Daniel Gonçalves
postado em 14/08/2009 08:41
As classes C, D e E serão as âncoras do Natal. São 35 milhões de famílias que gastam R$ 1,3 trilhão por ano e respondem por 78% do consumo dos lares brasileiros. Essa parcela da população teve seu poder de compra blindado em meio à crise mundial e, segundo especialistas, salvará a lista de presentes do Papai Noel em 2009, invertendo a lógica de 2008, quando o foco eram os segmentos B e C. "No fim do ano passado, tínhamos expectativa maior de consumo para as classes B e C. Este ano, são as pessoas das classes C, D e E que devem ter maior expressão nas compras", ressalta Roque Pellizzaro Junior, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
[SAIBAMAIS]Na visão de Fátima Merlin, diretora de varejo do instituto Latin Panel, essa migração do poder de compra se deve à característica da crise, que foi financeira e, não, conjuntural. "As classes A e B foram as que no último ano tiveram, de fato, impactos no rendimento. E como são poucos os consumidores que têm investimentos, houve impacto maior nos segmentos que têm disponibilidade de recursos e investem em bolsa e em outras aplicações."
Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostram que as classes A e B, que vinham crescendo a taxas de 35% desde 2003, perderam 0,6% de participação entre as faixas de renda em dezembro. Em janeiro, o tombo foi de 2,2%. Nesse mesmo período, as classes C, D e E se mantiveram estáveis. "As classes mais baixas é que segurarão a demanda do comércio e a estrutura de renda do país. Serão o 'Pelé' da economia brasileira", compara o professor Marcelo Néri, pesquisador da FGV.
A bonança da base da pirâmide é consequência, explica Néri, da ampliação da renda que essas parcelas da população tiveram nos últimos anos em função do reajuste do salário mínimo em percentuais superiores à inflação, do maior acesso ao crédito e de programas de transferência de renda.
Fátima Merlin destaca o Bolsa Família, já que o benefício de R$ 90 mensais representou ganho de quase 80% na renda dos contemplados. Essa iniciativa, aliada às demais, fez com que de 2007 para 2008, 2,15 milhões de famílias ascendessem entre as faixas de consumo, saindo da classe C para B ou de D para C. "São essas classes que vêm se destacando no consumo, principalmente quando olhamos para o setor de alimentos, higiene, limpeza e bebidas. Quase 80% da população brasileira pertence às classes C, D e E e que ainda têm enorme potencial", destaca Fátima Merlin.
Custo-benefício
Atentas à reação positiva nas classes populares, indústria e varejo diversificaram o mix de produtos, em que prevalece a relação custo-benefício, para atender aos anseios desse público. "A classe mais rica tem como segurar sua demanda, pois tem as necessidades satisfeitas. Já as classes mais baixas querem comprar mesmo. Mas o consumo será mais consciente. Em vez de adquirir um computador com 250 giga de memória, vai ter um de160, por exemplo", afirma Pellizzaro. "O consumidor pós-crise ficou diferente, ficou mais pé no chão. A crise nos puxou um pouco para a realidade", reforça.
Para o professor Claudio Felisoni, coordenador do Programa de Administração do Varejo (Provar/USP), o Plano Real, que controlou a inflação (com a recente redução dos juros e o alargamento dos prazos de pagamento), fez com que a base da pirâmide ampliasse o acesso a bens de maior valor, que terão lugar garantido no Natal. "Os indicadores de expectativa de compra de julho a setembro foram os melhores dos últimos seis anos", ressalta. Dados do IBGE divulgados ontem mostraram que as vendas do comércio aumentaram 1,7% em junho frente a maio.
Laptops, câmeras digitais e celulares fazem parte da lista de desejos das pessoas, independentemente de classe social, aponta Luiz Góes, sócio sênior da GS - Gouvêa de Souza, observa que esses itens são desejos de todas as classes sociais. "Eles estão na lista, há oferta de crédito e os índices de confiança do consumidor estão crescendo até agora", diz.
Seis mil vagas em Brasília
O Distrito Federal abrirá 6 mil vagas para trabalhadores temporários no fim do ano. A projeção é do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista), que informou que as lojas de departamento, confecções, eletrodomésticos, celulares, calçados, perfumaria, cosméticos e eletroeletrônicos serão os segmentos que mais demandarão funcionários extras. O sinal verde para as contratações foi dado e os interessados devem encaminhar currículo para o site www.sindivarejista.com.br, com previsão de serem chamados em outubro. Segundo a entidade, 20% dos empregados temporários em Brasília são contratados em janeiro, quando várias lojas renovam o quadro de funcionários. O grande número de contratações no fim de ano é resultado do otimismo dos lojistas, que esperam vender mais no fim deste ano do que em 2008.