postado em 22/12/2009 08:22
A forte concentração do sistema bancário brasileiro aumentou, de forma significativa, os riscos de uma crise sistêmica no Brasil. Se, hoje, uma instituição financeira, ainda que de pequeno porte, enfrentar qualquer desconfiança do mercado, mesmo que a sua saúde esteja boa, não só poderá ir rapidamente à falência como levar junto um grupo grande de bancos. A constatação é de Bruno Silva Martins e Leonardo Alencar, ambos técnicos do Banco Central, que desenvolveram um profundo estudo sobre o mercado, intitulado Concentração bancária, lucratividade e risco sistêmico: uma abordagem de contágio indireto.Segundo os técnicos, esse tema ganhou grande relevância devido ao processo de concentração que se viu no Brasil desde 1995, quando muitos bancos ; incluindo gigantes como o Econômico e o Nacional ; sucumbiram, por não terem como sobreviver sem receitas inflacionárias. ;Temos observado um processo de consolidação no mercado financeiro brasileiro ; e mundial ;, e o surgimento de várias instituições de porte considerável tem trazido a preocupação de que o grau de risco sistêmico tenha aumentado;, afirmam. E acrescentam: ;O pânico gerado pela insolvência de uma determinada instituição financeira pode ser maior quanto mais concentrado for o sistema bancário. Esse comportamento do mercado pode gerar um efeito dominó;.
Na avaliação de Martins e Alencar, a concentração e a consequente interdependência do sistema bancário brasileiro ficaram maiores entre 2000 e 2003, período em que as instituições aceleraram as aquisições e fusões para ampliar os ganhos com escala e compensar a perda de receitas com a queda das taxas de juros. Apesar de o estudo avaliar o que ocorreu no Brasil até 2007, é importante ressaltar que o ápice da concentração se deu nos últimos dois anos, com a compra do Real pelo Santander e a aquisição do Unibanco pelo Itaú. Essa última operação, por sinal, foi fechada em novembro de 2008, auge da crise mundial, depois de o Unibanco ser engolfado por uma onda de desconfiança que resultou em uma corrida de seus clientes por saques.
Para se ter uma ideia do tamanho da concentração bancária no Brasil, os cinco maiores bancos de varejo (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander) detêm, segundo os registros mais recentes do BC, 75% dos depósitos totais, 64,92% das operações de crédito e 66,37% dos ativos. Se excluídos os depósitos, créditos e ativos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do cômputo geral, a participação proporcional dessas cinco instituições fica ainda maior, chegando, respectivamente, a 77,48%, 73,41% e 73,85%.
;Sinceramente, esse nível de concentração não é saudável tanto do ponto de vista do regulador, que fica mais vulnerável em tempos de crise, quanto do consumidor, já que um menor número de bancos dominando o mercado significa menor concorrência, ou seja, serviços mais caros e juros mais altos;, assinala José Luiz Rodrigues, sócio-diretor da consultoria JL Rodrigues.
A mesma avaliação é feita pelo economista João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho. ;Quanto maior é a concentração, mais rígidas têm de ser as regras do BC para manter o controle do sistema. Em relação aos consumidores, a concentração permite um acordo tácito entre os bancos para manter tarifas e juros elevados;, acrescenta. Para integrantes do governo, apesar de o grosso do mercado estar nas mãos de poucos bancos, nada indica que os consumidores tenham sido prejudicados, tanto que houve um forte incremento das operações de crédito. ;Não se pode esquecer ainda que o sistema bancário brasileiro mostrou sinais de vitalidade durante a recente crise internacional;, ressalta um deles.