Economia

Começa o temor de investir na bolsa de valores

Depois de ser unanimidade como aplicação financeira rentável, Bovespa passa a dividir analistas. Há quem diga que quem está fora não deve entrar agora

postado em 24/11/2009 08:12
Tentar prever o comportamento da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) se tornou o maior desafio para os investidores. Alguns acreditam que a euforia vivida agora configura uma bolha, que deve estourar cedo ou tarde. No momento, as ações estariam excessivamente valorizadas e, por isso, não é hora de colocar dinheiro no mercado de capitais. Outros creem que os papéis apenas refletem a realidade positiva das companhias e do país. Para esses, a Bovespa vai continuar a trajetória de alta, batendo em breve o recorde histórico de pontos. Por isso, continuaria sendo bom negócio.

[SAIBAMAIS]O economista Demétrius Borel Lucindo, da Prosper Corretora, assegura que as ações estão mais caras do que deveriam, algumas com preços até proibitivos em comparação com as de outras empresas do mesmo setor. O exemplo mais claro seria o da Petrobras, cujos papéis estão, em média, 35% mais valorizados do que os da Exxon, a maior empresa petrolífera do mundo. ;Tem muita gente dizendo que estamos vivendo uma nova bolha. Isso faz bastante sentido. Os investidores internacionais de todo o mundo estão comprando ações brasileiras de forma impressionante, esquecendo os nossos problemas e a fragilidade dessa recuperação global. É uma espécie de exuberância irracional. O momento é perigoso;, diz.

Exuberância irracional foi o termo usado pelo então presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Alan Greenspan, para qualificar a explosão no mercado acionário nos EUA nos anos 1990. O alerta foi seguido da derrocada de várias empresas ligadas à internet.

De janeiro a setembro, as entradas de recursos estrangeiros no país para aplicação na Bovespa somaram US$ 103,5 bilhões, enquanto as saídas foram de US$ 86,4 bilhões. O saldo acumulado ficou em US$ 17,1 bilhões. Em outubro, o líquido foi de US$ 8,7 bilhões até o dia 23, o maior fluxo da série histórica. Na avaliação de Lucindo, a bolsa pode até superar o recorde de 73.516 pontos, obtido em 20 de maio do ano passado, mas voltaria a cair mais à frente. A bolha poderia estourar depois que os países desenvolvidos começarem a aumentar as taxas de juros para lidar com uma possível volta da inflação ao longo de 2010.

Outra possibilidade de desastre é a crise internacional se agravar, depois da atual aparente recuperação iniciada há alguns meses. Para Lucindo, a correção no preço das ações será forte. ;Algumas empresas estão valorizadas mesmo com patrimônio líquido negativo. Isso está levando pequenos investidores, que não entendem direito os mecanismos do mercado, a comprar ações. Mas uma hora essa euforia vai acabar. Eu não colocaria dinheiro na bolsa agora, pois a chance de perder é muito grande no curto prazo;, prevê.

A previsão de Eduardo Collor, analista-técnico da Ativa Corretora, é bastante diferente. Avaliando modelos gráficos, ele garante que a bolsa está hoje exatamente onde deveria estar e vai superar o recorde histórico logo, no mais tardar, no início do ano que vem. ;As empresas brasileiras estão mais valorizadas, o que não significa que suas ações estejam caras. A Bovespa está ancorada nos bons resultados das companhias e nos ótimos fundamentos econômicos e na estabilidade política brasileira. Investir em ações no Brasil continuará sendo um dos melhores negócios do mundo;, orienta.

Segundo seus cálculos, muitos papéis estão abaixo do potencial e ainda vão subir muito. Como exemplo, ele cita os bancos nacionais, que passaram incólumes pela derrocada financeira. As ações do Itaú, por exemplo, já superaram o recorde de R$ 36,24 em maio de 2008, pulando para R$ 38,68. ;No pior momento da crise, as pessoas deveriam ter vendido casa e carro para aplicar na bolsa. Quem fez isso ganhou muito dinheiro;, diz.

Visão positiva
Pouco mais de um mês atrás, o governo estabeleceu a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), numa alíquota de 2%, sobre a entrada de dinheiro estrangeiro para aplicações em ações. O objetivo era conter a queda do dólar, resultado da aposta maciça de investidores no país. Mas o desembarque de recursos não diminuiu. Mesmo com a taxação, a Bovespa e as demais aplicações no país continuam oferecendo retornos enormes para um país de baixo risco como o Brasil, mas com taxa de juros elevadas. ;Os ativos brasileiros ainda estão muito baratos em relação aos concorrentes. Com expectativa de crescimento econômico de até 6% em 2010, a tendência é a bolsa continuar atraindo investidores aqui e lá fora;, afirma o gerente de Renda Variável da Concórdia Corretora, Romeu Vidali.

Ele lembra que, em janeiro, as apostas eram de que a bolsa fecharia o ano entre 40 mil e 60 mil pontos. Agora, o desempenho pode ser de até 70 mil. Vidali acredita que o recorde de maio de 2008 será batido em algum momento do ano que vem, com a Bovespa crescendo entre 25% e 30% em 2010. A rapidez vai depender da procura externa por commodities, como petróleo, minérios, aço e produtos agrícolas.

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