Economia

Banda larga móvel cresce 487% entre janeiro e junho

postado em 27/07/2009 08:23
Quando decidiu morar no Altiplano Leste, a apenas quatro quilômetros do Lago Sul, a museóloga e antropóloga Ione Carvalho não imaginou que teria dificuldade para ter banda larga em sua casa. Mas, há um ano e meio, quando se mudou para o local, veio a desagradável surpresa. "Eu entrei em parafuso porque não sabia que não tinha internet lá. Liguei para a única empresa autorizada a oferecer o serviço e me disseram que não iam instalar a linha fixa, nem a banda larga, porque não tinham interesse no Altiplano." Como professora universitária, Ione depende da internet para preparar aulas. Sem alternativa, ela resolveu comprar um modem de banda larga móvel de uma operadora de celular. "Eu estava desesperada, mas tinha medo de comprar e não funcionar. Conversei com uma amiga que usa esse tipo de banda larga no subsolo do Senado e resolvi arriscar. Foi a minha salvação", desabafa. "Hoje em dia, a gente não consegue viver sem internet", completa. A administradora de empresas Jaqueline Trinta passou por situação semelhante no Condomínio Sobradinho dos Melos, próximo ao Paranoá. "Eu precisava de uma solução, pois não queria deixar de morar lá. Como não chega telefone fixo ao local, eu necessitava de uma forma de comunicação além do celular", conta. "A internet era imprescindível, pois eu era instrutora de ensino a distância da UnB (Universidade de Brasília) e precisava ter acesso aos trabalhos dos meus alunos e também orientá-los a distância", ressalta. A saída foi fazer um plano de banda larga móvel. "Eu topava qualquer comunicação que fosse melhor do que a da internet discada. A banda larga móvel me atende muito bem, pois como o lugar é afastado, funciona melhor do que no Plano Piloto, pois não tem muita gente usando ao mesmo tempo", diz. Os casos de Ione e Jaqueline não são raridade. Nos 602 municípios onde há cobertura de redes de 3G (terceira geração), a banda larga móvel tem sido a solução para garantir acesso à internet aonde não chegam os serviços das operadoras fixas. E começa a haver concorrência nos grandes centros. Números da Teleco, consultoria especializada em telecomunicações, mostram que esse produto caiu no gosto dos brasileiros: de janeiro até o mês passado, foram vendidos quase meio milhão de minimodens. No total, são 3,6 milhões de aparelhos conectados no país. Faturamento O problema vivido por Ione e Jaqueline é uma fonte de renda privilegiada para as operadoras de telefonia móvel. "A bola da vez é a internet", afirma João Truran, diretor regional da Vivo no Distrito Federal e no Centro-Oeste. Nos locais aonde a internet convencional não chega, a demanda é ainda maior, diz o executivo. A operadora colheu informações de 21 condomínios do Jardim Botânico, próximos ao Lago Sul, e constatou que em 34% deles não é oferecida nenhuma opção de banda larga fixa. Em São Paulo, condomínios como o Alphaville têm a mesma limitação. "Parece ser inadmissível. Às vezes, a pessoa pensa duas vezes antes de morar em condomínios porque fica isolada do mundo", comenta Truran. "Para nós é ótimo, pois estamos vendendo muito bem. E Brasília responde por 32% do parque de banda larga móvel, dentro do Centro-Oeste", ressalta. O executivo compara a evolução das vendas: o mercado de banda larga fixa cresceu apenas 4,6% de janeiro a junho, ao passo que a móvel aumentou 487%, tendo por base os dados da Teleco. "Metade dos nossos clientes não usam a banda larga 3G como mobilidade", afirma Fernando Mota, gerente responsável pelas operações comerciais da Tim no Centro-Oeste. "Mesmo em lugares onde há cobertura fixa, muitos clientes preferem a internet móvel em casa, com roteadores que transmitem o sinal para toda a residência", diz. Resultado: a operadora obteve crescimento de 80% na banda larga em relação ao que foi investido. Incluindo a área da antiga Brasil Telecom (BrT), as vendas de banda larga móvel da Oi este ano tiveram aumento de 170% na comparação com o mesmo período de 2008. O investimento total em redes foi de R$ 728,4 milhões. "O 3G encontrou um grande filão nos gaps onde a fixa não chega", observa Flávia Bittencourt, diretora de Marketing da Oi. Quando foi feito o planejamento de investimentos em banda larga móvel, áreas com maior poder aquisitivo foram priorizadas, mas ela observa que nos locais mais afastados - aonde a fixa não chega - foram registradas as maiores demandas. Na Claro, o aumento de 66,3% da receita com serviços de valor agregado no segundo trimestre, ante igual período de 2008, foi alavancado pela internet 3G. "A baixa capilaridade da banda larga fixa tem participação importante nesse resultado, pois existe uma demanda reprimida gigantesca. A mobilidade é outro fator de peso", afirma Fiamma Zarife, diretora de Serviços de Valor Agregado da Claro. Preço O grande problema da banda larga móvel ainda é o preço. "Os pacotes de dados e o modem 3G são mais caros que os da fixa", observa David Toleto, analista de informações de telefonia móvel da Teleco. "O apelo do 3G é a mobilidade e, quando está funcionando, oferece velocidades iguais ou até superiores à fixa convencional. Mas a rede é fácil de congestionar, pois trafegam na mesma banda dados e voz. Por isso, se a pessoa depende da internet para o trabalho, a fixa ainda é a solução", pondera. Modem A banda larga móvel é propiciada por um modem externo que possui um chip com uma linha de celular dentro. A diferença em relação ao chip convencional é que não faz ligações, pois destina-se apenas ao tráfego de dados. O equipamento é simples de ser usado. Basta conectá-lo à entrada USB do computador convencional ou do notebook. Por ter o tamanho aproximado de um pen drive, pode ser transportado com facilidade pelo usuário. Muitas operadoras chamam o serviço de banda larga 3G.

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