Economia

Crise na economia japonesa pode trazer consequências mundiais

postado em 26/07/2009 09:20
A deflação persistente, que assolou a economia japonesa durante a década de 1990, parece assombrar a ilha novamente. O próprio governo japonês admite essa possibilidade. Preços em queda desincentivam a produção, o que rima com recessão prolongada na segunda maior economia do planeta, atrás apenas da dos Estados Unidos. Por isso, as consequências não se limitarão ao Japão.

Para o Brasil, o principal impacto está em um queda de 20% nas exportações, puxada pela diminuição dos negócios com minério de ferro, frango e alumínio. O governo japonês tenta reverter a crise, mas enfrenta sérias dificuldades.

"Devemos administrar a economia com cuidado para que ela não entre em uma espiral deflacionária", afirma o ministro das Finanças do país, Kaoru Yosano. O problema é que esse quadro parece estar se consolidando. Pelo terceiro mês consecutivo, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Japão recuou. A deflação foi de 1,1% em maio em relação a igual período do ano passado. Em abril e em março, o indicador já havia recuado, registrando queda anual de 0,1% em ambos os meses.

"O Japão tem sido caso de preocupação há tempos", lembra Dante Aldrighi, economista da Universidade de São Paulo (USP), especializado em economia internacional. Nos anos 1980, crescia em ritmo acelerado, se consolidando no bloco dos países desenvolvidos. "Depois, por vários motivos, a economia entrou em um processo recessivo que durou uma década inteira. E quando, finalmente, reagiu, foi a economia mundial que entrou em crise, empurrando esse país novamente para a recessão."

Poupadores

Para ele, o Japão tem algumas peculiaridades que favorecem o processo recessivo. "No Japão, a cultura da poupança sempre foi forte. O povo nunca teve o hábito do consumo. E agora, com o fim da política de emprego vitalício nas empresas, os trabalhadores, inseguros, poupam ainda mais", analisa Aldrighi. "Também não podemos esquecer que há desemprego de 5% no Japão, concentrado na população jovem. Portanto, a renda está nas mãos da população mais velha, justamente a que tem menos necessidade de consumo."

O resultado são números assustadores. O Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 3,8% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o quarto trimestre de 2008. Em termos anualizados, a economia despencou 14,2%. A única boa notícia do Japão é que o iene, a moeda local, está se valorizando em relação ao dólar. Por um lado, isso prejudica as exportações, já que seus produtos ficam mais caros.

"Mas como o mundo está em recessão, a situação não é tão grave assim", avalia o economista. "Por outro lado, com o iene mais forte, o Japão, que tem alta poupança e muito capital acumulado, está em um ambiente favorável para investir no exterior, podendo favorecer o Brasil, que hoje é visto de uma forma completamente diferente de alguns anos atrás;, conclui Aldrighi.

Anos 90

O Japão atravessou toda a década de 1990 em recessão. Os problemas começaram nos anos 1980, quando a economia japonesa crescia em ritmo acelerado, favorecendo um processo especulativo com as ações na bolsa de valores e com os imóveis. As duas bolhas estouraram e os bancos deixaram de oferecer empréstimos.

Por outro lado, os consumidores, temendo perder seus empregos, deixaram de comprar, comprometendo ainda mais o caixa das empresas. Nessa hora, o governo japonês baixou o juro nominal a zero, o que provocou mais especulação, com os bancos aplicando dinheiro do país em juros altos de outras nações. O consumo permaneceu estagnado, produzindo uma recessão que se prolongou por toda uma década, situação da qual o Japão só saiu em 2001. (LV.

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