Economia

Banco Central enxerga 2010 tranquilo, mas não descarta inflação

postado em 18/12/2009 08:35
Meirelles, do BC, diz que a instituição estará O Banco Central (BC) aposta em um cenário tranquilo para a inflação no médio prazo, mas quer manter a cautela diante da chance de a gradual recuperação econômica gerar pressões nos preços. Por enquanto, o baixo uso da capacidade produtiva na indústria e o desemprego garantem a permanência dos preços num nível comportado. Essa acomodação será, aos poucos, superada pela retomada da atividade ao longo de 2010. Esse foi o tom geral da esperada ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sobre a reunião que manteve a taxa básica de juros (Selic) em 8,75% na semana passada. O documento, divulgado ontem, não dá maiores pistas sobre as próximas decisões.

;O Comitê considera que a acomodação da demanda, motivada pelo aperto das condições financeiras e pela deterioração da confiança dos agentes, bem como pela contração da economia global, vem sendo superada, ainda que persista margem de ociosidade dos fatores de produção, que não deve ser eliminada rapidamente em um cenário básico de recuperação gradual da atividade econômica;, assinala o texto. Segundo pesquisa semanal do BC com cerca de 100 analistas, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve fechar o ano em 4,31%, ainda abaixo do centro da meta (4,5%).

Conta de luz
Nos cálculos do BC, as faturas da conta de luz devem subir 5,2% neste ano e as de telefonia fixa, 3,3%. Os aumentos estimados em 2010 são de 0,9% e 1,6% respectivamente. A previsão é de aumento de 1,9% na gasolina neste ano e de 13,4% no gás de cozinha. Em 2010, a expectativa é de reajuste zero para os dois combustíveis.

O Copom ressaltou que as medidas de combate à crise internacional e a queda de juros entre janeiro e julho ainda vão demorar um pouco para surtirem efeito plenamente, estimulando a recuperação econômica. Por isso, é preciso continuar ;atento; aos reflexos do aquecimento mundial nos preços internos. O presidente do BC, Henrique Meirelles (PMDB-GO), manteve o discurso. ;A economia brasileira está crescendo muito e não há dúvida de que, em algum momento, sempre é possível que surja alguma pressão de preços. Caso surja, o BC estará preparado para tomar as medidas necessárias ao tempo e à hora;, disse ontem no programa Bom dia, ministro, da rede NBR de televisão.

Apesar do alerta, o mercado recebeu as declarações com tranquilidade. ;A ata não trouxe indicação nenhuma de antecipação de alta de juros. O documento foi muito cuidadoso. Qualquer alteração no tom do recado, o mercado já começa a acreditar que os juros vão subir logo;, afirma o economista Bernardo Wjuniski, da Tendências. A consultoria projeta o início do ciclo de subida nos juros em setembro do ano que vem, com o Copom já de olho na inflação de 2011. O movimento continuaria até março de 2011, quando a taxa estacionaria em 11,25%. Isso seria suficiente para manter o IPCA em 4,4%.

Briga
O tom cauteloso também foi a marca no trecho em que os diretores do BC avaliaram os riscos do aumento de gastos públicos gerarem inflação. ;Depois da confusão recente, eles estão evitando entrar em briga direta com o Ministério da Fazenda.; Wjuniski se refere ao relatório de inflação em que o BC insinuava a necessidade de aumentar a Selic se os gastos públicos continuarem subindo. A resposta da Fazenda veio pelo secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, que qualificou a análise como ;terrorismo fiscal;.

O número
5,2%
Previsão de reajuste para as tarifas de energia elétrica em 2010, segundo o Banco Central




Expansão restrita
Deco Bancillon

A indústria brasileira optou por não crescer nos mercados internacionais, em detrimento de uma maior atuação no território nacional. Mais de dois terços dos investimentos programados pelo setor para 2010 têm como alvo o Brasil, ao passo que pouco menos de 30% serão destinados à venda a outros países. Os números constam de estudo divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que classificou os resultados apresentados como preocupantes.

Os números apresentados rememoram 2005, quando a economia começou a sentir um peso mais forte dos juros básicos (Selic) para conter a alta do consumo. De lá para cá, o índice de foco no mercado externo ; que determina a prioridade dos investimentos nesse tipo de mercado ; despencou dez pontos. Conforme avaliação da CNI, a expectativa é que os investimentos focados no mercado externo diminuam mais, fato que pode levar a perdas irreversíveis nos mercados externos, que tendem a ser ocupados por concorrentes das empresas brasileiras.

Adiamento
A pesquisa da CNI também mostra que apenas 46,3% das empresas disseram ter realizado investimentos conforme o planejado. Quase o mesmo percentual, o correspondente a 47,8% dessas empresas, respondeu que executou apenas parcialmente os investimentos na produção.

Decisões ainda mais drásticas foram tomadas por 3,5% das empresas consultadas, que disseram ter prorrogado para 2010 os planos de investir. Outros 0,4% resolveram cancelar ou adiar por tempo indeterminado essas propostas.

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