Economia

Moveleiros tentam baixar IPI

Empresários que fabricam móveis argumentam que o aumento das vendas de eletrodomésticos retraiu os negócios da linha marrom

postado em 29/10/2009 08:00
Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, conversava em São Paulo com empresários do setor de eletrodomésticos, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, estava no Paraná, anteontem, reunido com representantes do setor moveleiro, autodenominado ;linha marrom;. Eles reivindicam a mesma isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) concedida em abril aos eletrodomésticos da linha branca ; geladeira, fogão e tanquinho. A Associação Brasileira da Indústria de Móveis (Abimóvel) entregou aos ministros Mantega e Paulo Bernardo estudo que aponta a retração do setor nos últimos meses. O documento mostra como aumentaria a arrecadação do governo se a medida que contemplou os eletrodomésticos fosse estendida aos móveis.

Segundo representantes do setor, os negócios da linha marrom estão caindo 10% ao mês, enquanto os de eletrodoméstico crescem a 6%. ;Houve uma migração do consumo de móveis para a linha branca. Não adianta estimular um setor e prejudicar o outro. Não somos de forma alguma contra o benefício dado aos eletrodomésticos. Só queremos o mesmo tratamento;, explica o presidente da Abimóvel, José Luiz Dias Fernandes.

Desde 2006, o comércio de móveis enfrenta dificuldades no Brasil com a valorização do real frente ao dólar. Com a divisa americana perdendo força, caiu o interesse de estrangeiros pelo produto brasileiro. A venda a mercados estrangeiros era a principal fonte de renda do segmento, que foi obrigado a redirecionar-se para o consumo interno. ;Infelizmente, ainda não conseguimos nos adaptar a isso. Só na região de São Bento do Sul (maior polo produtor de Santa Catarina) foram fechadas cerca de 20 empresas nos últimos três anos;, lamenta o presidente da Associação dos Moveleiros do Oeste de Santa Catarina (Amoesc), Osni Verona.

Hoje, a indústria de móveis no país é responsável por 237 mil empregos diretos. São 17 mil empresas ; 85% micro e pequenas com até 14 funcionários. ;Estamos aguentando para não termos demissões no setor. De acordo com um levantamento que fizemos, pelo menos 30 mil empregos podem ser perdidos caso a situação não mude;, relata José Fernandes.

Argumentos
A projeção da Abimóvel é que, caso seja aprovada a isenção de IPI, o aquecimento do setor promoverá um acréscimo de R$ 100 milhões em arrecadação de impostos para o governo em seis meses. São com esses dados que a Abimóvel vem tentando convencer o governo federal a conceder a isenção nesse período. Entre os argumentos usados está o de que a indústria moveleira tem mais identidade nacional que a de eletrodomésticos, ligada a multinacionais. E que elarepresenta um número de empregos maior que os gerados pela indústria da linha branca. O IPI dos móveis varia entre 5% e 10%.

A maior concentração do setor moveleiro está no Sul, com grande peso na economia regional. Assim, a força política dos estados entrou em campo nas negociações para atender ao setor. Não foi à toa que o ministro Paulo Bernardo, que é da região, vem se reunindo com representantes da indústria de móveis por lá. Na última segunda-feira, os empresários conseguiram dele a promessa de que conversaria com o ministro Mantega sobre o projeto de isenção de IPI.

Segundo a senadora Ideli Salvati (PT-SC), uma das principais interlocutoras entre empresariado e governo, o ministro do Planejamento já se posicionou favorável ao projeto, mas como a decisão cabe à Fazenda, tanto ela quanto Paulo Bernardo aguardam um encontro com o responsável pela pasta para tratar do assunto. ;Nós já tivemos uma primeira conversa com o pessoal da Fazenda e ele nos deu um bom sinal. Se houver a prorrogação para a linha branca, há possibilidade de que se estenda também para a linha marrom. Mas ainda não é nada certo;, afirma a senadora.

Além da redução de IPI para os móveis, os defensores da linha marrom trabalham em outra frente para estimular o setor. Querem que a Caixa Econômica Federal libere o financiamento do cartão Construcard para a compra de móveis. Atualmente, com esse cartão, é permitida somente a aquisição de móveis embutidos. ;Pedimos que esse mesmo crédito também possa ser estendido para as lojas de móveis e não só para as de material de construção. Estamos aguardando um posicionamento até o início de novembro;, relata a senadora do PT. Os moveleiros pleiteiam ainda que o projeto Minha Casa, Minha Vida permita que o consumidor comprometa entre 10% e 20% do financiamento com aquisição de móveis.


; O peso do setor moveleiro no país
# 237 mil empregos diretos
# 17 mil empresas
# 85% micro e pequenas com até 14 funcionários

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