Economia

Presidente do BC argentino reafirma intenção de permanecer no cargo

Agência France-Presse
postado em 07/01/2010 16:32

BUENOS AIRES - O presidente do Banco Central argentino, Martín Redrado, afirmou à imprensa, na manhã desta quinta-feira que continuará trabalhando "para garantir, como fizemos nos últimos cinco anos, a estabilidade monetária, financeira, a previsibilidade cambial". Referiu-se, assim, à sua continuidade no cargo, apesar do pedido feito a ele pelo governo para que renuncie, pondo mais lenha na fogueira da mais nova crise institucional na Argentina.

A presidente Cristina Kirchner pediu a Redrado na quinta-feira que se demitisse, porque se opunha à criação de um fundo, anunciado em dezembro pelo governo, de 6,569 bilhões de dólares para pagar com reservas parte da dívida de 2010, que soma 13 bilhões de dólares no total.

O mandato de Redrado vai até 23 de setembr próximo à frente do Banco Central (BCRA), uma entidade autônoma cujo titular deve ter o aval do Congresso para sua designação ou eventual remoção.

O chefe de Gabinete da presidente, Aníbal Fernández, advertiu que se Redrado negar-se a desembolsar as reservas para o pagamento da dívida, o governo apelará à justiça porque, estimou, estaria "descumprindo sua função de servidor público".

A oposição, que apoiou o titular da autoridade monetária, tem agora como estratégia conseguir medida cautelar na justiça para que não seja aplicado o decreto para o qual foi criado o fundo e ganhar tempo até que seja tratado no Congresso, agora em recesso.

O conflito se trasladou ao seio do diretório do Banco Central, que estava reunido nesta quinta-feira sem a presença de Redrado, que disse desconhecer o encontro, segundo a imprensa.

O vice-presidente do Banco Central, Miguel Angel Pesce, rechaçou a atitude de Redrado; advertiu que o decreto de necessidade e urgência firmado por Kirchner para a criação do fundo "tem caráter de lei (e) deve ser cumprido".

Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia que em 2005 negociou a dívida argentina em default de 2001, sustentou que o governo criou o fundo porque "durante três anos diluiu com gastos o superávit fiscal e agora há uma urgente necessidade de caixa para enfrentar o endividamento externo".

A formação do fundo foi anunciada em dezembro passado pela presidente, para permitir "dar aos mercados internacionais a segurança da cobrança da dívida".

O governo reabriu naquele mesmo mês, por decreto, a troca da dívida em mora de 20 bilhões de dólares para normalizar a situação financeira do país estimando que a proposta teria uma aceitação de 60% dos credores que não se somaram à negociação de 2005; nesse ano, 76,15% dos credores aceitaram a iniciativa.

A poderosa central sindical CGT e a influente Associação de Bancos Argentinos (Adeba), que reúne as entidades financeiras privadas de capital local, pediram a Redrado que renuncie ao cargo no qual está desde 2004.

"Não é tempo de posições extremadas. O sistema financeiro se comportou de maneira muito equilibrada durante a crise e o público reconheceu, mantendo seus depósitos e conservando a confiança no sistema", assinalou a Adeba em comunicado.

A Bolsa voltou a reagir negativamente nesta quinta-feira com baixa de 1,23% na abertura.

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