postado em 02/08/2009 10:24
As medidas tomadas pelo governo para incentivar o crescimento vão injetar R$ 22,5 bilhões diretamente na economia, aumentando o consumo e os investimentos neste ano. Os cortes de impostos, o que inclui a reforma na tabela do Imposto de Renda e os estímulos à venda de bens duráveis e aos investimentos, somam R$ 12,5 bilhões. Os outros R$ 10 bilhões virão do reforço à política social, em especial à extensão do seguro-desemprego e ao impacto do aumento do salário mínimo nos benefícios previdenciários. Na estimativa do Ministério da Fazenda, o impulso será suficiente para garantir expansão de 0,5% em 2009, resultado tido como bom diante da magnitude da crise mundial.
%u201CEssas medidas significam aumento direto na renda disponível para o consumo e os investimentos. Elas atenuaram a forte desaceleração e permitiram que a recuperação comece com resultados muito bons%u201D, diz o secretário adjunto de Política Econômica, Julio Alexandre da Silva. Para ele, o país também sentirá o efeito positivo da elevação em R$ 15 bilhões nos investimentos da Petrobras e em R$ 29,5 bilhões no plano de safra, das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de itens cujos efeitos são difíceis de medir, como a redução dos juros, a retomada do crédito e o reforço do BNDES.
Ainda assim, a secretaria prefere trabalhar com uma expectativa de crescimento mais modesta que a meta oficial de 1%. %u201CEsse número é otimista. Não devemos chegar a ele porque o termo de comparação é desfavorável. O PIB dos três primeiros trimestres de 2008 foi muito forte. Acreditamos que algo em torno de 0,5%. Mas não vemos possibilidade de retração%u201D, assegura Julio. Por enquanto, a média dos analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) no relatório Focus (1)aposta em uma contração de 0,34%, projeção bem melhor que o 0,73% negativo previsto no fim de maio.
Herança
O secretário acredita que, em breve, as pesquisas do BC passarão a mostrar uma projeção positiva. No fim de 2008, quando os economistas vislumbravam efeitos devastadores da crise, as consultorias e bancos imaginaram uma retração entre 1,5% e 2% neste ano. O banco Morgan Stanley chegou a estimar um encolhimento de 4,5%. Na avaliação de Julio, esses números foram exagerados, mas se o governo não tivesse feito nada, certamente a economia andaria para trás em 2009. Para ele, outra forma de verificar o sucesso das medidas é acompanhar o comportamento do carry-over, o carregamento estatístico dos números da economia de um período para outro.
Este ano recebeu uma herança negativa de 1,5% do último trimestre de 2008. É como se a economia já chegasse em janeiro devendo 1,5%. Depois dos resultados ruins do primeiro trimestre, esse efeito piorou, passando para -2,5%. A Fazenda projeta crescimento de 0,8% no segundo trimestre em comparação com o primeiro. Com isso, o carry-over voltará para algo próximo a -1,5%. %u201CA recuperação será gradual, chegando a um aumento de 4% no último trimestre sobre o mesmo período de 2008. Isso mostrará o acerto das medidas adotadas pelo governo%u201D, aposta. Os analistas ouvidos pelo BC, porém, preveem expansão mais acanhada entre outubro e dezembro, de 2,45%.
A LCA Consultores estima expansão de 0,5% em 2009. A projeção já chegou a mais de 1%, mas foi revista nas últimas semanas em virtude da queda dos investimentos, que deve ser maior do que a esperada. Eles devem sair de um aumento de 13,8% em 2008 para um tombo por volta de 8,5% até dezembro. Para o economista Douglas Uemura, da LCA, as medidas do governo vão ajudar bastante, em especial o corte no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis, eletrodomésticos e máquinas e equipamentos para a produção. %u201CMas serão só mais um componente da equação%u201D, garante.
Uemura antevê um desempenho ainda positivo por causa da expansão do consumo das famílias, que deve ficar em torno de 3%, também melhor do que o projetado. %u201COs resultados do varejo têm sido bastante positivos%u201D, diz. As compras de bens e serviços são responsáveis por 60% da composição do Produto Interno Bruto (PIB) pelo lado da demanda. Nos cálculos da LCA, elas contribuirão com 1,9 ponto percentual do PIB neste ano, contrabalançando o efeito negativo dos investimentos (-1,6 ponto).
Julio e Uemura concordam que o setor externo deixará de contribuir negativamente para o PIB, o que ocorre sempre que a taxa de crescimento das importações é maior do que a das exportações. Em 2008, quando o PIB cresceu 5,1%, esse %u201Cvazamento%u201D foi de 2,3 ponto percentual. Neste ano, o ritmo de queda das vendas para o exterior deve ser menor do que o das compras, permitindo uma participação positiva.
1 - EXPECTATIVAS
O Focus é uma espécie de termômetro das expectativas dos analistas de mercado sobre alguns dos principais indicadores econômicos. A pesquisa, feita com cerca de 100 consultorias, bancos, fundos de pensão e outras entidades, é fechada toda sexta-feira. Os resultados são divulgados na segunda-feira seguinte. O BC averigua as projeções sobre inflação, câmbio, juros, dívida pública, crescimento econômico, produção industrial, transações externas, balança comercial e investimentos estrangeiros. Além da média, a publicação divulga também as estimativas do Top 5, grupo formado pelas cinco instituições que mais acertam as previsões de curto e médio prazo. Em junho, no último grupo, estavam Santander Banespa, HSBC Asset Management, Itaú, corretora Concórdia e HSBC Bank Brasil. (RA).