Agência France-Presse
postado em 07/10/2009 11:41
O "novo FMI" de Dominique Strauss-Kahn saiu fortalecido da recessão e conseguiu apagar parte da má imagem deixada pela crise argentina, mas tem vários desafios pendentes, como se abrir para os emergentes e vencer as reticências de países desenvolvidos, segundo se evidenciou ao término da cúpula da instituição em Turquia nesta quarta-feira.
"A credibilidade do Fundo ainda é muito precária", explicou à AFP Carlos Quenan, especialista do Instituto Francês das Américas. "É certo que reforçou seu papel de bombeiro como a única instituição internacional que concede ajuda", admitiu.
[SAIBAMAIS]O fato é que o FMI ainda tem que concretizar algumas de suas promessas mais importantes, como dar um maio peso em suas instituições às principais economias emergentes para refletir melhor a realidade da economia mundial.
Em Istambul, deu o primeiro passo, quando seus 186 membros apoiaram a proposta do G20 (potências industrializadas e emergentes) de aumentar em pelo menos 5% as cotas das nações em desenvolvimento até 2011.
"É um grande passo", parabenizou o diretor-gerente Strauss-Kahn, apesar de reconhecer que a tarefa não vai ser fácil.
A Argentina, que nos anos 90 era apresentada como o "aluno modelo" do Fundo, acusou a instituição de ter ditado políticas econômicas que levaram o país a declarar a suspensão de pagamentos.
A batalha por um "novo FMI" já começou, é certo. Os países do Bric (Brasil, Rússia, China, Índia), que devem comprar bonos do FMI por um total 80 bilhões de dólares, condicionaram sua colocação nos Novos Acordos para a Obtenção de Empréstimos (NAP) - um programa que permitirá ao FMI dispor de 500.000 de dólares para realizar empréstimos rápidos - ao fato de terem mais poder de decisão.
Quanto ao consumo, já que o americano deixou de representar o papel de principal motor de crescimento mundial, os especialistas esperam que a China assuma o posto, apesar de olharem para outras regiões do mundo como instrumentos para a recuperação econômica.
"O que substituirá o consumidor americano como origem da demanda ainda não está muito claro", admitiu o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, durante a reunião de Istambul.
A crise redistribuiu as cartas, pois o consumidor americano se mostra agora prudente com os gastos. "A taxa de poupança nos Estados Unidos aumentou consideravelmente e poderá permanecer elevada durante muito tempo", admitiu também Strauss-Kahn.
A China, claramente designada pelo chefe do FMI, ainda não completou sua evolução, apesar de Pequim anunciar sua intenção de injetar nos nas engrenagens econômicas do país 4 trilhões de iuanes (cerca 600 bilhões de dólares) em dois anos para compensar a queda de exportações.
Mas a China poderá registrar a partir do próximo ano problemas relacionados com o crescimento de sua forte oferta de crédito, e seu dinamismo poderá não ser suficiente para liderar a demanda mundial.
"Uma economia mundial equilibrada necessita de vários polos de crescimento e não basta pensar na China e na Índia", comentou Zoellick. "Países da América Latina, da Ásia e do Oriente Médio podem dar sua contribuição", acrescentou.
Ilan Goldfajn, economista chefe do Itaú Unibanco, explicou que a classe média do Brasil poderá contribuir para reativar o consumo mundial e reforçar seu papel de líder econômico, que assumiu este ano ao encabeçar a recuperação da América Latina, graças a suas exportações para a China.
Alguns especialistas pedem mais inovação. O Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz recomendou a "adaptação da economia mundial à mudança climática" para que o crescimento mundial tenha um novo motor.