Economia

Pré-sal movimenta empresas fornecedoras para a Petrobras

postado em 24/07/2009 07:50
Os R$ 174 bilhões a serem investidos pela Petrobras na exploração do petróleo na camada pré-sal, localizada em águas ultra profundas da costa brasileira, já estão movimentando a indústria nacional, que se prepara para oferecer equipamentos e serviços para a estatal. A corrida pelo ouro negro no Brasil pressupõe a ampliação de encomendas feitas a empresas locais que já atuam como fornecedoras da estatal e investimentos na capacitação para ampliar o leque de fornecedores entre pequenas e médias organizações. O petróleo do pré-sal está localizado a cerca de 300 quilômetros de distância da costa e, para acessá-lo, será preciso construir uma logística toda especial que envolve aluguel de helicópteros especiais, barcos de apoio, construção de centenas de plataformas feitas de aço, construção de navios, aquisição de máquinas e equipamentos sofisticados para a retirada do óleo do fundo do mar. Hoje, cerca de 70% das compras da empresa são encomendadas junto à indústria local. A Líder Aviação anunciou ontem a aquisição de seu primeiro helicóptero de grande porte da empresa, o S-92,por US$ 27 milhões. Com autonomia de vôo de 700 quilômetros, mais 30 minutos, e capacidade para 21 pessoas, o equipamento deverá funcionar como um atrativo quando as propostas da licitação para a a locação de aeronaves que deverão servir ao pré-sal forem abertas. Os envelopes foram entregues no início deste ano, informa o diretor-presidente da Líder Aviação, Eduardo Vaz. "O equipamento vai funcionar como um atrativo no momento de fechar negócio com a estatal para o pré-sal", aposta. Também de olho no petróleo do pré-sal, a Usiminas está investindo R$ 215 milhões em Ipatinga com o objetivo de aumentar a oferta de aços nobres para o setor de petróleo, gás e automotivo. De acordo com o presidente da empresa, Marco Antônio Castello Branco, o aço fabricado ali será usado na fabricação de plataformas, estruturas metálicas e tubulhões para o pré-sal. Na Delp Engenharia Mecânica, a esperança de crescimento com a exploração do pré-sal já é responsável pela manutenção de cerca de 450 empregos. "As expectativas são as melhores possíveis. De acordo com o diretor comercial da empresa, Humberto Zica, a queda das encomendas de máquinas e equipamentos decorrente da crise já provocou a demissão de cerca de 40 funcionários na empresa. "Os investimentos em formação de capital foram bruto foram interrompidos. Se a realidade fosse outra, já teríamos desmobilizado um contingente muito maior de pessoas", sustenta. Por causa das perspectivas de encomendas para o pré-sal, a Delp optou por manter o pessoal treinado para atender a Petrobras nos últimos quatro anos. Para o diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Adriano Pires, o pré-sal funcionará como um grande atrativo para a indústria brasileira, porém a participação das empresas nacionais nesse jogo vai depender da velocidade de exploração da área. "Se o pré-sal acontecer muito depressa, a indústria nacional terá dificuldades para acompanhar o ritmo. Se for com menos rapidez, terá mais chances de se capacitar", analisa. De acordo com ele, essa é uma grande chance para estimular as empresas brasileiras a tornarem-se fornecedoras da indústria petrolífera. ; Incerteza retarda investimentos A incerteza que envolve a regulamentação da exploração da pré-sal pelo governo federal ; recheada de discussões sobre a criação de uma nova estatal, a adoção de um regime de partilha de produção e a definição da Petrobras como única operadora da área-, obriga muitas empresas a retardarem investimentos voltados para a exploração do petróleo em águas profundas. É o que acontece na Mendes Júnior Engenharia, que já atua como fornecedora de plataformas para a estatal. O vice-presidente de mercado da empresa, Sérgio Mendes, diz que a empresa está esperando uma definição clara sobre o assunto. "Temos que acompanhar o processo, analisar os parceiros potenciais da Petrobras e o tipo de investimento que será necessário para atender à demanda. Já temos um esboço de como isso será feito, mas só para não sairmos muito atrás no processo", afirma. Segundo ele, a idéia é evitar gastos com investimentos que podem não fazer sentido. "Como o potencial de mercado é muito grande, acreditamos que mesmo saindo atrasados, ainda haverá espaço". Enquanto isso, a Petrobras receberá em agosto os envelopes para as propostas de construção de oito cascos de navio em série. Ainda no segundo semestre, serão lançadas as encomendas do primeiro pacote de sete sondas de perfuração em águas ultra-profundas, de um total de 28 que serão construídas pela primeira vez no Brasil. "Os fornecedores da Petrobras não podem ter visão de curto prazo pois isso será mortal para eles. O horizonte é de até 30 anos", informa Caio Pimenta, superintendente de abastecimento da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip). Segundo ele, existe uma política de conteúdo nacional, mas a dimensão do negócio muda as perspectivas. "A expectativa da indústria brasileira é grande. A crise não afetou o segmento do petróleo. Os investimentos previstos na área do se mantém equivalentes aos programados para antes da crise", sustenta. Para Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), ao tentar centralizar a riqueza do pré-sal, ainda que com a intenção de estimular a indústria nacional, o governo não pode criar uma reserva de mercado para os fornecedores nacionais sob o risco de detonar a ineficiência do processo. (ZF)

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