postado em 25/11/2009 09:05
O Brasil poderá perder um total de R$ 3,6 trilhões até 2050, o equivalente a aproximadamente um ano inteiro do seu Produto Interno Bruto (PIB), como consequência das mudanças no clima. Esta é a principal conclusão do estudo Economia das Mudanças do Clima no Brasil (EMCB), conduzido por um consórcio de instituições públicas e privadas: as universidades de São Paulo (USP), de Campinas (Unicamp), Embrapa, Inpe, Coppe/UFRJ, Fiocruz, FBDS, Cedeplar/UFMG, Ipam, Ipea e Fipe. Em iniciativa pioneira, o estudo visou analisar e quantificar o impacto da mudança do clima na agenda de desenvolvimento brasileiro.
De acordo com a coordenadora técnica do estudo, Carolina Dubeux, da Coppe/UFRJ, esta perda equivale a jogar fora pelo menos um ano inteiro de produção de bens e serviços. O estudo trabalhou com dois cenários projetados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC): um onde o mundo continuará consumindo energia gerada predominantemente a partir de combustíveis fósseis, ocasionando uma elevação de 2 a 5,4 graus celsius na temperatura (cenário A2) e outro em que há maior equilíbrio entre fontes renováveis e combustíveis fósseis, com aumento de 1,4 a 3,8 graus até o ano 2100 (cenário B2).
"Seja em que cenário for, o impacto é grande, especialmente na agricultura, em recursos hídricos e em energia elétrica", diz a coordenadora. O estudo conclui que as regiões mais atingidas serão a Amazônia e o Nordeste. O trabalho diz que na Amazônia, o aquecimento pode chegar a 8°C em 2100, resultando em redução de 40% na cobertura florestal, que será substituída pela savana. No Nordeste, haveria redução de até 2,5 milímetros por dia de chuva até 2100, com perdas agrícolas para todos os estados. Com isso, haveria queda de 25% na capacidade de pastoreio bovino de corte, retrocedendo à pecuária de baixo rendimento. Além disso, as projeções indicam uma redução de até 90% nas vazões de rios em bacias importantes para geração de energia, como o Parnaíba e do Atlântico Leste.
O menor volume de chuvas terá impacto direto na geração de energia hidrelétrica. "O sistema não será tão confiável", disse Carolina. A redução da oferta de energia firme será de 29,3% a 31,5%. "Nos momentos de pico de seca, o Brasil terá que ter alternativas de produção de energia, como a termelétrica a gás, biomassa e eólica", explicou. A redução das chuvas também vai afetar grandemente a produção de alimentos, especialmente a soja, principal cultura do Centro-Oeste. Pelas projeções, haverá uma perda de área agricultável de 30% a 34%, enquanto o milho perde 15% e o café até 18%.
Irrigação
O Brasil, entretanto, tem como evitar as perdas. "Serão necessários investimentos para fazer as adaptações necessárias e assegurar uma transição mais tranquila para a população", afirmou Carolina. Para a agricultura, por exemplo, o governo precisará aportar recursos no desenvolvimento de espécies geneticamente modificadas e em irrigação para garantir a manutenção da área agricultável. O estudo também aponta a necessidade de instalar uma capacidade extra de geração de até 162 TWh por ano como fonte auxiliar à energia hidrelétrica. A sugestão é que a geração seja feita por gás natural, bagaço de cana e energia eólica, a um custo da ordem de US$ 51 bilhões.