postado em 19/11/2009 09:04
O reforço da máquina pública, crescente na última década, gerou riquezas para a economia brasiliense que saltam aos olhos. Entre 1995 e 2007, o Produto Interno Bruto (PIB) do DF registrou crescimento acumulado de 56,6%, contra avanço de 39,8% da riqueza média gerada no país. Em 2007, porém, ocorreu o inverso. Enquanto que a média dos estados obteve incremento de 6,1% na economia, o Distrito Federal cresceu 5,9%, uma diferença de 0,2 ponto percentual. Os números fazem parte de pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que tratam das contas regionais do país entre os anos de 1995 e 2007.
Ao longo da última década, Brasília passou por transformações em sua economia. Uma das mudanças envolve uma diversificação geográfica que se baseou, sobretudo, na oferta de benefícios fiscais para empresas que se dispusessem a instalar fábricas ou lojas em cidades distantes do Plano Piloto. Isso causou também uma maior oferta de empregos, e a consolidação comercial das regiões administrativas. O desenvolvimento dessas cidades também gerou investimentos, que num primeiro momento se concentraram em infraestrutura de saneamento básico, na área energética e de mobilidade urbana.
O boom desenvolvimentista foi aproveitado, basicamente, pelas empreiteiras e imobiliárias, que passaram a registrar números excepcionais de geração de caixa no período. "Brasília é uma cidade em constante construção, o que faz com que sempre hajam bons negócios no setor de construção civil", define Gil Pereira, diretor-presidente de um dos mais fortes grupos do setor imobiliário da capital. Seu concorrente, Wildemir Demartini, diretor-presidente da Lopes Royal, recorda: "Tivemos números muito bons na última década, mas foi certamente nos últimos cinco anos que registramos desempenho excelente". O resultado se vê nos números do IBGE, que mostram um crescimento da indústria brasiliense - formada em sua maioria pelo setor de construção civil - na ordem de 27,5%.
Os executivos disseram que esse eldorado brasiliense só foi possível por causa de um sequencia de fatores econômicos, dentre os quais destacam-se a alta renda dos servidores públicos e a estabilidade financeira do país, que ajudaram a moldar uma classe de consumidores de alto padrão na capital. Com mais dinheiro no bolso, esses consumidores passaram a demandar serviços de maior valor agregado, o que fez com que a cadeia de serviços recebesse uma grande contribuição.
Entre 1995 e 2007, o setor registrou crescimento de 57,4% em Brasília, liderando o ranking do PIB local. "Foi um período que culminou com a chegada de grandes redes e marcas nacionais e internacionais no nosso mercado, sobretudo na área de confecções, calçados, shopping centers e hipermercados", avalia o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista-DF), Antônio Augusto de Morais. Com uma maior inserção das grandes empresas, que costumam fechar contratos com grandes fornecedores, o setor primário brasiliense arrefeceu. Em 12 anos, a agricultura reduziu sua participação no PIB local em 15,2%.
Renda três vezes maior
Apesar de ter enfrentado forte crescimento populacional nos últimos anos, a renda per capita na capital federal não sucumbiu ao ingresso de baixos salários dos trabalhadores mais pobres, e permanece sendo, de longe, a mais elevada do país. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem mostram que, em 2007, Brasília acumulou R$ 99,946 milhões em riquezas. Esse valor, caso fosse dividido entre todos os habitantes residentes na cidade à época, daria um rendimento médio anual de R$ 40.696,00 para cada brasiliense. Proporcionalmente, o dinheiro equivale a 87,5 salários mínimos.
Comparado com o Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas produzidas, nos demais estados, Brasília ganha de goleada. Em média, a renda per capta disponível em Brasília em 2007 era duas vezes maior que a do Rio de Janeiro, com R$ 19.245, e cerca de três vezes superior à média disponível em todo o Brasil, de R$ 14.465. "São números que mostram que Brasília deixou, há algum tempo, a vocação pela política administrativa e que agora procura crescer também em outras áreas, como a de serviços e a produtiva", reflete o secretário de Desenvolvimento Econômico e de Turismo do Distrito Federal, Adriano Amaral.