Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 30/08/2009 09:52
A taxa de juros básica (Selic) da economia deverá ser mantida em 8,75% na reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, permanecendo nesse nível até o fim de 2009. Pela primeira vez em muito tempo essa é a opinião unânime dos economistas consultados pelo Correio, que, por outro lado, vislumbram a possibilidade de alta da taxa na segunda metade de 2010.Após o encontro marcado para terça e quarta-feira desta semana, os membros do comitê voltarão a se reunir apenas mais duas vezes antes do encerramento do ano. Para o economista Gustavo Loyola, sócio-diretor da Tendências Consultoria, o Banco Central foi explícito em sua mensagem na última ata do Copom, divulgada uma semana após a reunião de julho na qual foi decidido o corte de 0,5 ponto percentual na taxa. ;Tudo indica que não há necessidade de aumento de juros;, observou. Loyola lembrou que a indústria brasileira ainda tem que operar bastante para reduzir a capacidade ociosa provocada pela crise econômica.
Com o nível de produção baixo, pelo menos no restante deste ano são reduzidos os riscos de pressões de preços. Devido a isso, todas as análises de mercado indicam que a inflação se manterá dentro da meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Na ata do Copom mencionada por Loyola foi informado que a decisão de se fixar a Selic em 8,75% não foi unânime e que, já em julho, o comitê considerou a opção de paralisar o movimento de baixa da taxa básica. ;Apesar de alguns membros do Comitê entenderem que haveria respaldo para a possibilidade de manter inalterada a taxa básica de juros já nesta reunião (encontro de julho), houve consenso de que o balanço dos riscos para a trajetória prospectiva central da inflação ainda justificaria estímulo monetário (corte de juros) residual;, informou o Banco Central no comunicado.
Com Loyola concorda o economista-chefe do HSBC, André Loes. Ele também aposta na manutenção da taxa diante do cenário atual. Mesma posição tem o economista Elson Teles, da Concórdia Corretora, que considera que o Banco Central deixou claro que encerrou o ciclo de flexibilização da política monetária. ;Não houve alteração significativa do cenário da última reunião para a que vai acontecer agora;, comentou.
Estímulos
Avaliação semelhante tem o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. Os economistas da instituição apostam na manutenção da taxa até, pelo menos, no terceiro trimestre de 2010. ;A economia já conta com bastante estímulo. Os juros foram cortados, os incentivos fiscais estão em curso e o crédito começou a voltar;, analisou um economista da instituição. Para esse economista, o Brasil saiu rápido da crise e não precisa agora de uma dose adicional de estímulo. ;Se der mais agora, vai ter que subir mais lá na frente;, ponderou.
Na última ata, o Copom foi direto na mensagem que quis transmitir aos analistas: ;O Comitê entende que decisões sobre a evolução da taxa básica de juros têm que levar em conta a magnitude do movimento total realizado desde janeiro (corte de cinco pontos percentuais, a contar da taxa Selic de 13,75% em dezembro do ano passado), cujos impactos sobre diversos indicadores econômicos ficarão evidentes ao longo do tempo;.
Guinada
Para 2010, no entanto, a situação é outra. Os economistas acreditam os juros voltarão a subir no segundo semestre do próximo ano. ;Em 2010, a economia estará crescendo e poderemos conviver com uma ou duas altas da taxa Selic no fim do ano;, afirmou Elson Teles. Na avaliação do ex-presidente do BC, Gustavo Loyola, a economia crescerá acima de 4,5% no ano que vem. ;Se esse cenário se confirmar, os juros devem mesmo subir para que o BC consiga manter a inflação dentro da meta;, disse. Os economistas do Bradesco trabalham com o cenário de elevação da taxa Selic no último trimestre de 2010.
A tendência de alta para 2010, antecipada pelos economistas, é reforçada pela ata da reunião do Copom de julho. De acordo com o comunicado, ;importantes estímulos monetários (reduções de juros) e fiscais (ampliação de gastos) foram introduzidos na economia nos últimos meses;. Esses estímulos, segundo o documento, deverão contribuir para a retomada da atividade e, consequentemente, para a redução na margem de ociosidade dos fatores produtivos.
O economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, também não acredita em uma elevação de taxa nesta semana. Na análise de conjuntura que desenvolveu sobre política monetária, ele disse que o Copom ficou devendo mais 0,50% de corte na taxa. ;O Copom avisou que não quer correr o risco de reversão abrupta em sua política monetária: com isso, o atual nível da Selic ainda precisa mostrar efeitos expansionistas sobre a atividade antes da inevitável alta; , escreveu na análise.