entre 1; de julho de 2001 e 31 de dezembro de 2001, para os estados do Pará e Tocantins e parte do Maranhão. A crise de fornecimento de energia em 2001 resultou na criação da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, responsável por adotar medidas emergenciais para evitar a falta de energia elétrica no país.

Entre 4 de junho de 2001 e 28 de fevereiro de 2002, os consumidores residenciais estiveram sujeitos ao regime especial de cobrança nas contas de luz. Quem consumia mais energia pagava mais caro. Os valores adicionais cobrados nas contas de luz eram destinados a constituir provisão para a cobertura dos custos adicionais das concessionárias para acionamento das usinas térmicas, garantir o fornecimento de energia e remunerar o bônus previsto aos clientes que cumprissem a meta de consumo. (KM)

; Governo rebate críticas

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, rebate as críticas contra o acionamento das térmicas no ano passado. ;Todos se recordam de que em janeiro do ano passado as notícias eram de que mergulharíamos outra vez num apagão semelhante a 2001. Os especialistas, que hoje nos criticam, são exatamente os que mais falavam isso;, provoca. ;Não compreendo as críticas que são feitas a isso. O que foi feito, foi feito com análise profunda dos órgãos do Ministério de Minas e Energia, do Operador Nacional do Sistema (ONS), que achou que havia a necessidade de se colocar em funcionamento todas as térmicas, fizemos o que era preciso durante o tempo necessário, que foi curto;, afirma. Segundo o ministro, com isso foi garantida a saúde dos reservatórios, que voltaram a ter água suficiente para a geração de energia. ;Será que essas pessoas que nos criticam preferem que tivéssemos tido racionamento de energia outra vez? Acho que a energia mais cara que pode ter no Brasil, e no mundo, é aquela que não existe;, conclui.

Hermes Chipp, diretor-geral do ONS, explica que todo ano é necessário o acionamento das térmicas como forma de se fazer um estoque de segurança para o ano seguinte. ;É como se fosse um seguro para que a sociedade, se tiver escassez de chuvas, não tenha que passar por racionamento. Se a chuva vier escassa, tenho água nos reservatórios;, explica Chipp, que observa que a metodologia usada pelo ONS é diferente da que serviu de base para estudos que criticam o governo. O diretor ressalta que, em 2001, quando houve o apagão, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teve redução de 2%, o equivalente a uma perda de R$ 60 bilhões. ;O custo de R$ 2,3 bilhões das térmicas é 30% menor que a perda de PIB. Então, vale a pena;, ressalta. (KM)