Economia

Crédito bate recorde a um custo maior

Total de financiamentos chegará a 47% do PIB. Mas, sem opções de empréstimos baratos, empresas aceitam pagar juros mais altos, o que elevou o calote para um patamar histórico, de 5,9%

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 27/08/2009 08:00
O volume de crédito está tão elevado que obrigou o Banco Central a subir em dois pontos percentuais a projeção para o ano. Nofim de 2009, a relação crédito/PIB deverá estar em 47% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em julho, a quantidade de dinheiro à disposição de pessoas físicas e empresas ; R$ 1,311 trilhão ; atingiu a meta fixada para 2009, que era de 45% do PIB. Tanto dinheiro no mercado, no entanto, não significa melhores condições de juros e prazo para os tomadores. Ao contrário. Para as empresas, principalmente as pequenas, e também para os trabalhadores da iniciativa privada endividados, o financiamento está caro e o resultado é o crescimento da inadimplência.

No agregado, que soma as operações de pessoas físicas e jurídicas, o aumento da inadimplência não é alarmante. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, o índice de atraso no pagamento sobe apenas 0,2 pontos percentuais, passando de 5,7% das operações, em junho, para 5,9% em julho. O problema fica evidente quando as operações são separadas. Para as empresas, por exemplo, a inadimplência sobe de 3,4% para 3,8% ao mês, sendo que o atraso no pagamento está concentrado em duas modalidades de financiamento muito buscadas pelos pequenos empresários, como o desconto de duplicatas e a conta garantida.

;A inadimplência da pessoa jurídica bateu recorde;, reconheceu o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. Ele pondera, entretanto, que existe uma expectativa de redução. O índice de atraso nas operações vencidas até 90 dias começa a cair. As operações com taxas de juros mais altas são as que têm maiores níveis de atraso no pagamento. Um exemplo é a conta garantida, espécie de cheque especial para as empresas. Esse dinheiro de curto prazo, usado por um período médio de 23 dias, custa 81,8% ao ano. Nessa operação, o índice de inadimplência passou de 4,5% para 4,7%.

Para as pessoas físicas, o índice total de inadimplência está estável em 8,6% das operações, mas sobe para 10,5% para 11,3% no cheque especial, a modalidade de crédito mais cara que existe, com exceção do financiamento rotativo do cartão de crédito. Os juros do cheque especial subiram de 167% ao ano, em junho, para 167,3% no mês passado. Em outras modalidades de crédito para as pessoas físicas, os juros estão em baixa. Um exemplo é o crédito pessoal, cuja taxa passou de 45,6%, em junho, para 44,8% em julho. A taxa para a aquisição de veículos ficou estável nos últimos dois meses, em 26,9% ao ano.




; Consignado é o mais barato

O crédito consignado, que é a operação mais barata do mercado, está dominado por funcionários públicos e aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). São eles que mais têm acesso a esse tipo de operação. Do total de R$ 94,609 bilhões de financiamentos concedidos, os trabalhadores do setor público e os aposentados são responsáveis por R$ 81,951 bilhões, ficando os trabalhadores da iniciativa privada com apenas R$ 12,658 bilhões.

A taxa de juros desse tipo de operação, que oferece pouco risco para os bancos porque o desconto do valor da prestação do financiamento é feito diretamente no contracheque do cliente, até subiu um pouquinho, de 27,9% ao ano, em junho, para 28% ao ano em julho. Mesmo assim é a melhor taxa para quem precisa de dinheiro extra para chegar até o fim do mês ou para pagar as contas.

No ano, o volume de crédito consignado já acumula um crescimento de 19,9%, chegando a 28% em 12 meses. É um percentual até mais alto do que o crédito pessoal, cuja crescimento em 12 meses está em 24,4%. O volume total do crédito pessoal alcança R$ 164,869 bilhões. O crédito consignado representa 57,4% do crédito pessoal, que tem a taxa mais elevada, 44,8% ao ano. No mesmo patamar de juros do crédito consignado, só o financiamento para veículos que oferece de garantia ao credor o próprio bem. No financiamento de veículos a taxa de juros está em 26,9% ao ano.

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