Economia

Indústrias em lenta recuperação

Na oitava alta no ano, produção industrial avança 1,2% em agosto. No entanto, resultados são incipientes e não impedem queda de 12%

postado em 03/10/2009 08:58
O fim do ciclo de ajustes nos estoques impediu um crescimento mais forte da atividade industrial em agosto, que avançou apenas metade do que havia expandido em julho. "Mantendo nos últimos quatros meses deste ano o ritmo de variação observado em agosto", avalia o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), "a indústria voltará ao seu nível máximo alcançado em setembro de 2008 somente em maio do ano que vem", analisa o instituto, em nota. Em agosto, a produção industrial registrou a oitava alta consecutiva, acumulando ganhos de produção de 13,5% no ano. Ante julho, houve aumento de 1,2%, o que, no entanto, foi insuficiente para reverter o tombo de 7,2% ante o oitavo mês de 2008. Nos 12 meses terminados em agosto, verificou-se queda de 8,9%. E no acumulado do ano, o recuo já chega a 12,1%. "Ainda que tenhamos visto resultados negativos (nessas comparações), a leitura do dado em agosto é positiva, mesmo porque a queda na produção foi abrupta, e 2009 ainda é um ano de incertezas", detalha a economista Isabela Nunes, coordenadora da Pesquisa Industrial Mensal Produção Física, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No oitavo mês do ano, verificou-se expansão em 15 das 27 atividades pesquisadas pelo instituto. As maiores altas, no entanto, vieram dos segmentos de material eletrônico e equipamentos de comunicação (9,1%), refino de petróleo e produção de álcool (3,5%), veículos automotores (3,2%) e metalurgia básica (2,7%). "O forte crescimento da produção de papel ondulado (1,6%) indica recuperação da produção da indústria alimentícia (porque as caixas de papelão são frequentemente usadas por esta indústria para empacotar seus produtos)", avalia relatório do Banco Santander, que indica: "O crescimento tanto das exportações (0,5%) e importações físicas (3,2%), quanto da extração de petróleo (2,3%) e gás (0,5%) são, por sua vez, sinais do espalhamento da recuperação para a indústria de bens intermediários e para a indústria extrativa", complementa. Consumo interno Em agosto, os setores de bens de consumo duráveis (automóveis e eletroeletrônicos) e de bens intermediários registraram variação positiva de 3,1% e de 0,7% ante julho, respectivamente. Com isso, o crescimento acumulado nos oito primeiros meses já chega a 82,9% e 11,3%, respectivamente, tendo como base o mês de agosto. "De uma maneira geral, esse dado reflete o que foi a demanda doméstica para a indústria neste ano, que foi um bom colchão para amortecer a falta de demanda externa", explica o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. Foi do mercado interno a maior contribuição para que a indústria, em agosto, reduzisse o tombo na comparação com igual mês do ano passado para o patamar de 7,2%, o menor recuo desde o penúltimo mês do ano passado (-6,4%). O índice de difusão1 por produto - que avalia o nível de abrangência da retomada - atingiu em agosto 33%, o menor percentual de produtos em queda desde novembro de 2008. Confira áudio: Isabela Nunes, coordenadora da Pesquisa Industrial Mensal Produção Física do IBGE Tombo é grande Motor do investimento produtivo no país, a indústria de bens de capital, pouco a pouco, tira o pé do atoleiro. Em agosto, a produção do setor registrou alta de 0,4% ante julho, indicando recuperação ainda tímida de uma das atividades que determinam o crescimento econômico. Foi a quinta taxa ininterrupta de expansão na comparação com o mês anterior. E também o segundo melhor mês no ano para o indicador que mede o volume de produção industrial (1), que atingiu 144,71 pontos em agosto. "Os dados acerca da indústria de bens de capital não só pararam de piorar como estão melhorando também, mas o tombo que sofremos ainda é grande", adverte Mario Bernardini, diretor de competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Na comparação entre agosto deste ano e igual mês de 2008, a produção de máquinas e equipamentos, metalurgia básica e máquinas, aparelhos e materiais elétricos registrou tombo de 19%, 16,1% e 22,1%, respectivamente. Também as receitas das empresas encolheram. Em agosto, o faturamento da indústria de máquinas e equipamentos mecânicos despencou 20%, ante igual mês de 2008. "Mas já foi pior", diz Bernardini. Quando se comparam os meses de janeiro deste ano com igual período do ano passado, os ganhos dessas empresas foram engolidos em 36%. Saíram de um caixa nominal (sem descontar a inflação no período) de R$ 5,4 bilhões, em 2008, para R$ 4 bilhões neste ano. Em agosto, apesar da queda, o faturamento dessas indústrias está 50% maior que o de janeiro. "Na verdade, esse dado revela o que nós já sabíamos, que era que a indústria está se recuperando, e que o futuro tende a ser bem mais promissor do que foram os últimos meses", avalia o presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e da Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy. Ele explicou que uma agenda positiva é aguardada pelo setor para os próximos meses. "Na área de infraestrutura, esperamos pelos novos leilões para construção de hidrelétricas no Rio Madeira. Também há programas em cursos que propõe a ampliação da malha ferroviária e da capacidade dos portos brasileiros". PIB Paulo Godoy também citou as retomadas de setores estritamente industriais, como o siderúrgico e o de exploração mineral, "que sempre demandam a indústria de bens de capital". Tanto um setor como o outro sofreram bastante desde o estouro da bolha imobiliária, em setembro do ano passado, e agora começam a erguer-se, amparados pela demanda interna brasileira. "De uma maneira geral, podemos dizer que a indústria vem tendo um crescimento sustentável, e que essa taxa de agosto foi bastante expressiva, por abranger vários setores da atividade", opinou o economista-chefe da SLW Assent Magnament, Carlos Thadeu Filho, que disse estudar a revisão de suas projeções para a produção industrial neste ano. (DB) Desaceleração A produção industrial tem despencado desde o início do ano, refletindo a falta de demanda nos mercados externos e a escassez de crédito nos sistemas financeiros. Desde janeiro, analistas têm revisto suas contas para o indicador. Essas projeções têm variado entre -13% e -7%. "Mas deverão continuar caindo, porque todos estão revendo suas projeções", diz o economista-chefe da SLW Assent Magnament, Carlos Thadeu Filho.

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