postado em 06/11/2009 08:05
A recuperação da economia brasileira, detectada desde o segundo trimestre, parece ter retomado o caminho, a partir de setembro, do ciclo virtuoso entre produção e consumo. Dados divulgados ontem em relação ao desempenho do comércio e da indústria confirmam o cenário: crescimento de vendas combinado com aumento da atividade fabril no país. No varejo, as evidências são de que a crise é passado. O indicador da atividade comercial medido pela consultoria Serasa Experian registrou uma alta de 7,1% em outubro, na comparação com o mesmo mês de 2008 ; a maior taxa desde dezembro. Na indústria, foi a primeira vez, desde setembro do ano passado, que três de quatro indicadores ; emprego, horas trabalhadas e faturamento ; registraram, simultanemante, variação positiva, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em setembro, segundo a entidade, os três indicadores da indústria tiveram um forte movimento de recuperação ante a crise que abalou economias de todo o mundo. O desempenho manufatureiro depende de bons resultados para emprego, horas trabalhadas, faturamento e utilização da capacidade instalada. E um exemplo é o indicador de horas trabalhadas, que registrou, em setembro, crescimento de 0,4% ante agosto, que havia mostrado retração de 0,3% ante o mês anterior, na série com ajuste sazonal (condição de tempo). A melhora na atividade industrial está condicionada ao aumento da demanda alimentada pelo comércio. Ao que indicam os números do setor, o crescimento também seguirá no último trimestre do ano.
Em outubro, na comparação com setembro, houve alta de 1,3% na atividade comercial no país, segundo a Serasa. A melhora dos resultados foi puxada pelo segmento de móveis, eletroeletrônicos e informática, do qual fazem parte os produtos da linha branca com isenção de Imposto Sobre Produto Industrializado (IPI). Segundo o gerente de Indicadores da Serasa Experian, Luiz Rabi, outubro foi um mês atípico. Ele acredita que antes do anúncio de continuidade da desoneração para geladeiras e fogões, o consumidor correu às lojas para não perder os preços mais baixos. ;Foi um efeito semelhante ao dos veículos em setembro. Quando ficou próximo o fim da redução e IPI, houve um aumento grande nas vendas;, explicou.
Com o desempenho das vendas em outubro, a alta acumulada no ano para o comércio já atingiu 10,3%. Veículos(1) e peças tiveram resultado negativo na avaliação mensal, recuo de 0,9% ; uma queda natural que, segundo Rabi, ocorreu em função do fim da desoneração total do IPI para os carros. Já na comparação entre outubro e igual mês de 2008, o incremento foi de 20,4%. ;Em outubro do ano passado a crise já tinha atingido o país e a comparação é com uma média muito baixa. Por isso o desempenho tão alto;, explicou o executivo da Serasa.
Demanda
Normalmente, ao perceber o aumento da demanda, o empresário da indústria costuma pagar horas extras ao trabalhador de chão de fábrica(2), em vez de realizar uma nova contratação. ;Agora, para que se possa caracterizar com mais clareza essa recuperação (das horas trabalhadas), são necessários mais dois resultados positivos para o indicador. E acreditamos que eles virão;, diz o gerente de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. No quesito emprego, a segunda etapa do investimento, houve bom resultado em setembro. Variou positivamente em 0,2%, na comparação com ajuste, ante agosto. Foi a terceira alta ininterrupta do indicador, que havia registrado perdas em oito dos doze meses terminados em julho. Também no que se refere ao faturamento das indústrias, verificou-se alta em setembro, de 1%. Em agosto, esse indicador havia se retraído 0,4% ante julho.
Setembro foi o mês em que o indicador de utilização da capacidade instalada (UCI), que vinha mostrando variação positiva na comparação de um mês com o outro imediatamente anterior, mostrou recuo. Desde o início do ano, apenas em janeiro e junho verificou-se redução do indicador, que reflete o espaço de que as indústrias dispõem para aumentar a produção sem a necessidade de ampliar o parque industrial e investir em máquinas e equipamentos. A falta de capacidade ociosa abre espaço para a inflação. ;Pelo lado da indústria;, reflete Castelo Branco, ;não há risco de inflação;. A avaliação da CNI é de que o atual patamar da capacidade instalada indica que a atividade industrial vem se fortalecendo sem pressionar a capacidade produtiva.
Otimismo
Os dados da economia em recuperação se refletem no otimismo do consumidor. Segundo o Índice Nacional de Confiança (INC) do Consumidor, taxa medida pela Associação Comercial de São Paulo em conjunto com o instituto Ipsos, cresceu em um ponto a confiança das pessoas físicas em outubro. De todas as regiões analisadas, a Nordeste foi a única que registrou recuo, uma queda de seis pontos. As regiões Sul, Sudeste e Norte-Centro Oeste seguiram na trajetória contrária e marcaram alta, sendo a terceira figura como a mais otimista, com 156 pontos. Na separação por renda, a classe C é a mais confiante ; obteve alta de dois pontos na comparação mensal e chegou aos 147 pontos. ;De um modo geral a atividade no comércio se recuperou. Podemos dizer que para esse setor da economia a crise acabou;, disse Rabi.
1- Prazo
Mesmo sem a desoneração total, o setor de veículos ainda tenta incentivar as vendas com redução de taxas de juros e alargamento de prazos. De acordo com dados da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), as vendas a prazo no terceiro trimestre do ano representam 58% do total comercializado. O estímulo ao financiamento ocorreu pela queda nos juros anuais e pela ampliação nos parcelamentos.
2- Hora extra
Esse é um procedimento mais barato e mais fácil, caso tenha que recuar no investimento, nas situações de retração das compras. Com a crise, esse indicador havia registrado quedas abruptas e, desde outubro, só variou positivamente em quatro ocasiões, à exceção de setembro.
; Sem amarras ambientais
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende que os esforços do Brasil para reduzir a emissão de gases do chamado efeito estufa devam ser voluntários e, não, obrigatórios. Em documento, a entidade diz que o país deve adotar compromissos monitoráveis, mas sem caráter compulsório na reunião, em dezembro, em que se discutirá a participação das principais economias no aquecimento global, em Compenhague, Dinamarca. O documento defende que o país não proponha metas de redução de emissões de CO2, uma vez que ;tem a matriz energética mais limpa do mundo;. Também propõe que o Brasil se atenha ao fato de dispor de fontes de energia renovável como nenhum outro país desenvolvido.