Agência France-Presse
postado em 24/09/2009 21:24
Os países emergentes travam uma disputa com os europeus para conseguir fazer com que a cúpula do G20, que começa nesta quinta-feira, em Pittsburgh (EUA), se comprometa formalmente com uma rápida reforma do poder de voto no FMI, revelou o assessor da presidência do Brasil para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
Os países europeus estão mostrando um certo "retraimento" nas discussões em nível de especialistas, disse Marco Aurélio Garcia, em declarações à imprensa.
[SAIBAMAIS]Garcia espera, no entanto, que a cúpula destrave a questão, para que o Fundo Monetário Internacional (FMI) possa aprovar a reforma já em sua reunião anual, que será realizada de 1º a 7 de outubro, em Istambul. "Isso seria o ideal", disse.
Os países industrializados possuem mais da metade das cotas do FMI, e os emergentes dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) exigem receber uma transferência de 7%, em função do peso que suas economias adquiriram nas últimas décadas.
Esse transferência afetaria sobretudo os europeus, que têm atualmente mais de 32% das cotas.
Com a divisão atual, um país como a Holanda (2,34% das cotas) tem peso maior do que Índia (1,89%) e Brasil (1,38%), e pouco inferior ao da China (3,66%).
Marco Aurélio Garcia indicou que os Estados Unidos (16,77% das cotas) propuseram nas reuniões preparatórias de Londres que, com a nova divisão, os emergentes tenham em torno de 5% a mais de cotas, mas constatou que existe "certo retraimento" europeu, inclusive em relação a essa ideia.
"O problema é mais com os europeus" do que com os norte-americanos, indicou.
Os europeus, segundo Garcia, pretendem "restabelecer um certo equilíbrio" com transferências de votos com diversos critérios, "mas não introduzem a questão concreta, que é a dos emergentes".
A crise econômica que eclodiu há um ano nos Estados Unidos e na Europa deu novo impulso às exigências do Brasil em favor de uma reforma das instituições multilaterais (FMI e Banco Mundial), que haviam se tornado promotoras das políticas neoliberais que atualmente sofrem um forte descrédito.
Esse foi um dos pontos defendidos na quarta-feira por Lula na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, como parte de suas propostas por uma nova governança global.
Garcia foi incisivo: nos anos 90, o FMI e o Bird "nos aconselhavam: 'Não façam esta ou aquela política' (...), mas não foram capazes de aconselhar aqueles que provocaram a crise", afirmou.
Por isso, o Brasil considera que a reforma do FMI é essencial para que possa assumir plenamente o papel de protagonista para enfrentar crises atuais e futuras.
O presidente em exercício da UE, o premier sueco, Fredrik Reinfeldt, reconheceu que o FMI deve aceitar a evolução do mundo, mas advertiu que isto também implica em um aumento das cotas de participação financeira dos países que querem mais poder.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner, se disse confiante em um acordo no G20 sobre o tema da representação no Fundo.
Outras reformas aguardam, como a do fim do acordo tácito que até agora conferia à liderança do FMI aos Estados Unidos e a do Bird a um europeu.
Mas "a primeira coisa que temos que resolver é o problema da participação. Cada coisa em seu momento", disse.
Os BRICs contribuíram com a recapitalização do FMI para enfrentar a crise; o aporte, por meio da compra de bônus, foi de 50 bilhões de dólares por parte da China e de 10 bilhões por parte de Brasil, Rússia e Índia, respectivamente.