Economia

Caminho para aplicadores de pequeno porte, os clubes voltam a ser procurados

Paola Carvalho
postado em 04/10/2009 11:09
Pequenos investidores se unem para investir na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuro de São Paulo (BM), a melhor opção em rendimento neste ano até setembro (63,83%) entre as principais modalidades disponíveis para aplicar dinheiro no Brasil. Os clubes de investimentos ganham força no cenário de redução dos juros da renda fixa, possível taxação da poupança e incerteza quanto ao futuro do dólar. Trata-se de um condomínio constituído por pessoas físicas para a aplicação de recursos comuns em ações. Com o volume maior de recursos, originado pela soma da parcela de cada integrante, é possível diversificar a aplicação, investindo em papéis de diferentes empresas e setores, com custo operacional bem mais vantajoso.

;O que me atraiu no clube foi, principalmente, a oportunidade de ganhos maiores que os obtidos na renda fixa e a diluição do risco por meio de uma carteira diversificada. Por conta própria, conseguiria investir em uma única empresa e, diante de qualquer problema, poderia perder muito dinheiro;, diz o administrador de empresas Cristiano Barros, 30 anos. Com amigos, ele procurou uma corretora de Belo Horizonte para criar um clube em dezembro de 2005. O gestor da corretora ajudou no desenvolvimento do estatuto do grupo, que tem que ser registrado na BM. Ficam ali definidos a quantidade e o valor de cada cota. Pelas regras, o clube tem no mínimo três pessoas e no máximo 150, sendo que ninguém pode ter mais de 40% das cotas. Também fica decidido, com a corretora que realizará as transações, onde o dinheiro pode ser aplicado. Mas isso ocorre sempre com a supervisão dos representantes do clube. De tempos em tempos, o grupo se reúne em assembleia para decidir novas estratégias de aplicação.

A intenção de Barros, com todas as mudanças provocadas pela crise econômica, é sempre investir em ações por meio de clubes. Ele faz aportes regulares, praticamente todo mês, de cerca de 20% da sua renda líquida. ;Invisto pensando em longo prazo, para um futuro que ainda não defini. Nos dois primeiros anos, meu patrimônio cresceu 80%. Daí veio a crise e, nestse ano, já contabilizamos valorização de 52%. Estamos agora abaixo do Ibovespa (Índice Bovespa), mas isso muda de um mês para o outro. Não tem problema, porque penso em longo prazo;, explica o jovem investidor. Outro motivo que o faz optar pelo clube é a tributação de 15% somente no resgate do dinheiro.

Custos

;A bolsa torna-se a alternativa mais atrativa de investimento no novo cenário econômico, seja de forma individual ou coletiva. O clube atende aos investidores com menos recursos para investir. Resolve o problema de escala de operação;, destaca o consultor dos programas de popularização da BM José Alberto Neto. Segundo ele, um investidor pode operar R$ 1 mil na bolsa, mas se depara com custos operacionais que podem anular seu ganho. No clube, pode-se definir cotas de R$ 50 e, juntando a contribuição de cada um, ter dinheiro suficiente para fazer uma boa aplicação. ;Pode servir como um primeiro passo para o pequeno poupador. Pelo clube, ele toma conhecimento de como funciona o mercado de ações e pode acumular patrimônio suficiente para se tornar um investidor individual;, diz.

Somente em agosto, foram criados 57 clubes de investimentos no país, fechando o mês com 2.844 registros, de acordo com a BM. O patrimônio líquido somou R$11,2 bilhões e o número de cotistas chegou a 144.180, conforme os últimos dados disponibilizados pela bolsa. José Alberto Neto faz, contudo, um alerta: a corretora e os gestores precisam ser registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o investidor pode fazer a consulta no site www.cvm.gov.br. ;O representante do clube, que faz o papel de um cogestor, deve ser pessoa com maior familiaridade com o mercado de capitais;, acrescenta.

Perfil
Guilherme Telhado, gerente da XP Investimentos, explica que cada clube pode estabelecer o seu perfil: conservador, moderado ou agressivo. ;É importante ressaltar que cada clube possui sua estratégia de investimento própria e isso faz com que tenham rentabilidades muito distintas. De qualquer forma, sem a necessidade de grandes recursos, os integrantes do clube têm as mesmas condições de comprar e vender do que os grandes investidores;, afirma. Foi o que fez o cientista contábil Antônio Carlos Dornelas, 35 anos, de Juiz de Fora. Em maio de 2006, ele e mais dois amigos de um curso de pós-graduação resolveram formar um clube de investimentos para terem ganhos adicionais fora do trabalho. Com o acordo de todos os participantes, ficou definido no estatuto que 50% dos recursos seriam para investimentos de baixo risco, 30% para médio e 20% para alto.

Sobre custos, Raul Meyer, coordenador de clubes de investimentos da Ativa Corretora explica que, segundo as regras da CVM, as corretoras podem cobrar taxa de administração, que normalmente gira em torno de 2% ao ano, mas negociável a depender do patrimônio. O gestor profissional pode cobrar a taxa anual, algo próximo de 1%, e ainda a de performance, geralmente entre 10% e 20%, do que exceder o Ibovespa. ;Vale a pena. Só de juros de capital próprio e bonificação que vêm para o saldo do clube ganho, mensalmente, cerca de R$ 1 mil, sem fazer nada;, diz Dornelas.

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