Economia

Dívida explosiva

Potências injetam dinheiro na economia com o objetivo de reduzir turbulências, elevam gastos e armam uma bomba que precisará ser desativada para o mundo não entrar em nova e forte recessão

postado em 25/10/2009 13:49
As medidas de combate à maior crise internacional desde a Grande Depressão dos anos 1930 estão ajudando os países desenvolvidos a deixar a recessão para trás, mas armaram uma bomba a ser detonada nos próximos anos. Os pacotes trilionários de cortes de impostos e aumento dos gastos públicos animaram um pouco a economia. Geraram, porém, uma trajetória explosiva na dívida pública. O crescente buraco nas contas nacionais vai limitar a própria capacidade de crescimento econômico ao gerar inflação, elevação das taxas de juros, perda de poder aquisitivo dos consumidores e redução de investimentos produtivos. Ou seja, o que hoje é solução deve intoxicar o ambiente. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já alerta para os perigos do descontrole. %u201COs governos estavam certos em fazer uma política fiscal mais expansiva para combater a crise. Isso suavizou a queda da economia, mas deve prejudicar o crescimento num segundo momento. Mais na frente, se as autoridades não quiserem promover um forte ajuste, o equilíbrio dos orçamentos será feito pelo aumento da inflação, como vimos no Brasil nos anos 1980. Aí o crescimento econômico ficará muito limitado%u201D, explica o estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani. O fôlego curto das medidas é mais um problema na equação. Nos cálculos do governo norte-americano, que adotou um pacote de US$ 787 bilhões, o empurrão no nível de atividade deve durar só até o fim de 2010. Novos estímulos elevariam ainda mais a dívida pública. Ao todo, os países do G-20 (19 maiores economias do mundo mais a União Europeia) se comprometeram com uma expansão fiscal de US$ 5 trilhões até dezembro do ano que vem. O impulso dado no Produto Interno Bruto (PIB) do grupo não passa de 1%. O efeito nas contas públicas das nações emergentes será menor do que no G-7, que reúne as sete mais industrializadas (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá). Segundo as projeções do FMI, o endividamento médio desse bloco passará de 71,9% do PIB neste ano para 83,7% em 2011. Nesse caso, a conta total aumentará de US$ 35 trilhões para US$ 40,7 trilhões em dois anos. Campeões O Fundo estima que a dívida das 33 economias avançadas do planeta (G-7, União Europeia, tigres asiáticos, Austrália, Israel e outras) pule de 84% do PIB para 104% entre 2008 e 2011 (veja tabela). Ou seja, o endividamento dos governos será maior do que toda a ri queza gerada pelos países num ano. Os campeões serão o Japão (122,3%) e a Itália (120,3%), que não por acaso estão estagnados há duas décadas. O FMI fez projeções até 2014, com o rombo subindo para 124%. Isso significa que a dívida desse grupo passaria a estratosféricos US$ 58,9 trilhões, enquanto o PIB comum seria de US$ 47,5 trilhões. %u201CEssa explosão da dívida é efeito colateral da dose cavalar de gastos públicos para tirar o mundo da UTI%u201D, afirma o sócio-diretor da LCA Consultores Fernando Sampaio. Na avaliação dele, os governos trocaram a melhora no cenário hoje pela piora depois. Segundo o FMI (leia mais na página 21), o PIB nos países avançados deve recuar 3,4% neste ano, com gradual recuperação até 2014 numa taxa não maior que 2,5%. Enquanto isso, os emergentes terão um resultado positivo em 2009 (1,7%), passando para 5,1% em 2010 e acima de 6,1% de 2011 em diante. No Brasil, governo e consultores apostam numa expansão de 1% neste ano e superior a 5% a partir do que vem. A dívida brasileira era de 41,8% do PIB antes da crise e passou para 44% agora, o equivalente a R$ 1,3 trilhão (US$ 752,9 bilhões). %u201CO aumento de 2,2 pontos foi o menor do G-20. Diante da crise, é mínimo. A dívida tende a cair nos próximos anos%u201D, garante um membro da equipe econômica. E eu com isso A explosão da dívida pública pode provocar um novo ciclo recessivo nos países desenvolvidos, o que não é do interesse dos emergentes. Esses parceiros comerciais compram muitos produtos manufaturados, commodities agrícolas e minérios de países como o Brasil. Ou seja, a saúde da nossa economia depende, em grande medida, de bons ventos entre os mais ricos. Se as encomendas deles caem, as indústrias brasileiras diminuem a produção, as fazendas plantam menos e abatem menos gado e o turismo receptivo sofre. Isso aumenta o desemprego e reduz a renda do trabalhador no país. Mais pobres, eles também destinam menos recursos para outros mercados, seja na forma de investimentos financeiros, seja apostando em novos empreendimentos.

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