postado em 09/10/2009 09:33
A combinação de resultados positivos na área econômica deu corpo a um novo debate entre governo e mercado financeiro: o de que o fortalecimento do consumo neste e no próximo ano deverá se traduzir em aumento dos juros em 2010. Entre os analistas, há temor de que os gastos do governo, aliados ao superaquecimento do mercado de trabalho e à retomada da indústria, produzam pressão inflacionária que obrigue o Banco Central a operar com mais rigor a política monetária.[SAIBAMAIS]A lógica do mercado é de que, ao crescer acima de 5% em 2010, a economia brasileira produzirá riquezas em escala maior que a demanda, abrindo espaço para uma alta nos preços dos produtos. "Três grandes áreas definem a inflação, sendo que duas delas, os preços administrados (contas de água, luz e telefone) e os preços livres (vestuário e alimentos), tendem a ficar dentro da meta no próximo ano. Mas ainda há um risco grande de a inflação ficar maior por conta dos serviços, que tendem a acompanhar o mercado de trabalho", lembra o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.
Números do Ministério do Trabalho não param de surpreender positivamente o mercado. Nos últimos sete meses, o saldo entre demissões e admissões ficou positivo em seis ocasiões, sendo que, em agosto, registrou-se recorde histórico para o mês, com 242,1 mil contratações formais. "Nossa projeção para o mercado de trabalho é de 850 mil contratações neste ano. Para 2010, acreditamos que deverão ser criados 1,6 milhão de empregos formais", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.
O economista Cristiano Souza, do Banco Santander, lista outros fatores que tenderão a vir melhores no próximo ano, mas que deverão pressionar o consumo doméstico. "O crédito está melhorando, o mercado de trabalho está sólido e o crescimento econômico já é certo. Mas acreditamos que o maior temor de inflação será mais para 2011, o que fará com que o Banco Central tenha que começar a olhar mais para esse problema já no começo de 2010." Seriam quatro altas na Selic a partir de julho, fazendo com que a taxa básica atinja 9,75% até dezembro.
Para o Banco ABC Brasil, o crescimento econômico em 2010 acima dos 5% e a manutenção do consumo como pilar da economia deverão fazer com que o amargo remédio dos juros altos seja dado ao Brasil mais cedo do que se imagina. "Esperamos que as primeiras altas venham já entre abril e julho. E a nossa projeção é de que essa dose necessária fique entre 2 e 2,5 pontos percentuais a mais em 2010", opina o economista-chefe da instituição, Luís Otávio de Souza Leal.
Resposta
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que há setores da economia brasileira se precipitando e apostando em alta dos juros de longo prazo para 2010, conforme sinalizam as taxas no mercado futuro. "A impressão é de que alguns setores querem criar as condições para um aumento dos juros no próximo ano. Isso é indevido e deve-se combater esta tendência", declarou.
Mantega afirmou que o governo mantém a projeção para a economia brasileira em 2010, de crescimento de 5% no ano. "Com isso, não há qualquer fator de pressão inflacionária." Mas ressaltou que alguns analistas estão carregando em suas interpretações, acreditando que a economia estaria mais aquecida do que o previsto. A afirmações foram feitas após a solenidade do 8; balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Ouça áudio: Denise Cordovil, economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística