Agência France-Presse
postado em 02/10/2009 16:02
A incipiente recuperação econômica divide a América Latina entre os países que estão pagando as consequências de sua proximidade com os Estados Unidos e os que se beneficiam de suas crescentes relações com a China, atual locomotiva mundial, estimaram especialistas nesta sexta-feira.
"A economia americana está melhorando, mas com muitas incertezas. O efeito sobre a América Latina será diferente de acordo com o nível de preparação dos países e sua relação com os Estados Unidos e a Ásia", disse Nicolás Eyzaguirre, diretor do FMI para a América Latina, durante uma conferência em Istambul.
Em suas previsões, divulgadas na véspera, o FMI anunciou que a região começou a se recuperar a alcançará um crescimento de 2,9% em 2010, mas com uma grande disparidade entre países como o México, que dependem amplamente dos EUA, epicentro da crise, e os que se beneficiaram, como o Brasil, do aumento de suas exportações para a China.
[SAIBAMAIS]Enquanto o gigante sul-americano sofrerá este ano uma moderada contração de 0,7% antes de crescer a 3,5% em 2010, o México - a outra grande economia regional - sofrererá em 2009 uma forte recessão de -7,3% antes de avançar a 3,3% no próximo ano, prognosticou o FMI.
"Se não fosse pelo China, não teríamos registrado um crescimento da economia brasileira no segundo trimestre", admitiu Ilan Goldfajn, economista chefe do Itaú Unibanco, em uma conferência organizada à margem da reunião anual do FMI, que acontece até quarta-feira na capital turca.
Graças a suas relações com a Ásia, onde a demanda por matérias-primas aumentou no segundo trimestre, o Brasil passou a liderar a recuperação da economia latino-americana.
Goldfajn, ex-vice-diretor do Banco Central do Brasil, lembrou que as exportações brasileiras para a China "estão superando exatamente neste momento as destinadas aos Estados Unidos", algo inédito na história econômica do país.
O economista não hesitou ao afirmar que a recuperação "dependerá da proximidade do país com os Estados Unidos, se está perto demais ou não".
O México, assim como os centro-americanos e caribenhos - muitos dos quais têm tratados de livre comércio com Washington - depende não apenas de suas exportações para os Estados Unidos, mas também, em maior ou menor medida, das remessas de seus imigrantes, espalhados pela maior economia mundial.
David Robinson, vice-diretor para a América Latina do FMI, lembrou a importância da economia americana para moderar o entusiasmo generalizado pela China, que assumiu este ano o posto de locomotiva da economia mundial, com um crescimento estimado de 8,5%.
Como exemplo, o economista indicou que "um crescimento do PIB potencialmente mais fraco do que o previsto nos Estados Unidos, e também em alguns países da zona do euro, afetará a América Latina", e destacou que, se a economia americana crescer 6% menos que o estimado nos próximos anos, a região perderá cerca de 3% de seu PIB.
Robinson advertiu, porém, que as taxas de crescimento da América Latina não devem alcançar tão cedo os níveis pré-crise, quando a região acumulou quase seis anos de bonança econômica, em grande parte graças às exportações de matérias-primas para a Ásia.
Goldfajn se declarou convencido, no entanto, de que a região sairá ganhando graças a suas relações com a China.
"A região já parece se preparar para o dia em que o mundo vai se reequilibrar em direção à Asia", concluiu.