Economia

Queda na cotação da moeda americana reduz preços de produtos importantes

postado em 12/11/2009 01:10
A forte queda do dólar em relação ao real, que tanto preocupa o governo, está provocando alívio no bolso dos consumidores. Segundo a coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos, vários produtos importados ou que usam ingredientes vindo de fora ficaram mais baratos em outubro.

O quilo do bacalhau, por exemplo, recuou 6,95%. Já o valor da farinha de trigo caiu 2,38%, o que resultou em baixa nos preços do macarrão (1,01%) dos biscoitos (0,97%) e do pão francês (0,34%). No geral, o grupo alimentação e bebidas teve deflação de 0,09 no mês passado, contribuindo para que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cravasse alta de 0,28%, o menor patamar para meses de outubro desde 2000. O mercado apostava em um índice menor: 0,23%.

Preços dos combustíveis pressionam a inflação em todo o país: tendência de novos reajustes no preço do álcool por causa da entressafra da cana;O que vemos na alimentação é uma série de produtos mais baratos. Vários deles refletem o dólar baixo, como os derivados do trigo;, afirmou Eulina. Ela chamou, porém, a atenção para a firme arrancada dos preços do açúcar. O cristal avançou 5,59% em outubro, contribuindo com 0,01 ponto percentual para a alta do IPCA. No ano, o produto está 60% mais caro. O açúcar refinado, por sua vez, apontou elevação de 9,56% no mês passado, o correspondente a 0,03 ponto da inflação, e subiu 48,82% no ano. O encarecimento decorre da redução da oferta mundial, devido à quebra da produção de cana-de-açúcar na Índia.

Carro mais caro

Com os preços dos alimentos jogando a favor dos consumidores, o IPCA, usado como referência para o sistema de metas de inflação do governo acumulou alta de exatos 3,50%, o nível mais baixo desde 2007. Em 12 meses, o índice cravou 4,17%, também o menor patamar em dois anos. Em janeiro último, o IPCA de 12 meses cravava elevação de 5,84%. ;O IPCA em 12 meses confirma a tendência observada desde o fim do ano passado, de convergência para índices de inflação cada vez menores;, disse a técnica do IBGE.

Diante desses números, o economista Flávio Serrano, do Banco BES Investimento, reforçou as apostas de que o IPCA fechará 2009 entre 4,2% e 4,3%, abaixo, portanto, do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%. ;Mesmo que a inflação dê um salto nos últimos dois meses deste ano, devido ao consumo maior decorrente das festas de fim de ano, não será nada demais;, frisou. A mesma avaliação foi feita por Élson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, que prevê um índice final de 4,3%.

Pelos dados do IBGE, na direção oposta dos alimentos, subiram, principalmente, os preços dos carros novos (1,08%), reflexo da reversão gradual do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que havia sido reduzido em dezembro de 2008 para estimular a demanda. Os combustíveis também deram um salto considerável, com alta acumulada de 1,74%, ou 0,08 ponto percentual do IPCA. Isoladamente, o álcool ficou 10,61% mais caro e a gasolina, 1,06%. Subiram ainda os custos da telefonia fixa (0,50%) e celular (2,14%) e do o gás de cozinha (1,18%). A tendência é de os combustíveis, puxados pelo álcool, computarem novos reajustes em novembro, por causa do período de entressafra da cana.

Trégua na entrada de moedas
A vigorosa entrada de dólares no país deu uma trégua no início de novembro, com déficit de US$ 1,388 bilhão no fluxo cambial do mês até o dia 6, segundo o Banco Central. Houve saída líquida tanto no segmento comercial, de US$ 569 milhões, quanto nas operações financeiras, de US$ 818 milhões. O dado pode representar uma mudança em relação ao comportamento do mês anterior, quando a entrada líquida de US$ 14,598 bilhões, engrossada pela oferta de units do Santander Brasil, foi a maior em um mês desde junho de 2007.

Profissionais de mercado comentam que, embora ainda haja a perspectiva de ingresso de capitais no país, o movimento vinha sendo relativamente mais fraco nos últimos dias. Nesse período, operadores relacionaram a queda do dólar mais ao comportamento dos mercados internacionais, em que a moeda norte-americana caiu à mínima em 15 meses diante das principais divisas. O BC, no entanto, manteve as compras de dólares no mercado à vista. Em operações liquidadas na primeira semana do mês, o volume adquirido em leilões totalizou US$ 507 milhões. As compras do BC e o fluxo negativo possivelmente absorveram parte das posições compradas dos bancos, que haviam terminado outubro em US$ 3,189 bilhões.

China mudará
Notas de iuans: China emitiu sinal de que está pronta para permitir a apreciação de sua moedaA China emitiu ontem o sinal mais claro até agora de que está pronta para permitir a apreciação do iuan após um intervalo de 18 meses, afirmando que pode avaliar outras moedas, e não apenas o dólar, como referência para a taxa de câmbio. No relatório de política monetária do terceiro trimestre, o banco central chinês deixou a linguagem tão repetida de manter o iuan ;em um nível estável, razoável e equilibrado;. Ao invés disso, o BC sinalizou uma mudança no atrelamento ao dólar que vigora desde meados do ano passado.

;Seguindo os princípios de iniciativa, controle e gradualismo, com referência aos fluxos internacionais de capital e mudanças nas principais moedas, nós vamos incrementar o mecanismo de formação da taxa do iuan;, informou o BC. Os comentários, publicados apenas alguns dias antes de uma visita do presidente norte-americano, Barack Obama, demonstram a possibilidade de uma retomada da apreciação, que começou com em julho de 2005. O iuan se fortaleceu quase 20% frente ao dólar até que as preocupações sobre o impacto da crise global levaram Pequim a restringir as oscilações para proteger os exportadores. O iuan está em cerca de 6,83 por dólar desde então.

Alguns analistas pedem a volta de uma cesta genuína de moedas, que o banco central disse em 2005 que seria uma referência para o iuan.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação