Agência France-Presse
postado em 09/01/2010 14:44
CARACAS, 9 janeiro 2010 (AFP) - A desvalorização da moeda oficial venezuelana, o bolívar, vai favorecer o setor público em um ano de eleições e terá um impacto negativo na inflação do país, que superou os 25% em 2009 e é a mais alta da América, segundo os analistas.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou na sexta-feira a desvalorização de 100% do bolívar, que passará de 2,15 por dólar a 2,60 para setores prioritários, como saúde e alimentação, mas será cotado a 4,30 bolívares para artigos não considerados de primeira necessidade.
Segundo o presidente, saúde, alimentos, máquinas, livros, artigos tecnológicos e todas as importações do setor público, além das remessas para o exterior, estarão sujeitos ao câmbio de 2,60 bolívares por dólar.
Já artigos como automóveis, telecomunicações, fumo, bebidas, produtos químicos, petroquímicos e eletrônicos terão uma taxa de câmbio de 4,30 bolívares por dólar.
Na Venezuela, desde 2005 o dólar era cotado ao câmbio oficial de 2,15 bolívares, apesar da moeda americana ter disparado no paralelo há meses.
Para fortalecer e proteger a economia venezuelana, Chávez anunciou ainda a criação de fundos especiais de fomento às exportações e estímulo a substituição das importações.
O presidente garantiu que o governo e o Banco Central vão intervir no mercado de câmbio para evitar "o manejo especulativo das divisas", além de vigiar as importações.
A redução oficial do valor do bolívar a partir de agora implicará no encarecimento das importações, mas Chávez aposta em suportar melhor a carga com a recuperação dos preços do petróleo no mercado internacional.
"Seria besteira da minha parte negar que estas medidas vão gerar impacto nos preços", admitiu o ministro das Finanças, Alí Rodríguez, afirmando que a inflação em 2010, calculada a princípio entre 20 e 22%, aumentará entre 3 e 5% acima destas previsões.
Para os especialistas, é o cidadão que vai pagar o preço dessa desvalorização.
Segundo o economista Orlando Ochoa, estas medidas são como uma "lata de querosene para a inflação".
"Os preços vão subir, mas o governo precisa de mais rendas e receberá o dobro por suas exportações", explicou.
Efetivamente, graças a esta desvalorização, o Estado venezuelano receberá mais bolívares por cada dólar obtido em suas vendas de petróleo.
Em 2009, a queda dos preços do petróleo provocou uma redução da entrada de divisas e obrigou a diminuir a concessão de dólares ao preço oficial para os cidadãos. Muitos acudiram ao mercado paralelo, onde o valor do dólar disparou.
Para o ex-diretor do Banco Central venezuelano, José Guerra, haverá "mais dinheiro para o governo e menos para as pessoas".
"Desvalorização sem medidas fiscais e monetárias quer dizer inflação", afirmou, antecipando uma perda importante do poder aquisitivo dos venezuelanos.
Para o partido opositor Primero Justicia, estas medidas são "um soco no estômago dos cidadãos". A formação chamou de "hipócrita" o governo, já que previu um orçamento para 2010 sem desvalorização e uma inflação de 20%.
O momento escolhido para anunciar esta desvalorização, cujos efeitos poderão ser negativos para o Executivo, foi surpreendente, já que, em setembro, haverá eleições legislativas cruciais para Chávez.