postado em 15/01/2010 07:00
O alto custo de vida na capital federal estagnou o volume de vendas em 2009, mas não a elevação dos preços e o crescimento das receitas dos comerciantes. Enquanto o volume de produtos vendidos até novembro ficou praticamente na mesma quantidade do ano anterior, a receita do comércio aumentou acima da inflação, em 5,1%. No cenário nacional, os dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), surpreenderam o setor, que esperava um avanço abaixo do percentual de 1,1%, apurado pelo levantamento, no volume de vendas entre outubro e novembro.A pesquisa do IBGE reforçou os números do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), segundo os quais o Distrito Federal figurou com o título de pior inflação do Brasil em 2009 ; alta de 4,92% contra os 4,31% nacionais. Nas estatísticas do comércio em novembro, a pressão no custo de vida candango se destacou mais uma vez. Os lojistas da capital tiveram uma alta de apenas 0,14% na quantidade de produtos vendidos, resultado que não incomodou o setor frente o crescimento das receitas. ;É como se o pessoal do DF tivesse vendido a mesma quantidade de produtos que em 2008, mas, como os preços subiram, o brasiliense acabou pagando 5,1% a mais pelas compras;, explicou o coordenador da PMC, Nilo Gonçalves.
Diferença
Para a professora de artes Cristiane Oliveira, 35 anos, é explícita a diferença de preços entre a capital federal e o resto do país. ;Com certeza, aqui é exagerado. Acham que todo mundo tem salários altíssimos e sobem os preços;, afirmou. ;Quando saio de Brasília para outra cidade, vejo coisas mais em conta e pago por produtos que não teria coragem de comprar aqui. Em outros lugares, me sinto menos roubada;, desabafa. A caixa Ana Paula Costa, 22 anos, sustenta que o segredo para fugir da inflação no comércio é pesquisar e, em alguns casos, evitar os grandes centros de compras. ;A cidade não é tão cara assim. Aqui tem de tudo. Se você procurar bem, encontra muita coisa em conta. Fora do Plano Piloto, é possível achar bons preços em Taguatinga, Ceilândia e outros lugares;, aconselha.
Além de Brasília, mais unidades da Federação registraram resultados semelhantes. Casos de Espírito Santo, Tocantins e Paraíba, que chegaram a vender menos que em 2008, mas ainda assim, tiveram suas receitas em alta. ;Nessas cidades, houve um aumento do tíquete médio. No DF, os níveis de renda são diferentes do Brasil, bem maiores. Nos outros casos, o alto desempenho da economia e a realização de fortes investimentos fizeram o gasto médio do consumidor aumentar;, justificou o presidente da Câmara Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro.
Surpresa
Passado o pior momento da crise financeira, entre o fim de 2008 e os três primeiros meses de 2009, o comércio reagiu e, em novembro, registrou a sétima alta mensal consecutiva em volume de vendas. O crescimento foi de 1,1% entre outubro e novembro. Nas receitas nominais, a trajetória foi um pouco mais longa: oito altas seguidas, a última, uma variação de 1,3% na mesma base de comparação. ;Esse números surpreenderam um pouco e para melhor;, afirmou o economista da Confederação Nacional do Comércio Fábio Bentes. ;O dado de crédito em novembro não foi bom para justificar esse incremento, mas uma variável importante foi o preço;, explicou.
; Reajuste na gasolina
Luciano Pires
A redução do volume de álcool na gasolina terá impactos imediatos no bolso do motorista que optar por abastecer o carro com o derivado do petróleo. A Fundação Getulio Vargas (FGV) fez as contas e prevê que, em fevereiro, quando a medida autorizada pelo governo entrar em vigor, os consumidores que encherem o tanque com gasolina vão pagar 2% a mais pelo litro do combustível. Com menos etanol em sua composição, o valor da gasolina vendida nos postos do país tende a subir porque, quanto mais ;pura;, mais cara ela fica.
Na avaliação dos técnicos da entidade, no entanto, o efeito deve ser de curto prazo. A alta de preços será sentida apenas nas primeiras semanas do próximo mês para, em seguida, perder força, devido à sobra de etanol nas revendas e à entrada de mais produto no mercado por causa do início da safra da cana-de-açúcar. O economista André Braz, da FGV, reforça ainda que o reajuste da gasolina tende a influenciar a inflação. ;Vai ter um impacto de curto prazo que vai se diluindo com o passar dos meses;, completa. Segundo ele, a mudança no setor de combustíveis refletirá em um salto de 0,06 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de fevereiro.
Temendo uma escalada maior dos preços do etanol ; e até mesmo o desabastecimento ;, o governo autorizou nesta semana a diminuição de 25% para 20% da quantidade de álcool anidro por litro de gasolina a partir de 1; de fevereiro. A solução emergencial terá duração de 90 dias e, por mês, o mercado brasileiro poderá contar com pelo menos 100 milhões de litros de etanol a mais, conforme estimativas do setor. Usineiros e donos de postos elogiaram a decisão, mas reagiram com cautela quanto aos possíveis benefícios para os motoristas.
Entressafra
O preço do álcool combustível disparou nos últimos três meses. O início da entressafra em novembro, o excesso de chuvas e a preferência das destilarias por produzir açúcar em vez de etanol desestabilizaram toda a cadeia. Essa não é a primeira vez que o governo intervém. Em 2006 e em 2007, quando o Brasil viveu crises semelhantes, os órgãos reguladores tiveram de atuar. O setor sucroalcooleiro reclama que faltam mecanismos de comercialização de longo prazo e exige também tratamento tributário mais adequado. A formação de estoques públicos chegou a ser cogitada no ano passado, na tentativa de proteger o mercado de oscilações bruscas. Essas e outras políticas estruturantes, no entanto, nunca saíram do papel.
Ouça entrevista com Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC)