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Economia

Estrangeiros garantem emprego no Brasil

O estouro da crise mundial levou muitos economistas a preverem um desastre no mercado de trabalho no Brasil. De fato, no último trimestre de 2008, o desemprego deu um grande salto, empurrado, sobretudo, pelo expressivo fechamento de vagas na indústria exportadora. Mas, destrinchando os números sobre emprego, constata-se que houve uma parcela de trabalhadores que não sentiu qualquer abalo e, portanto, não tem do que reclamar: os estrangeiros empregados no país. Entre outubro e dezembro de 2008, auge das turbulências internacionais, o total de autorizações (16.859) concedidas pelo Ministério do Trabalho a esse pessoal registrou aumento de 72% em relação ao mesmo período de 2007 (9.779). E o cenário positivo se manteve no primeiro trimestre deste ano. O volume de autorizações liberadas pelo governo avançou 4,6% ante janeiro e março do ano anterior.

Com empregos garantidos no Brasil, os estrangeiros ampliaram, de forma substancial, as remessas de parte de seus salários para os países de origem, com o objetivo claro de ajudar suas famílias. Dados do Banco Central (BC) mostram que, entre outubro do ano passado, quando o mundo sentiu o real impacto da quebra do banco americano Lehman Brothers, e maio deste ano, as transferências mensais de recursos dos estrangeiros deram um salto de 49% - de US$ 33,9 milhões para US$ 50,4 milhões. Por outro lado, destacou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o montante de dinheiro enviado pelos brasileiros que trabalham no exterior despencou 48% em igual período, de US$ 345,1 milhões para US$ 179 milhões por mês.

"Esses movimentos opostos mostram que, enquanto os estrangeiros estão se beneficiando da preservação do emprego no Brasil, os brasileiros estão sofrendo com o fechamento recorde de postos de trabalho mundo afora, especialmente nas economias mais desenvolvidas", diz Altamir. Nos Estados Unidos, onde está o grosso dos brasileiros que saíram do país em busca de melhores oportunidades, a taxa de desemprego pulou de 6% para 9,5% e pode avançar até os 11% ao longo de 2010, pelas contas do economista Nouriel Roubini, professor da Universidade de Novas York e o primeiro a prever o colapso do planeta com o fim da bolha imobiliária americana.

No Japão, para tormento dos dekasseguis (brasileiros com origem japonesa), o índice de desemprego encosta nos 5,5%, o maior em seis anos. Não é à toa que tantos brasileiros estão abrindo mão de seus sonhos e retornando para o Brasil. "Aqui, as perspectivas são melhores. Quando a economia estiver caminhando a pleno vapor novamente, o que já veremos no ano que vem, mais vagas serão criadas", ressalta o estrategista-chefe do banco alemão WestLB, Roberto Padovani. "Já a recuperação dos Estados Unidos, da Europa e do Japão será bem mais lenta e dificilmente esses países vão voltar a crescer no ritmo que vinham se expandindo nos cinco anos anteriores à crise", reconhece o diretor-geral de Assuntos Econômicos e Financeiros da Comissão Européia, Marco Bucci.

Movimento natural

Na avaliação de Padovani, o fato de o mercado de trabalho brasileiro ter reagido melhor do que em boa parte do mundo decorre das políticas macroeconômicas consistentes praticadas nos últimos anos. "Foi um amortecedor enorme, que permitiu ao governo dar estímulos fiscais a vários setores para manter o consumo aquecido e que abriu uma importante janela para o BC reduzir as taxas de juros, outro estímulo adicional à atividade", explica. E mais: apesar de, num primeiro momento, o crédito no Brasil ter escasseado e encarecido, os financiamentos às pessoas físicas voltaram rápido, ao contrário dos países desenvolvidos, fazendo com que o consumo das famílias se mantivesse aquecido, segurando as vendas. "Tudo isso evitou a explosão do desemprego no país", complementa.

Para o presidente do Conselho Nacional de Imigração, Paulo Sérgio de Almeida, a busca crescente de empregos no Brasil por estrangeiros é compreensível, pois o país se tornou um dos principais receptores de investimentos externos, devido a seu grande potencial econômico. "Os investimentos feitos por empresas brasileiras e estrangeiras sediadas aqui exigem a aquisição de equipamentos e tecnologia no exterior, assim como a vinda de profissionais especializados. É um movimento natural", assegura.

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