Economia

Planeta começa a sair da mais forte crise econômica desde os anos 1930

postado em 01/11/2009 09:17
Superada a fase mais aguda da crise internacional, é possível fazer um balanço concreto dos estragos produzidos. De acordo com as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), 89 dos 182 países-membros sofrerão contração no Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Essas nações são responsáveis por 85% da geração de riquezas no planeta. Com a recuperação progressiva, o número dos que andarão para trás deve cair para 18 em 2010 e para zero em 2011, quando a retomada do nível de atividade estaria completa. Ainda assim, governos devem manter incentivos.

[SAIBAMAIS]"Está sendo uma recuperação extremamente rápida. Isso mostra que se aprendeu a lição da Grande Depressão dos anos 1930. O mundo está respirando aliviado porque houve uma mobilização sem precedentes dos governos e bancos centrais, diferentemente do que ocorreu após a quebra da Bolsa de Nova York em 1929", avalia o professor Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP. Segundo as últimas estimativas, os tesouros nacionais e as autoridades monetárias globais injetaram US$ 10 trilhões no mercado, em forma de auxílio aos bancos, cortes de impostos e aumento de gastos públicos, para estabilizar o sistema financeiro e estimular a economia.

Levantamento do Correio sobre o desempenho de 18 das mais significativas economias mostra que os países emergentes se saíram melhor. China, Índia e Coreia do Sul nem chegaram a entrar em recessão, enquanto Brasil e Rússia encolheram brevemente e passaram para o terreno positivo. Apenas o México, que tem o destino atrelado ao dos norte-americanos, não iniciou a recuperação. Entre os ricos, Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Austrália enfrentaram um pesado retrocesso, mas começaram a sair do atoleiro. Reino Unido, Itália, Espanha, Canadá, Holanda, Suíça e Bélgica ainda estão na lama.

"Esses países centrais têm ligações estreitas com os EUA e estão apanhando muito. Como os bancos atuam internacionalmente, a contaminação ocorreu pelo canal financeiro. A parte mais rica pode até crescer nos próximos anos, mas de forma medíocre, em especial os EUA, a Zona do Euro e o Reino Unido", prevê a economista Alessandra Ribeiro, especialista em economia internacional da Tendências Consultoria. A expansão norte-americana de 0,9% de julho a setembro, depois de quatro trimestres de queda, é insuficiente para animar as demais nações avançadas. Nelas, os problemas bancários, o enxugamento na concessão de crédito e o desemprego em alta ainda atrapalham.

Nas economias avançadas, só a Austrália vai fechar o ano com leve aumento no PIB ( 0,73%). Nesse grupo, o recuo deve ser de 3,43%. Os EUA devem encolher 2,7%; a Zona do Euro, 4,1%; o Japão, 5,3% e o Reino Unido, 4,3%. As nações em desenvolvimento crescerão 1,7% em conjunto, com destaque para China (8,5%) e Índia (5,3%). Bem abaixo, o Brasil: 1% na visão do Ministério da Fazenda. México e Rússia despencarão mais de 7%. "Com base no mercado interno, chineses e indianos não entraram em recessão. Essa força ajudou os outros emergentes a vender commodities agrícolas e minerais. Além disso, os bancos em lugares como o Brasil estão saudáveis", explica Alessandra.

Segundo as projeções do FMI, o melhor desempenho neste ano será, curiosamente, do Afeganistão (15,66%), envolto numa guerra há oito anos entre a milícia talibã e as forças dos EUA. Como sua economia é pequena, qualquer avanço é grande. O segundo lugar caberá ao Catar, movido por petróleo, construção civil, turismo e comércio de luxo. Na ponta de baixo da tabela, estão as piores performances: Lituânia (-18,50%), Letônia (-18,01%), Armênia (-15,60) e Ucrânia (-14%). Todos dependem do comércio com a Rússia.

Na avaliação da economista da Tendências, a recuperação americana no terceiro trimestre é "meio falsa": só foi alcançada por causa do caminhão de incentivos dados pelo governo, que vem torrando US$ 787 bilhões em investimentos, cortes de impostos e subsídios. Numa resposta direta a dois programas governamentais, os principais segmentos que moveram a economia entre julho e setembro foram a produção de automóveis e o setor imobiliário, origem de toda a crise ainda em 2007. Para trocar de carro ou comprar a primeira casa, os trabalhadores ganharam um cheque do Tesouro sem necessidade de devolver o dinheiro. Em consequência, a negociação de imóveis novos subiu 23,4%.

O país saiu da recessão técnica, mas o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (NBER, na sigla em inglês) ainda não se pronunciou sobre o assunto. O órgão, responsável por apontar o início e o fim dos ciclos econômicos no país, determinou que a atual recessão começou em dezembro de 2007. Como o próprio presidente Barack Obama admitiu, é certo que a retomada do caminho da prosperidade será lenta. O Departamento do Trabalho assegura que o pacote criou ou preservou 1 milhão de empregos neste ano, mas a taxa de desocupados subiu para 9,8%, a maior em 26 anos. "Durante um bom tempo, o mundo não poderá contar com o impulso do consumo norte-americano", diz Alessandra.

Os governos das principais economias, reunidos no grupo do G-20, decidiram retirar os estímulos de forma coordenada. O diagnóstico é de que, sem o empurrão do dinheiro público, a atividade privada não consegue sustentar a recuperação. O Reino Unido deve anunciar nesta semana um novo programa de compra de ativos podres. As autoridades preparam a estratégia de saída da crise, considerada a maior nos últimos 70 anos, mas não fizeram todo o dever de casa. "Não aproveitaram a oportunidade para reformular a regulamentação do setor financeiro. Assim, a porta continua aberta para novos problemas", lamenta Lacerda.


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