Agência France-Presse
postado em 04/09/2009 16:41
A América Latina vai precisar de uma década para reduzir a fome ao patamar de antes da crise econômica internacional, se conseguir promover a agricultura e aumentar a produtividade agrícola, disseram especialistas da ONU nesta sexta-feira na cidade do Panamá, capital do Panamá.
"Não é nada absurdo pensar que vamos demorar 10 anos para voltar aos níveis anteriores à crise. A situação não é boa, francamente", disse Jaime Vallaure, representante do Escritório da vice-direção executiva do programa mundial de Alimentos (PMA).
[SAIBAMAIS]Na América Latina e no Caribe, há 53 milhões de famintos (12.8% da população) oito milhões a mais do que dois anos atrás, apesar de produzirem 30% a mais dos alimentos que precisam, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).
Além disso, 190 milhões de crianças sofrem de desnutrição crônica na América Latina.
O aumento dos preços dos alimentos e a crise econômica internacional fizeram com que a América Latina voltasse, com estes 53 milhões, aos níveis dos anos 90, e não há previsões de melhoras a curto prazo.
"A América Latina e o Caribe tiveram uma sensível melhora nos primeiros anos do século XXI. Mas todo o ganho foi perdido nos últimos anos", admitiu Deodoro Roca, coordenador para a América Central da FAO.
Segundo especialistas da ONU, a crise afetou a renda real e, com isso, dificultou o acesso a alimentos em quantidade e qualidade, sobretudo nas casas de famílias mais pobres, tornando mulheres, crianças, idosos afro-descendentes e povos indígenas mais desnutridos.
Vallaure afirmou que a população que havia saído da pobreza está retornando a ela, calculando em 12% seu crescimento no último ano e meio na região.
Para reduzir a fome, os especialistas recomendam melhorar a produção agrícola, facilitar o acesso aos mercados e fomentar a agricultura familiar, que emprega dois em cada três agricultores e da qual dependem cerca de 100 milhões de pessoas, recomendou a FAO.
"Precisamos aumentar o gasto público com agricultura e desenvolvimento rural, ajudando o pequeno produtor com assistência técnica, com infraestruturas, mecanismos de microfinanciamento e acesso aos seguros", disse Roca.
Para ele, a crise evidenciou "os limites e as fragilidades geradas pela ênfase dada à agricultura de exportação, pois quando os países industrializados entram em crise deixam de importar produtos não essenciais".