Paola Carvalho
postado em 13/12/2009 11:26
Lá se vão os tempos em que os sacoleiros que municiavam o comércio informal de mercadorias importadas viajavam em caravanas de ônibus até o Paraguai trazendo, às sacudidelas, todo tipo de produto.
[SAIBAMAIS]Hoje, o chique é passear em Nova York, Miami e Orlando (nos EUA) e voltar com a bagagem abarrotada de roupas, perfumes, material esportivo, eletroeletrônico e até bicicletas. Acostumada aos salgados preços desses produtos no país, a classe média alta, animada com o câmbio valorizado, a queda nos preços das passagens e o aumento do poder aquisitivo, descobriu o paraíso nos outlets americanos. Engenheiros, médicos, economistas e militares bancam a viagem de turismo com o lucro apurado no comércio dos produtos e fazendo da atividade uma fonte paralela de renda.
Mercado não falta e as mercadorias se destinam aos amigos, familiares, colegas de trabalho e internautas. É o que basta para fazer os produtos evaporarem. N. K. G. é engenheiro, está desempregado, mas há uma semana chegou de Miami. Aproveitou e comprou uma série de mercadorias, que vão de roupas de cama de 300 fios de algodão a casacos da Nike, meias Puma e bolsas da Guess. "Há mercado. Tem muita gente que vive disso", sustenta.
O principal argumento de vendas dos sacoleiros de luxo é incontestável. Eles oferecem a possibilidade de acesso a produtos de qualidade, com marcas reconhecidas, a preços baixos. Compram as mercadorias por valores irrisórios. Só para dar um exemplo: um jogo de roupa de cama de algodão de 250 a 300 fios custa entre US$ 29 e US$ 39 nos EUA. Com as taxas, sobe para US$ 43. No Brasil, um produto similar é encontrado por preços que variam de R$ 400 a R$ 1,25 mil. Essa diferença é explicada por produção em escala, tecnologia, logística barata e carga tributária mínima. Enquanto nos EUA o imposto sobre a venda de roupas é de 6,25%, no Brasil chega a 34,67%.
Rafael Belini, secretário do Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade, acredita que a carga tributária brasileira funciona como um convite às compras para a classe média. O problema é que a maior parte das mercadorias entra sem pagar impostos. De acordo com a Receita Federal, o limite de entrada é de US$ 500.
O instrutor de esportes Petros Radazzano morou um ano e meio no Havaí, onde trabalhou como salva-vidas. Nesse período, veio ao Brasil duas vezes, sempre com as malas cheias. Nelas, trazia material esportivo, roupas e perfumes. Suas encomendas eram alimentadas por listas na internet. "Quando o dólar está baixo, a margem de lucro cai. Por isso, sempre selecionava o que valia a pena trazer", conta. Com esse artifício, conseguiu pagar as passagens de ida e volta para as terras do Tio Sam.