postado em 16/11/2009 08:40
O Brasil, potência mundial na produção de alimentos, é dependente de nove países para manter seu solo fértil. O país onde tudo que se planta nasce precisa de fertilizantes à base de cloreto de potássio para se manter no topo do ranking mundial de produtividade agrícola. Liderança que é conservada ao custo de US$ 140 milhões em taxas cobradas na demora para descarregar os navios com fertilizantes (demurrage), US$ 300 milhões de Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante e uma importação de mais de US$ 3 bilhões em potássio, valor que representa mais da metade de todos os semifaturados vindos do estrangeiro em 2008. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mais de 75% dos fertilizantes consumidos no país vêm de fora. No caso do potássio, 91% são importados.
Apesar dessa dependência, em 24 anos o número de minas que exploram cloreto de potássio no Brasil ficaram ancoradas no mesmo lugar: uma mina em Sergipe aberta em 1985 pela Petrobras e hoje sob controle da Vale. Segundo geólogos e órgãos governamentais, o problema não é falta de recursos naturais, mas de investimentos. A jazida de Nova Olinda do Norte, na Amazônia, seria a terceira maior reserva do mundo, atrás somente das bacias do Canadá e da Rússia. "Temos toda a tecnologia para fazer essa exploração sem prejudicar o meio ambiente. Temos condições de ser autossuficientes e ainda nos tornarmos um país exportador", afirma o diretor-geral adjunto do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), João César Freitas Pinheiro.
Enquanto o Brasil não investe na exploração de cloreto de potássio e de outros minerais usados como fertilizantes, o agricultor, vulnerável às oscilações de preços e do câmbio, reclama. "São poucas as empresas de que podemos comprar. É tudo muito concentrado e o custo do fertilizante vai lá para cima", desabafa Derci Cenci, que produz soja, milho, feijão, sorgo e trigo no Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF). "Já comprei potássio por 12 preços diferentes este ano. Quem antecipou a compra de fertilizantes se deu mau, pagou um dólar bem mais alto e um produto mais caro", explica o produtor.
Variação
Cenci calcula que os que adquiriram fertilizantes antes da safra 2009/2010, que começou em julho, amargaram um gasto a mais de aproximadamente R$ 100 por hectare. De acordo com dados da balança comercial, o potássio é importado a US$ 645,42 a tonelada (preço médio de 2009) - valor 26,43% mais alto do que o registrado no ano passado. "Isso aqui (o potássio) é o ouro vermelho", brinca Derci Cenci ao se referir à cor avermelhada do produto. "O preço no Brasil é balizado pelo lá de fora, flutua muito em função das oscilações do mercado. O país é totalmente dependente. Nos últimos dois anos, que tivemos crise de preços elevados, o governo precisou intervir bastante para ajudar o produtor", relata a coordenadora de Assuntos Econômicos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Rosimeire Santos.
Semelhante ao cloreto de potássio, o fósforo, outro mineral usado na produção de fertilizantes e correção do solo, tem uma taxa alta de importação. Mesmo com o Brasil possuindo o recurso natural em abundância, precisa importar 51% de tudo que a agricultura (1) consome. O maior vendedor à bandeira verde e amarela é o Marrocos. "O fosfato do Marrocos é uma fosforita sedimentar que basta pegar que nem areia, jogar no navio e vender. O nosso tem origem em vulcões de 200 milhões de anos, são chamados de chaminés alcalinas, o solo precisa ser perfurado para achá-lo", explica o diretor da DNPM, João César. Ele aposta que o país tem totais condições de se abastecer caso a exploração seja feita de forma mais intensa.
1- Produtividade
A agricultura brasileira é líder de produtividade no mundo. Cresce a uma taxa de 3,66% ao ano segundo dados do Ministério da Agricultura, taxa superior à da China e à dos Estados Unidos. As projeções do setor são de que em 2009 o agronegócio se torne responsável por cerca de 33% do Produto Interno Bruto (PIB, tudo que é produzido no país em um ano), representando cerca de 42% das exportações nacionais.
A origem
Países que mais vendem fertilizantes ao Brasil
- Canadá
- Rússia
- Alemanha
- Israel
- Estados Unidos
- Espanha
- Chile
- Reino Unido
- Holanda
E eu com isso
Quanto mais altos forem os preços dos insumos pagos pelos produtores rurais, como fertilizantes, corretores de solo e sementes, maior será o custo de produção. Se fica caro para o agricultor plantar, o reflexo baterá diretamente no bolso do consumidor, com alimentos mais caros. Enquanto o Brasil for dependente de outros países estará totalmente à mercê dos preços internacionais e dos efeitos do câmbio, sem condições de equilibrar melhor esses preços.
Tentativa de exploração
Por causa da dependência externa, o Ministério da Agricultura enviou ao presidente da república e ao Ministério de Minas e Energia o Plano Nacional de Fertilizantes, que terá como prioridades a construção de usinas de nitrogenados para a produção de ureia, a exploração das jazidas de fósforo já em condições de extração, a pesquisa das jazidas em Mato Grosso e um marco regulatório para exploração das jazidas de potássio no Amazonas. Empresas de fertilizantes, na maioria estrangeiras, estão de olho nas oportunidades desse mercado no Brasil. A nova fronteira para a produção de fertilizantes no mundo está no mar, na camada pré-sal. As costas da Bahia, do Espírito Santo e de Sergipe escondem outros recursos além do petróleo, nessas áreas foram encontradas toneladas de potássio.
O Departamento Nacional de Produção Mineral autorizou a empresa Itafós a realizar pesquisas nessas regiões. A maior delas está na Bahia - segundo técnicos da estatal seriam mais de mil blocos com 2 mil hectares. As autorizações foram liberadas em outubro. Como as pesquisas ainda estão em fase inicial, não existe uma previsão do tamanho dessas reservas. "Em face da arrancada da agricultura, nós brasileiros temos condições de fazer essa exploração. Ficará mais barato do que o pré-sal", afirma o diretor da DNPM, João César Freitas.
As jazidas estariam próximas da costa há uma profundidade de 800 metros, de acordo com Freitas. Por isso o custo menor que o da exploração de petróleo, que se encontra há 7 mil metros de profundidade em alguns casos. "Nós vamos entrar nessa competição para valer. Vamos montar minas e usinas de beneficiamento (de potássio) dentro de navios, dentro de plataformas. Temos uma tecnologia de perfuração no mar que é imbatível", disse o diretor.