Economia

A hora e a vez da economia verde

A busca da sustentabilidade se impõe. Próximo governo terá que conciliar maior ritmo de expansão do país com a necessidade de conservação ambiental. Especialistas afirmam que "produção limpa" é possível

postado em 07/01/2010 08:05
O meio ambiente entrou de vez na agenda mundial. Tema obrigatório no planejamento de dirigentes de empresas e em discursos das autoridades, o cuidado com a natureza subiu de status graças à pressão popular dos últimos anos e às mudanças climáticas visíveis no planeta. A questão que se coloca para o presidente que assumirá o país em 2011 e para a sociedade é como conciliar a necessidade de crescimento econômico com a preservação e como produzir mais e criar postos de trabalho com a exigência de conservar os recursos naturais.

Para o professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Cláudio Boechat, a questão não é como. "Na verdade, vamos ter crescimento econômico por causa da preservação ambiental", disse ele, que faz parte do Centro de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa da FDC. "O que vamos ver daqui para frente é a expansão de toda uma indústria voltada para a produção de energia limpa."

É o caso, por exemplo, da produção de álcool. "Os investidores, ao mesmo tempo que preservam, sequestram carbono, poluem menos, também desenvolvem seus negócios, criam empregos e geram renda", explicou ele. Outro exemplo são as células solares para aquecedores ou para painéis. "Há uma demanda crescente por esse tipo de produto. Portanto, teremos que ter indústria produzindo esse tipo de equipamento."

Novos perfis
Para responder a essa demanda, um novo perfil de profissionais precisará ser desenvolvido. "Tudo isso demanda investimentos", frisou o professor. Para o superintendente de Conservação para os Programas Regionais do WWF-Brasil, Cláudio Maretti, o mundo caminha inevitavelmente para a economia verde. "Qualquer atividade econômica gera externalidades, isto é, produz impactos sócioambientais, que causam efeitos na macroeconomia", raciocinou ele. "O que estamos vendo agora no mundo é que a conta está voltando, via mudanças climáticas globais. E, se continuar no ritmo em que estamos, o custo dos sistemas de produção ficará cada vez mais caro. Então, para minimizar gastos, os empresários passarão a desenvolver atividades economicamente viáveis produzindo com o menor dano possível ao meio ambiente."

O superintendente do WWF-Brasil também não encara como um contrassenso a expansão econômica versus a conservação ambiental. "Esse é o espaço do desenvolvimento sustentável", disse ele, lembrando os estímulos que os países desenvolvidos, principais atingidos pela crise, estão dando para a indústria da energia renovável. "Estamos assistindo a uma mudança de paradigma muito grande, com banqueiros defendendo a conservação e cobrando taxas menores de quem tem projetos sustentáveis. Portanto, o crescimento vai se dar com a preservação do meio ambiente por exigência da própria sociedade."

As empresas estão cada vez mais preocupadas em transmitir a seus clientes que estão comprometidas com a preservação da natureza. Por isso, é cada vez mais frequente o surgimento de lojas "ecologicamente corretas". Um exemplo é o que vem fazendo a Leroy Merlin. Desde 2008, essa rede de lojas de material de construção, jardinagem e decoração usa sacolas plásticasoxibiodegradáveis (1), que levam, em média, 18 meses para se decompor no meio ambiente. Já as sacolas convencionais precisam de 100 anos para serem absorvidas pela natureza. Além disso, a rede estimula o uso das sacolas retornáveis.

Mais recentemente, a loja Leroy Merlin Niterói, a 19; da rede, foi o primeiro estabelecimento do varejo brasileiro a receber o certificado Aqua (Alta Qualidade Ambiental), baseado na certificação francesa Démarche HQE e concedida pela Fundação Vanzolini, uma instituição independente. Os benefícios atendidos pelo empreendimento certificado são: qualidade de vida do usuário, economia de água, energia, disposição de resíduos e manutenção, além da contribuição para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental da região. Além de outros detalhes, essa loja usa energia solar captada por meio de painéis instalados no teto e capta água em coletores de chuva, que depois é usada na descarga dos banheiros, em limpeza da loja e para regar o jardim. Além disso, um econômetro informa, em tempo real, todas as economias feitas na loja.

Orgânicos
Pioneiro em programas de estímulo ao uso consciente de embalagens, o Grupo Pão de Açúcar já registra cerca de 1,2 milhão de unidades de sacolas retornáveis comercializadas, sendo 65% só em 2009. De acordo com o Pão de Açúcar, uma sacola retornável chega a substituir até oito sacolas plásticas. O programa foi lançado em 2005 e está disponível em todas as redes do Grupo - Extra, CompreBem, Sendas, ABC CompreBem e Assai. Além do estímulo ao uso de sacolas retornáveis, o grupo vem apostando em sacolas plásticas mais resistentes, que suportam seis quilos de produtos ante 4,5 quilos na versão anterior, reduzindo a necessidade de sacolas. Por fim, as sacolas podem ser reutilizadas e também recicladas, bastando entregar os plásticos em qualquer uma das 163 estações de reciclagem do grupo. Desde 2001, o programa arrecadou mais de 30,5 mil toneladas de materiais recicláveis.

O grupo também aposta nos produtos orgânicos. A rede Pão de Açúcar tem em seu portifólio mais de 600 itens orgânicos, sendo cerca de 200 entre frutas, verduras, legumes e processados, outros 250 de mercearia e mais 160 nas áreas de laticínios, congelados, carnes e padaria. Sem contar as outras redes do grupo. De acordo com a empresa, as vendas no segmento de orgânicos crescem cerca de 40% ao ano. Tanto que em 2006 o grupo lançou a marca Taeq Orgânico, que conta hoje com quase 400 itens, entre frutas, legumes, verduras e a linha de mercearia com azeite, geleias, mel e atomatados, entre outros. (LV)

1 - DECOMPOSIÇÃO
É o processo de decomposição do plástico utilizando aditivos para acelerar a degradação, contando com auxílio do oxigênio, da temperatura e de processos mecânicos, como vento e chuva, por exemplo. Esse plástico não precisa de um ambiente biologicamente ativo. Mesmo estando em cima de uma árvore, ele irá se deteriorar. Por isso, diz-se que agride menos o meio ambiente. O tempo de vida útil dessas sacolas é de no máximo 18 meses, evitando a poluição nos fundos de córregos, rios, lagos e oceanos.

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