Economia

Concurseiros contratam auxiliares pessoais para melhorar a qualidade dos estudos

postado em 17/08/2009 08:31
O prazo entre o lançamento do edital e as provas de concursos públicos está sendo reduzido bruscamente e criando um grande dilema aos candidatos. Como conciliar o tempo curto com a extensa lista de matérias cobradas pelas bancas? O impasse tem feito pipocar métodos e estratégias nos cursos preparatórios, livrarias e internet. A peregrinação em busca de uma vaga no serviço público esbarra em como solucionar essa equação. Escolhas sobre quando começar, como e o que estudar mudam de uma técnica para outra, mas todas têm como pilar a disciplina como primeiro passo para o sucesso. As palavras mais comuns quando se refere ao sucesso na batalha dos concursos públicos são persistência, determinação e motivação. O lado emocional é um item primordial para que os obstáculos deixem de ter importância e abram espaço para atingir outras metas. Na percepção de especialistas, saber todo o conteúdo não é garantia de aprovação. Foi pensando nisso que o servidor público e empresário André Mendes, 33 anos, procurou a ajuda de uma coaching para colocar na balança e descobrir o que estava interferindo a sua preparação. Há dois meses de prestar a prova para técnico legislativo do Senado, ele ainda estava digerindo a reprovação, por um ponto, no concurso para analista de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). "Senti como se tivessem tirado a minha vaga das minhas mãos. Fui prejudicado pelo resultado, que alterou os gabaritos de todos os candidatos", diz. "Os objetivos do André sempre estiveram claros, mas ele precisava entender que de nada adiantaria continuar cultivando essa raiva", explica Sabrina Ferroli, da Homero Reis e Consultores. O trabalho de coaching desenvolvido por ela foi indicado para que André Mendes não continuasse se prejudicando. "Vim em um ritmo de estudo muito bom desde o início do ano passado, tinha me saído bem na prova para gestor do Ministério do Planejamento, mesmo não sendo aprovado. Estava animado e motivado", lembra o bacharel em cinema e relações internacionais. Novidade A prática do coaching é mais conhecida nos meios organizacionais e, apesar de não ter um conceito predeterminado, consiste em um processo de expansão de consciência, autoconhecimento e alcance de objetivos. A maior vantagem aos concurseiros é a busca da estabilidade emocional, levantando as expectativas e as reais motivações, o que auxilia diretamente na sistematização do estudo. Apesar da proximidade com a terapia tradicional, o coaching não tem a pretensão de substituir o trabalho dos psicólogos - ainda que esse profissionais possam ser coachs. "O coach não aconselha, ele põe um ponto de interrogação na consciência do coachee (cliente do coaching). É bem diferente do processo psicoterapêutico", justifica Sabrina. No caso de André Mendes, foram seis sessões - normalmente são recomendadas 10 sessões, que tem custo de R$ 250, cada - para ajudá-lo a mudar de atitude e reverter o que parecia um fracasso em um incentivo. Ele aprovou o método: "Sempre fui cético e nunca achei que qualquer coisa que parecesse com terapia fosse para mim. Estudava por estudar, com ânimo zero. Refiz minha rotina". Equilíbrio O professor e juiz do trabalho Rogerio Neiva Pinheiro aproveitou a experiência pessoal bem-sucedida para criar uma ferramenta de estudo e publicar o livro Concursos públicos e exames oficiais - preparação estratégica, eficiente e racional, lançado em março. "Eu não tenho dúvida em afirmar que o planejamento de estudo começa com a identificação da necessidade e a montagem correta de um planejamento", diz Neiva, que foi aprovado em mais de cinco seleções. Por necessidade, ele se refere às disciplinas a serem estudadas e o tempo disponível para cumprir o cronograma. Para sustentar o que viveu na prática, Rogerio buscou fundamentos na neurociência e psicopedagogia para compor a publicação. "Estudar para concursos públicos é um empreendimento cognitivo e intelectual, mas é também necessário condicionar as ações", justifica. A etapa seguinte foi adequar suas idéias ao meio tecnológico. Assim surgiu o Tuctor, um "banco de estudos" na internet. Segundo o professor Neiva, após o cadastramento, o aluno tem acesso a um software que permitirá a elaboração do plano de estudo. Depois de adicionar toda bibliografia com dados como título, autor, número de páginas, data da prova e ritmo de leitura é possível visualizar o que ele chama de "grade horária inteligente", ou seja, uma planilha com a distribuição das disciplinas de acordo com semelhança entre elas e com a disponibilidade semanal de estudo. "É uma proposta de otimizar os esforços. Qualquer um pode se adequar. A diferença será o tempo que cada pessoa levará para cumprir o que foi planejado", justifica. A partir do momento em que o candidato faz a adesão - a um custo de R$ 15 por bimestre - terá que atualizar semanalmente se tem cumprido ou não o programado. No caso de esquecimento, o sistema é programado para enviar e-mails questionando a ausência. "Preencher a grade é só a primeira etapa. É preciso disciplina e acompanhamento, o que vai manter o candidato no rumo desejado", lembra Neiva. "Treinador" A atividade especializada praticada pelo coach que ajuda pessoas (coachee) a atingirem metas profissionais e pessoais. O coach tem como papel principal auxiliar o coachee a descobrir o que lhe impede de alcançar as metas por meio de um processo pessoal de desenvolvimento de aprendizagem por si mesmo, utilizando mais perguntas e respostas do que dizendo diretamente Na web Tuctor é sistema online criado pelo professor Rogerio Neiva que tem como finalidade elaborar e manter um planejamento de estudos voltado à preparação de concursos públicos estimulando a disciplina e estratégia. No www.tuctor.com.br é criada uma conta de estudos que após fornecer dados, é capaz de estimar prazos de estudos de acordo com o tempo disponível pelo candidato e a data da prova. Estudo entre amigos A diversidade de métodos que o advogado Silas Batista Correia, 26 anos, conhece foi suficiente para que ele desenvolvesse um próprio. Há oito meses, ele e quatro amigos estudam sob uma organização diferente autodenominada "estudos cíclicos". "Quando iniciamos os estudos, em janeiro, ninguém havia sido aprovado em concursos. Passado esse tempo, fui aprovado para analista do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) e na primeira fase da Polícia Militar, um colega para Polícia Civil de Goiás e outro para especialista na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)", contabiliza Silas. A proposta divide as tarefas de aluno e professor. Cada participante deve preparar um material para tirar dúvidas dos demais e propor exercícios e discussões. "Cada um seleciona 10 questões, estuda bem as respostas lendo em livros, depois leva o material para a reunião. Somados 40 questões a serem resolvidas. Quando um não souber a resposta, o outro que a preparou saberá responder", detalha o advogado. As questões não são escolhidas ao acaso. O edital é seguido à risca. As questões são separadas de acordo com cada tópico. Os encontros ocorrem uma vez por semana, sempre à noite, no salão de festa do condomínio de um dos estudantes. De acordo com o concurso em que desejam ser aprovados, há adaptações aos estudos: provas discursivas e orais envolvem resolução de questões específicas. Para o segundo semestre, o grupo de amigos de Silas está aperfeiçoando a técnica, associando todos os sentidos por meio de apresentação de seminários, a resolução de questões objetivas e discursivas e a leitura de textos.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação