Economia

Classe média busca o 2º imóvel

Crédito farto, juro em queda e prazo amplo para pagamento levam brasileiro a escalar a compra da casa própria

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 17/01/2010 09:36

Se até bem pouco tempo a classe média cortava um dobrado para realizar o sonho da casa própria, agora, o objetivo passou a ser mais ambicioso: comprar o segundo imóvel. A façanha está sendo possível por causa de uma combinação nunca vista no país: crédito farto, juros em queda, prazos cada vez maiores para o pagamento, renda em alta e desemprego em baixa. ;Estamos vendo de tudo, gente comprando a casa de praia ou de campo, pais dando apartamentos de presente para os filhos, investidores apostando na valorização do mercado imobiliário;, diz o vice-presidente de Novos Negócios do Banco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli.

A estimativa entre os bancos é de que os financiamentos do segundo imóvel representem entre 10% e 20% de suas carteiras. E a tendência é de alta. ;Com a estabilidade econômica consolidada, o crescimento robusto do país e a possibilidade de se planejar a longo prazo, a compra de imóveis passou a estar presente no dia a dia das famílias;, afirma Antonio Barbosa, diretor de Crédito Imobiliário do Banco HSBC. E foi por acreditar nesse cenário que a instituição reduziu, neste início de ano, as taxas de juros de suas linhas de crédito. Para empréstimos até R$ 150 mil, as taxas caíram de 10% para 8,9% ao ano além da Taxa Referencial (TR). Nos financiamentos entre R$ 151 mil e R$ 500 mil, o recuo foi de 11% para 10,5% anuais mais a TR. Para empreendimentos acima de R$ 500 mil, os juros baixaram de 12% para 10,9% ao ano acima da TR.

;A concorrência está muito acirrada. Com as novas taxas, ficamos mais competitivos;, ressalta Barbosa. Os juros menores vieram acompanhados de maior disponibilidade de recursos. ;Ampliamos nossa oferta de R$ 600 milhões para R$ 1 bilhão;, conta. Essa estratégia, reconhece ele, decorre da necessidade dos bancos privados de serem mais agressivos para recuperar o espaço perdido para a Caixa Econômica Federal em 2009. ;Além de juros menores e mais recursos, estamos oferecendo atendimento diferenciado, assessorando os clientes no que for preciso para que eles façam o melhor negócio;, assegura.

Ano de recorde
Caso o futuro comprador do segundo imóvel comprove a capacidade de pagamento, as restrições são mínimas e estão vinculadas, principalmente, ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Por lei, o dinheiro depositado no fundo só pode ser usado na aquisição de uma única moradia. Ou seja, quem já tem casa ou apartamento em seu nome terá de se contentar, na compra do imóvel extra, com financiamento bancário ou usar recursos de alguma aplicação para quitar o negócio à vista. Alguns bancos limitam o empréstimo para o segundo empreendimento a 60% do valor da operação contra até 100% da primeira moradia. Outro dado importante: as prestações não podem comprometer mais do que 30% da renda familiar do comprador.

No mais, como bem ressalta o superintendente de Crédito Imobiliário do Bradesco, Cláudio Borges, as facilidades são grandes. Sobretudo se o imóvel for avaliado em até R$ 500 mil e o empréstimo não passar de R$ 350 mil, pois tudo pode ser feito dentro do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que tem taxas de juros menores ; 9% ao ano mais a TR, em média, contra os 12% anuais além da Taxa Referencial cobrados no sistema hipotecário para empreendimentos acima de meio milhão de reais. O SFH permite, inclusive, que se faça dois financiamentos ao mesmo tempo por uma mesma pessoa.

;Até um ano atrás, os bancos não queriam financiar casas de praia, por não considerar um bom negócio. Hoje, isso não existe mais;, ressalta Borges. Ele assegura que o Bradesco tem recursos suficientes para atender a demanda, seja ela qual for. ;Em 2009, liberamos R$ 5 bilhões;, revela. No Banco Santander, a promessa também é de recursos fartos. ;Estamos financiando até 100% do valor dos imóveis por até 30 anos, com taxas que variam entre 8,9% e 10,5% ao ano além da TR;, diz Nerian Gussoni, superintendente de Crédito Imobiliário da instituição. A seu ver, não é nenhum exagero dizer que 2010 será o ano da casa própria, com os desembolsos totais do sistema superando os R$ 78 bilhões, graças à entrada maciça da população de menor renda no mercado. ;Independentemente do interesse do comprador, se pelo primeiro ou pelo segundo imóvel, as condições de financiamento estão muito boas;, emenda Nerian.

Parâmetro

A Taxa Referencial foi criada para ser o parâmetro dos juros a serem praticados no mercado. Hoje é a responsável pela remuneração da caderneta de poupança e de operações de crédito do Sistema Financeiro da Habitação. A TR é calculada a partir de um redutor aplicado sobre o rendimento médio dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs).

Crédito farto, juro em queda e prazo amplo para pagamento levam brasileiro a escalar a compra da casa própria

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