postado em 20/11/2009 08:40
O presidente do Banco do Central, Henrique Meirelles, vem difundindo "a grande probabilidade" de continuar à frente da instituição até o fim do governo Lula. Mas a sua proximidade com a política está cada vez maior. No último sábado, apesar de todo o terremoto causado pelo diretor-demitido de Política Monetária, Mário Torós, que revelou ao jornal Valor Econômico detalhes sigilosos sobre a atuação do BC no auge da crise mundial, Meirelles não se furtou de ir a Goiânia para encontros com aliados políticos. E, claro, destacar toda a sua preocupação com questões sociais.
[SAIBAMAIS]A agenda do presidente do BC começou cedo. Acompanhado do arcebispo metropolitano, Dom Washington Cruz, visitou as instalações da UCG TV, canal de televisão vinculado à Pontifícia Universidade Católica (PUC). Seguindo a tradição dos políticos, parou o carro - cercado por seguranças - uma rua antes da entrada principal da universidade e, no trajeto, cumprimentou populares. De lá, seguiu para a Santa Casa local, onde almoçou, em companhia do arcebispo, do deputado estadual Thiago Peixoto e do presidente da Câmara de Vereadores, Francisco Valle Júnior, ambos do PMDB, partido ao qual se filiou em setembro. Por meio de sua assessoria, o presidente do BC disse que o motivo da visita não foi político. Ele apenas teria atendido a um pedido do arcebispo, amigo da família.
Mas, ainda na cartilha dos políticos, Meirelles se comprometeu a empenhar-se junto ao governo federal para a liberação de emendas ao Orçamento da União feitas pela bancada goiana do Congresso Nacional. Os recursos seriam destinados à Santa Casa para tocar projetos de reforma, compra de equipamentos e investimentos na ampliação do hospital. Ele também prometeu ajudar no saneamento financeiro da instituição, atolada em cerca de R$ 20 milhões de dívidas com o sistema bancário. Confiante, o vereador Francisco Júnior ressaltou, logo depois da visita, que o apoio do presidente do BC à Santa Casa é vital. "Existem várias ações em que o Henrique Meirelles pode ajudar", afirmou.
Quem conversou com Meirelles nesse dia teve a certeza de que ele continua mais firme do que nunca no seu propósito de disputar o governo de Goiás em 2010. "Por mais que ele diga que recebeu apelos do presidente Lula para ficar no BC até o fim do ano que vem, está articulando pesado para garantir o apoio do PMDB à sua candidatura ao governo goiano", disse ao Correio um dos mais próximos aliados do presidente do BC. "Ele, inclusive, tem falado constantemente com o prefeito de Goiânia, Íris Rezende, outro potencial candidato ao governo. Nunca os dois estiveram tão próximos", acrescentou.
No sábado anterior ao périplo de Meirelles por Goiânia, em 7 de novembro, durante um encontro regional do PMDB, Íris disse que esteve pessoalmente com o presidente do BC e lhe deu um ultimato: que decida se será ou não candidato ao governo do estado até o fim de dezembro. Segundo o prefeito, se Meirelles não cumprir esse prazo, o partido lançará outro nome, muito provavelmente, o dele. "Sou homem de decisões rápidas", frisou Íris. Meirelles preferiu, no entanto, não transformar o ultimato em polêmica. Durante a visita à Santa Casa de Goiânia, ressaltou que "conversa frequentemente com Íris e cada decisão ou declaração é feita em comum acordo".
Na ocasião, Meirelles voltou a insistir no discurso de que tem um compromisso com o presidente Lula para ficar no BC até o início de abril de 2010. Só lá definirá seu futuro político. "Cuido para que a minha credibilidade não seja afetada", declarou, lembrando que, antes de se filiar ao PMDB, deixou claro o seu papel à frente do banco. "Ainda que ele mantenha esse discurso, não esconde o entusiasmo com a possibilidade de governar Goiás", assinalou um dos caciques peemedebistas goianos.