postado em 10/11/2009 08:33
O efeito do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 2%, incidente sobre o fluxo de capitais estrangeiros para o Brasil durou apenas três semanas. Depois de reagir negativamente à punição baixada pelo Ministério da Fazenda e subir, o dólar registrou nesta segunda-feira (9/11) mais um dia de perdas ante o real e voltou ao patamar vigente antes do anúncio do tributo, em 19 de outubro. A moeda americana encerrou a segunda-feira cotada a R$ 1,700 para venda, com baixa de 1,05% no dia e de 27,15% no ano. Na avaliação dos especialistas, a tendência de queda é visível. Diante do volume de dinheiro que está entrando no país, nada impede que o dólar desabe para R$ 1,55 nas próximas semanas.
[SAIBAMAIS]Todas as justificativas para o expressivo tombo do dólar vieram do exterior. A primeira delas foi a decisão do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, de manter, por um tempo prolongado, a taxa básica de juros local próxima de zero. A segunda foi o anúncio do G-20, o grupo das 20 nações mais ricas do mundo, de que os incentivos fiscais e monetários (juros em baixa), dados aos países depois da crise para estimular a retomada da atividade, serão preservados até que a economia global dê sinais concretos de reativação.
Juntos, esses comunicados deram um novo gás aos investidores. Eles têm tomando dinheiro emprestado nos EUA a taxas nulas e direcionado os recursos para a compra de ativos em economias emergentes - em especial, o Brasil -, que vem registrando crescimento econômico acelerado. Tecnicamente, essas operações são conhecidas como carry-trade. Ao comprarem ações, por exemplo, eles ganham duas vezes: com a diferença entre a alta dos papéis nas bolsas de valores e as taxas de juros americanas e com a queda do dólar frente às moedas dos países nos quais investiram.
"É essa combinação, de taxa de juros zero e expansão do crédito, que leva à desvalorização do dólar, a mãe de todos os carry-trades", vem dizendo o economista Nouriel Roubini, um dos primeiros a prever o estouro da bolha imobiliária americana.
Recorde
Pelas contas do economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, com as últimas quedas do dólar, a valorização do real (descontada a inflação do período) em relação à moeda americana já é a maior desde a adoção do regime de câmbio flutuante, em janeiro de 1999. Em artigo enviado a seus clientes, Pastore ressaltou que a decisão do governo de cobrar IOF dos investimentos estrangeiros em bolsa de valores e em renda fixa foi ineficaz. Para ele, melhor seria o governo reduzir os gastos públicos. Dessa forma, ajudaria a eliminar o excesso de crescimento da economia e a segurar a inflação para que o Banco Central (BC) não seja obrigado a elevar as taxas de juros, o que atrairia mais capitais para o país. Pastore também recomenda a ampliação das reservas internacionais brasileiras.
Na avaliação do economista Clodoir Vieira, da Corretora Souza Barros, a perspectiva era de que, em um ambiente sem o fluxo excessivo de capitais para o Brasil, o dólar chegasse ao fim do ano em R$ 1,70. "Mas o processo foi antecipado. Por isso, as apostas de novas baixas para a moeda. Já há empresas trabalhando com o dólar a R$ 1,55 nas próximas semanas", afirmou.
Para Mário Paiva, analista da Corretora BGC Liquidez, mesmo com fluxos menores de dólares para o país, a moeda americana continuará fraca aqui e em todo o mundo. "É grande a expectativa de que o governo baixará outras medidas para conter a forte valorização do real, que afeta as exportações. Não descartamos novo aumento do IOF", disse. Ainda ontem, comentava-se no mercado que o BC poderia exigir mais capital dos bancos que operam com dólares.
O lado bom da queda do dólar, lembrou Paiva, é que a inflação está em baixa. "Os preços em dólar das commodities (mercadorias com cotação internacional) estão em alta, mas, quando convertidos em reais, registram baixa", assinalou. Essa foi a razão de o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) de outubro ter registrado queda de 0,04%, ante expectativa do mercado de alta de 0,11%. Em compensação, complementou Clodoir Vieira, o aumento das importações, facilitadas pelo dólar barato, poderá levar o Brasil a registrar deficit comercial em 2010 ou um número muito próximo de zero.
E EU COM ISSO
Para quem pretende viajar ao exterior neste fim de ano, a queda na cotação do dólar sinaliza férias sem problemas cambiais. Somente uma nova decisão do governo para tentar conter a valorização do real traria preocupação aos turistas. A queda do dólar, entretanto, preocupa os brasileiros que trabalham nas empresas exportadoras instaladas no Brasil. Com o real mais caro, os produtos fabricados aqui têm um mercado menor no exterior e, por isso, os empregos delas correm risco.