postado em 15/08/2009 08:33
O nervosismo que tomou conta do mundo no fim do ano passado, com o estouro da bolha imobiliária americana, bateu fundo na indústria de brindes. A primeira coisa que as empresas cortaram, na tentativa de amenizar os estragos, foram os chaveiros, as canetas e os calendários com os quais, historicamente, presenteavam clientes e fornecedores. A redução foi tamanha que as fabricantes de brindes viram as vendas despencar 30% - ou seja, R$ 1,8 bilhão a menos no faturamento em relação a 2007 - e tiveram que demitir 25 mil trabalhadores. Muitas foram à falência. Felizmente, bradam os empresários do setor, o pior ficou para trás.
[SAIBAMAIS]Com o aquecimento da economia no segundo semestre, seus produtos voltaram a ser demandados. A expectativa da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Promocionais (Approm) é crescer 11% em relação a 2008. E, com isso, recontratar a força de trabalho para atender o número crescente de pedidos.
Otimismo
"Pelo que estamos sentindo, acredito que a minha empresa crescerá perto de 35% neste ano", diz Cássia Silva, diretora comercial da Futuro Mundo Gráfica e Editora, fabricante de agendas. Confiante, ela afirma que agosto de 2009 começou bem diferente do mesmo mês do ano passado, com mais cotações de preços e pedidos. "Este semestre, com certeza, deve ser muito melhor que o de 2008", aposta. "Começamos a produzir em fevereiro as agendas que serão distribuídas em 2010. Temos um bom estoque para atender a demanda", garante.
Segundo a Approm, o setor sentiu a crise por tabela. Como é dependente de empresas como a Petrobras, a Vale e os bancos públicos e privados, viu seus principais clientes cancelarem pedidos importantes. "Cortaram pela raiz. Houve empresas que cancelaram quase tudo", afirma o vice-presidente da associação, Marcos Antônio Lucas.
Algumas fábricas de brindes precisaram mudar o foco para não sumir do mercado. "O segredo para suprir foi buscar novos clientes, empresas menores", afirma Eduardo Gil Cardeal, diretor da GraphPlus Produtos Promocionais. "Este fim de ano vai ser melhor que o de 2008 porque não tem como ser pior. Dos últimos 10 anos, o ano passado foi o mais negativo para as empresas de brindes", acrescenta.
Em períodos normais, a indústria de brindes costuma contratar, em média, 50 mil temporários por ano, número que não se repetiu na crise. Para o fim de 2009 e o início de 2010, a expectativa é que ao menos os 25 mil demitidos sejam reabsorvidos gradualmente. "Ainda não dá para estimar quanto contrataremos agora, mas, certamente, isso vai acontecer", afirma o vice-presidente da Approm.
Efeito Anvisa
Além da crise, a indústria de brindes perdeu uma fatia importante do mercado em 2008, correspondente a 30% da clientela: os laboratórios farmacêuticos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a veiculação dos nomes de remédios e empresas em canetas e outros tipos de brindes. A situação foi parar na Justiça e, em abril de 2009, a Approm conseguiu uma reversão parcial. Uma autorização para usar somente os nomes dos laboratórios nos brindes - os dos medicamentos continuam proibidos. "Nós conseguimos, mas perdemos o ano. As empresas trabalham com orçamento anual", explica Marcos Lucas.
A vitória parcial é um folêgo a mais para o segmento, que aposta em 2010 como o momento de reconquista do que foi perdido na turbulência financeira. "Foi difícil para a indústria se acostumar com a ausência da Petrobras e dos laboratórios, são nossas duas maiores fontes de receita", afirma o diretor da GraphPlus, que espera um incremento de 50% em comparação com 2008.