Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 07/08/2009 08:30
A resistência dos bancos em baixar a taxa de administração dos fundos de investimento, aliada à queda da taxa Selic, acabou por transformar a velha caderneta de poupança em uma das melhores aplicações do mercado. Prova disso é que a captação líquida da poupança ; diferença entre os depósitos e os saques ; ficou positiva em R$ 6,672 bilhões em julho, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. É o melhor resultado mensal da caderneta desde dezembro de 2007, quando o ingresso de recursos, encorpado pelo 13; salário, somou R$ 9,134 bilhões.Para tirar a prova do quanto a poupança se tornou rentável, o professor César Frade, do Ibmec, fez uma simulação a pedido do Correio para um investimento de R$ 1 mil. Ele projetou o rendimento da caderneta e do fundo de renda fixa para os próximos 12 meses. No caso do fundo, Frade levou em conta o Imposto de Renda de 15% incidente sobre os ganhos e as taxas de administração cobradas pelos bancos. A vantagem da caderneta ficou evidente. Seu rendimento no período, de 7,21%, superou até mesmo o fundo com taxa de administração de 1% ; ganho de 6,15%.

Cofre seguro
O engenheiro Fábio Resende é um investidor que, mesmo tendo um amplo leque de aplicações à disposição, não deixa a poupança de lado. ;O Brasil caminha para uma taxa de juros reais de 4% ao ano. Nesse cenário, fundos de investimento são pouco atrativos, já que a taxa média de administração está hoje em 2,5%;, afirmou. Resende está convencido de que, para o pequeno e médio investidor, que tem até R$ 10 mil para aplicar, a poupança é o melhor investimento.
O conselho de Resende é o mesmo que vem sendo dado pelos gerentes dos bancos. O Correio percorreu quatro instituições, sendo três privadas e uma estatal , para averiguar qual a melhor aplicação para um investimento de R$ 1 mil. Em todas, a orientação foi uma só: aplicar na poupança. ;Se você busca rentabilidade, tem que procurar os extremos. Ou é conservador e investe na poupança, ou é ousado e aplica em fundos de ações;, orientou um gerente.
[SAIBAMAIS]O empresário João Feijão optou pelo conservadorismo. ;Já invisto na poupança há mais de 35 anos. Fiquei muito decepcionado com o episódio Collor (confisco dos recursos em 1990), mas permaneci investindo;, contou. Persistente, João se manteve como aplicador mesmo durante as crises financeiras, quando as taxas de juros disparavam e, com elas, os lucros dos fundos de investimentos. ;Embora não fosse tão lucrativa, a poupança me dava segurança;, justificou.
Já Angelina Souza faz da poupança seu cofre de urgência. ;Uso mais para ter uma segurança no momento de aperto;, disse a investidora, que aplica na caderneta há nove anos. ;Já pensei em comprar ações, mas fiquei com medo dessa história de queda na bolsa (de valores). E pensei: é melhor eu deixar meu dinheiro lá bem quietinho;, acrescentou.
Até o momento os poupadores não parecem preocupados com a intenção do governo de taxar os ganhos da caderneta acima de R$ 50 mil a partir de janeiro de 2010. O Ministério da Fazenda parece que esqueceu o assunto. Ninguém no governo fala mais sobre isso. Muitos têm em mente que essa é uma medida impopular em períodos eleitorais. (Colaborou Daniel Gonçalves, especial para o Correio)
; Palavra de especialista
Aplicação imbatível
;A rentabilidade da poupança, hoje, é quase imbatível. A aplicação é corrigida pela taxa referencial de juros (TR) e tem, por lei, mais 0,5% todo mês. E com a Selic como essa, em 8,75% ao ano, somente um fundo com taxa de administração de 0,5% poderia empatar com a poupança. E ainda tem a parcela do Imposto de Renda. Na poupança, o investidor está isento. E por isso que qualquer fundo que cobrar taxa de administração de 1% ou mais ao ano vai perder para a poupança. A conta é simples, quem investe em fundos com essa taxa acima de 0,5% está perdendo. Eu diria hoje que, para o pequeno e médio investidor, é melhor apostar na poupança.;
Ricardo Rocha, economista do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper)