Daniel Pereira
postado em 27/10/2009 08:52
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tiveram nesta segunda-feira (26/10) um almoço regado a boas notícias. A principal delas, que deixou Lula eufórico, foi a indicação de que não há, pelo menos no horizonte traçado na reunião da semana passada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), qualquer necessidade de aumentar a taxa básica de juros (Selic) ao longo de 2010, quando o governo tentará eleger a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), para o Palácio do Planalto.
[SAIBAMAIS]Em todos os modelos traçados pelo BC, mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo 5% no ano que vem, não haverá pressões sobre a inflação que justifiquem um novo arrocho monetário. Na pior das hipóteses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá ficar no centro da meta perseguida pelo BC: 4,5%.
Durante o almoço, segundo assessores do presidente da República, Meirelles assegurou que as preocupações dos analistas com a inflação são exageradas. Para ele, há uma capacidade ociosa ainda grande na indústria, que não sanciona aumento de preços aos consumidores. Além disso, o BC identificou a retomada de boa parte dos investimentos que foram arquivados no auge da crise mundial, pois os empresários perceberam que a retomada do crescimento é para valer. Esses investimentos tenderão a maturar justamente quando a ociosidade atual da produção será zerada.
Outra observação do presidente do BC foi com relação ao mercado de trabalho. Apesar de o desemprego estar em queda e a massa salarial em alta, o consumo não tende a explodir, o que facilitaria reajustes pelo varejo. Foi exatamente isso que o Copom frisou no comunicado divulgado logo após sua reunião, na quarta-feira passada, ao se referir à "ociosidade dos fatores produtivos" como um dos motivos para a manutenção da Selic em 8,75% ao ano.
Também joga a favor da inflação reduzida o dólar abaixo de R$ 1,80. Ainda que esse não seja o desejo de todo o governo, devido ao impacto negativo nas exportações, os custos de produção e de investimentos (máquinas e equipamentos importados) estão muito atrativos. O ponto fora da curva é a economia internacional. Há dúvidas quanto à capacidade de os países desenvolvidos sustentarem a retomada da atividade sem que a inflação volte.
Mas não é somente a Lula que Meirelles assegura a estabilidade dos juros no ano que vem. Em conversas com o primeiro escalão do governo, ele tem dito que são infundadas as previsões de elevação da Selic. E acrescentado que, mais cedo ou mais tarde, no meio da queda de braço com o BC, os agentes de mercado terão de rever suas projeções, de alta de até 3,5 pontos. Seria apenas uma questão de tempo. "Estão fazendo apostas erradas", repetiu Meirelles nas reuniões. "Fazem apostas erradas e perderão dinheiro", complementou um ministro com gabinete próximo ao de Lula. No núcleo duro do governo, há consenso de que, se há espaço para mudar os juros, é para baixo. Petistas lotados no Planalto afirmam que o crescimento registrado no próximo ano - de 5% ou mais - será acompanhado da expansão dos investimentos.
Oficialmente, Meirelles disse ao Correio: "Não conversei sobre juros com o presidente nem nessa nem em outras reuniões".